São Paulo, Quinta-feira, 25 de Fevereiro de 1999
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DISCO - LANÇAMENTOS
Cardigans lançam o disco que comprariam

MARCELO NEGROMONTE

da Redação


Uma vozinha sexy e um pouco fanhosa atende ao telefone. "Yes?". A vocalista dos Cardigans, Nina Persson, 24, estava prestes a subir no palco, anteontem, em San Diego (EUA), para o último show da turnê norte-americana do quarto álbum da banda, "Gran Turismo".
Disco este que chega ao Brasil e traz algumas mudanças em relação aos anteriores. "A grande diferença é que estamos utilizando equipamentos eletrônicos", diz Nina, um pouco gripada. A música continua sombria, mas menos retrô.
Com as canções "Carnival" e principalmente "Lovefool", os Cardigans levaram baladas e roquinhos "para cima" às paradas mundiais nesta década. Mas, paradoxalmente, tudo muito sério.
"Algumas pessoas acham que nossa música sempre foi alegrinha e dançante. Nós sempre fomos muito sérios em relação às músicas. "First Band on the Moon" (96) é um disco sombrio em geral. Já "Gran Turismo" é o nosso primeiro álbum que todos os integrantes da banda comprariam", disse Nina. "Isso seria um reflexo do que estamos ouvindo, como Neil Young, Sparklehorses, Bob Dylan, Smog, músicos que tratam a música com seriedade". "Não acho que haja uma linha coerente entre "Gran Turismo" e os álbuns anteriores."
Talvez por não haver cover do Black Sabbath, banda de heavy metal idolatrada pelos integrantes suecos de sobrenomes que terminam em "sson".
"Na verdade, fazemos covers nos álbuns ímpares. A primeira foi "Sabbath Black Sabbath", lançada em "Emmerdale" (94), que está na versão norte-americana de "Life" (95), segundo álbum, que foi lançado na Suécia com outras músicas e sem essa cover. No terceiro disco, "First Band on the Moon" incluímos outra do Sabbath, "Iron Man". Achamos que não havia espaço para covers em "Gran Turismo'", disse Nina de um quarto de hotel.
O primeiro single de "Gran Turismo" -nome de um videogame que a banda aprecia- foi "My Favourite Game", cujo clipe foi dirigido por Jonas Akerlund, o mesmo de "Ray of Light", de Madonna, e "Smack My Bitch Up", do Prodigy. Portanto, polêmico.
No clipe -uma versão automobilística do vídeo de "Bitter Sweet Symphony", do Verve- Nina, com cabelos ao vento num conversível, passeia numa estrada desviando e batendo em outros carros, provocando acidentes cinematográficos. Oh, sim, ela morre no final de modo tragicômico.
Além de Nina, Lars-Olof Johansson (teclados, violão), Magnus Sveningsson (baixo), Peter Svensson (guitarra) e Bengt Lagerberg (bateria) completam a banda de um país, cujo único nome a ter sobressaído no cenário rock/pop mundial foi o Abba.
Mas Nina discorda que os Cardigans sejam os suecos mais importantes que o Abba no cenário pop. "Eles eram uma máquina de fazer hits e não tocavam ao vivo porque não gostavam. Nós adoramos fazer turnês e somos uma banda de rock, mas não vendemos milhões como o Abba", afirmou Nina, com modéstia encantadora.
Eurodance e metal são duas vertentes pop bastante populares no país nórdico, lugar onde os Cardigans parecem ser a exceção do rock sonhador da música pop oriunda de lá.
"Havia muitas bandas de heavy metal na Suécia na época do glam (meados dos anos 70). Hoje há menos heavy e mais death metal, que é algo mais pesado do que o mais pesado que existe. Menos pelo peso e mais pela falta de sentido desse tipo de música que eu não consigo ouvir. Mas adoro Black Sabbath, AC/DC, Motorhead, Led Zeppelin", disse Nina, que não gosta de Sepultura e Pantera, por exemplo.
Segundo ela, a Suécia possui um vasto espectro de bandas de pop music -"encontra-se o que quiser lá"-, mas que pouquíssimas são conhecidas por não serem "exportadas", como os Cardigans. Nina pessoalmente aposta na banda Kent, que abriu a turnê norte-americana do grupo. "E é uma boa banda de rock que deve explodir."
Ao Brasil os Cardigans não têm planos para vir. "Adoraria conhecer o Brasil, mas é muito difícil tocar aí. Se não puder ir com a banda, pretendo visitá-lo sozinha", ameaça Nina.
Hoje a banda está na Europa e toca dia 5 no Japão, primeiro país em que a banda ficou conhecida fora da Suécia. Seria a música retrô? "Não tenho a menor idéia por que somos tão populares lá. Os japoneses são bem louquinhos. Quando eles gostam de alguma coisa, eles amam de verdade. É um pouco irreal, mas eu gosto." Nina é mesmo irresistivelmente sedutora.


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