São Paulo, Quinta-feira, 25 de Fevereiro de 1999
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RELÂMPAGOS
Melodia

JOÃO GILBERTO NOLL

Naquele parque pensei que, pelos próximos meses, eu não seria assaltado por nenhum apocalipse, alguma doença acachapante, sei lá. O certo é que se avolumava a convicção de que eu adquirira, com algum fosco mérito, uma espécie de habeas corpus a me isolar temporariamente das desgraças. Então me sentei na grama, no escuro, entre ramagens, e comecei a cantar uma canção que nunca ouvira antes. A canção não falava. Só modulações, como se ali minha voz cansada não precisasse transportar artérias que levassem para fora da melodia. A respiração vertia-se em músicas. Não somatizava o que só o silêncio acolhia.


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