São Paulo, Quinta-feira, 25 de Fevereiro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cinema brasileiro invade TV portuguesa


Canal dedicado a filmes do Brasil já tem 600 mil assinaturas no país; "Eles pensavam que era um canal de novelas e acabaram gostando", explica diretor-geral


MARCELO RUBENS PAIVA
especial para a Folha

"Nós vamos invadir suas vinhas, pá!" A assessoria de imprensa do Canal Brasil, dedicado ao cinema brasileiro, já não se espanta quando atende o telefone, e alguém pede aflito: "Precisamos da grelha!" Esse alguém é invariavelmente de Portugal.
"Grelha", em Portugal, equivale a "grade", no Brasil (lista e horários dos programas a serem exibidos). Há seis meses no ar, o Canal Brasil conseguiu 600 mil assinantes em Portugal, além dos 660 mil, no Brasil. Em números absolutos, mais de 2 milhões de portugueses têm acesso ao canal, segundo sua operadora, em Portugal.
Parceria da Globosat com o Consórcio do Cinema Brasileiro, formado pelos produtores L.C. Barreto, Zelito Vianna, Roberto Farias, Anibal Massaini, Paulo Mendonça e Marco Altberg, o Canal Brasil, do sistema Net/Sky e também transmitido por operadoras independentes, é transmitido em Portugal pela operadora TV Cabo, do grupo Telecom, que detém 97% do mercado do país.
"O sucesso em Portugal é simples de entender. Eles pensavam que era um canal de novelas e acabaram gostando dos filmes", explica seu diretor-geral, Wilson Cunha.
"Eles adoram novelas brasileiras. O cinema vai mais fundo que a TV em certos temas. Há saudosismo do momento brasileiro do passado que os portugueses desconheciam", afirma Roberto Farias, produtor de "Assalto ao Trem Pagador" e "Roberto Carlos em Ritmo de Aventura". Ao todo, o Canal Brasil tem 300 títulos e cem curtas.
"Portugal é ótimo, mas ainda não dá para sustentar o canal. Está em pauta estendê-lo para a América Latina", continua Farias. Os produtores do consórcio têm direito a participação no que o assinante paga, mas o canal ainda é deficitário, afirma ele.
Junto ao acervo dos produtores que formam o consórcio, estão oito filmes de Mazzaroppi (na fase Vera Cruz), todos os de Walter Hugo Khouri, Júlio Bressane, Hugo Carvana, Sylvio Back, 34 filmes dos Trapalhões e o acervo de Thomaz Farkas, incluindo curtas e médias em que aparecem, nos créditos, a assistência de fotografia de Lauro Escorel e roteiro de Vladimir Herzog. Atualmente, o canal promove o Festival Zé do Caixão. "Estamos negociando os filmes de Hector Babenco. Há um padrão que se repete: se vai bem no cinema, vai bem na TV", diz Cunha.
No Brasil, fazem mais sucesso os filmes mais novos, como "Os Matadores" (Beto Brant), "O Quatrilho" (Fábio Barreto) e "Carlota Joaquina" (Carla Camurati).

A "grelha"
A grade da programação do Canal Brasil estende-se ao clipe de música brasileira, muitos deles co-produzidos pela gravadora Som Livre.
O horário nobre (20h) é preenchido por programas de variedades, como "Revista do Cinema Brasileiro", produzido e dirigido por Marco Altberg, também do Consórcio, e co-produzido pela TVE. "Retratos Brasileiros", programa também do horário nobre, traça um perfil de pessoas ligadas à cultura brasileira.
"O foco é o cinema brasileiro, mas temos a pretensão de ser o canal da cultura brasileira, tendo como base o cinema, fugindo das figurinhas mais fáceis e carimbadas", afirma Cunha.
Às 21h, são exibidos no programa "Primeiros Filmes" as primeiras obras no cinema de atores e diretores brasileiros, como Beatriz Segall ("Cleo e Daniel"), Antônio Fagundes ("A Compadecida") e Ruy Guerra ("Os Fuzis").
E tem rapariga pelada? Pois, pois... Estão na programação as pornochanchadas com suas maganas, gênero hoje chamado de "comédia erótica".
O canal não tem preconceito contra bitola ou vídeo. Vão ser exibidos um documentário sobre Dib Lutfi, fotógrafo de Glauber, e documentários do GNT, como "O Velho", baseado na vida de Luís Carlos Prestes.
"A idéia é que o Canal Brasil alavanque a produção. Hoje, está muito difícil produzir. A crise se parece muito maior do que as por que já passamos", diz Farias.
Não é intenção do Canal ser 100% produtor, mas promover, ser o retroalimentador do cinema brasileiro. Em meados do ano, o Canal Brasil entra em co-produções.
"Há quanto tempo essa crise maldita está aí? O dinheiro está sumindo para todo mundo. Mas o audiovisual é uma das maiores indústrias e não é poluente. Um dia, alguém, no Brasil, vai perceber isso e profissionalizar a indústria", profetiza Cunha.


Texto Anterior: Filmes e TV Paga
Próximo Texto: "Torcemos por Montenegro"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.