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Joan Jett é mais uma musa da adolescência solitária
MARCELO REZENDE
da Reportagem Local
Ouvir uma canção, gritos e revolta juvenil da guitarrista Joan
Jett 17 anos depois de seu aparecimento parece um caso de necrofilia, e não de saudosismo, se entendermos essa atração como um caso fatal de morbidez mais do que
qualquer melancolia da perda.
Joan -um nome encontrável
em qualquer enciclopédia que pretenda contar a história do pop pela
ótica feminista- sai agora do território da memória com o relançamento, no mercado europeu, de
cinco de seus trabalhos.
Do primeiro álbum ``Bad Reputation'' (80) a ``Notorious'' (91),
passando por ``I Love
Rock-n-Roll'' (81), ``Glorious Results of a Misspent Youth'' (84) ou
``The Hit List'' (90), um disco de
covers, todos os trabalhos passaram por tratamento digital, ganharam canções-bônus e uma
``porção multimídia''.
O último item significa que os
discos contém clipes que podem
ser vistos em computador, à maneira de um CD-ROM.
Isso, para os fãs de Joan, é um
apelo quase irresistível. Ainda que
ela mesma detestasse a idéia, foi
em sua beleza -próxima da violência, e não da ternura- que seu
marketing se apoiou.
Uma das sobreviventes da banda
Runaways, uma impressiva banda
de garotas que conseguiu mais admiradores do que propriamente
um público, no final dos anos 70,
Joan foi apadrinhada pelos restos
do punk britânico.
O guitarrista Steve Jones e o baterista Paul Cook, dos Sex Pistols,
foram convencidos a entrar nos
estúdios como produtores de seu
primeiro disco. ``Bad Reputation''
cumpriu o papel de carta de intenções. O mundo saberia agora do
desejo de Joan de transformar revolta em melodias assimiláveis.
Em ``Bad'' já há tudo de Joan:
objetos e temas que arrastaria pelos anos seguintes. Há a oscilação
entre a canção fácil, consumível, e
a vontade de fazer para a década de
80 o mesmo que os punks realizaram na anterior: causar comoção.
Conseguiu com ``I Love
Rock-n-Roll'', que vendeu 10 milhões de cópias. Adolescentes a
amavam e a crítica não se convencia. Mas Joan, como moda, durou
pouco. Rapidamente a magia se
extinguiu.
Depois do sucesso repentino,
passou todo o tempo tentando repetir o mesmo acontecimento fantástico. Jamais conseguiu. Joan Jett
é hoje -e os relançamentos provam isso- apenas mais uma musa
da adolescência solitária.
Discos: Bad Reputation, Notorious, I Love
Rock-n-Roll, Glorious Results of a Misspent
Youth e The Hit List
Artista: Joan Jett
Lançamento: Sony (importados)
Quanto: R$ 30, cada CD
Onde encontrar: London Calling (tel.
011/223-5300)
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