Revista "Front" é veículo para quadrinhistas brasileiros e sua edição de número 19 fala sobre sonhos

PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Front" é uma revista atípica no mercado brasileiro de quadrinhos, a começar pelo seu nascimento: a primeira edição foi lançada como sendo a número sete. Já trazia aí o conceito de ser original. A proposta, mantida até hoje, é trazer, a cada edição, artistas criando a partir de um tema lançado pelos editores. E o recém-lançado número 19 reúne histórias e ilustrações sobre um tema bem propício a experimentos artísticos: os sonhos.
A primeira novidade é bem visível: o seu formato. Para acompanhar a idéia de sonhos, esta é a primeira edição da "Front" lançada em formato horizontal (23 por 16 centímetros), diferentemente da maioria das revistas em quadrinhos, que são verticais. São 14 histórias em quadrinhos, duas tiras, quatro contos e sete ilustrações (contando a da capa), envolvendo 24 colaboradores, todos brasileiros.
São estilos e visões diferentes que podem ir de histórias mais intimistas e líricas a narrativas voltadas ao humor, passando por pesadelos ilustrados.
A primeira HQ do livro, de autoria de Daniel Esteves e Júlio Brilha, traz a história de um padeiro e dos deliciosos sonhos que ele prepara para abordar os sonhos, realizados ou não, de pessoas comuns -os clientes da padaria e o próprio padeiro.
Outra história, "Transcurso", narra um pesadelo claustrofóbico em que o quadrinhista Paulo Barbosa aproveita o formato horizontal para ampliar o sentimento de desespero, colocando apenas um quadrinho por página.
Orlandeli, por sua vez, explora os sonhos de consumo em um conto bem-humorado. Até onde uma pessoa pode ir para se sentir "melhor", mais confortável com seu corpo?

Veículos para novos
Duas belas HQs descrevem os sonhos das personagens. "Bolo na Garganta", de João Pinheiro, traz o relato de um sonho triste, durante a noite, e o que ele provoca na protagonista no dia seguinte, enquanto ela confronta seu difícil cotidiano.
Em "Boa Noite, Cecília", Lícida Vidal aborda o sonhar imaginativo de uma criança. Sem palavras, a história é guiada por belas ilustrações, em uma narrativa solta e criativa. "Front" continua sendo um veículo para quadrinhistas novos ou nem tanto, mas que seguem com vontade de experimentar, seja no texto ou na arte. Dedicar esta edição aos sonhos foi uma boa pedida para manter a linha voltada à originalidade que a revista conserva desde seu lançamento.