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RELÂMPAGOS
Melodia
JOÃO GILBERTO NOLL
Naquele parque pensei
que, pelos próximos meses,
eu não seria assaltado por
nenhum apocalipse, alguma
doença acachapante, sei lá.
O certo é que se avolumava
a convicção de que eu adquirira, com algum fosco
mérito, uma espécie de habeas corpus a me isolar temporariamente das desgraças. Então me sentei na grama, no escuro, entre ramagens, e comecei a cantar
uma canção que nunca ouvira antes. A canção não falava. Só modulações, como
se ali minha voz cansada
não precisasse transportar
artérias que levassem para
fora da melodia. A respiração vertia-se em músicas.
Não somatizava o que só o
silêncio acolhia.
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