São Paulo, terça, 25 de março de 1997.

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Joan Jett é mais uma musa da adolescência solitária


MARCELO REZENDE
da Reportagem Local

Ouvir uma canção, gritos e revolta juvenil da guitarrista Joan Jett 17 anos depois de seu aparecimento parece um caso de necrofilia, e não de saudosismo, se entendermos essa atração como um caso fatal de morbidez mais do que qualquer melancolia da perda.
Joan -um nome encontrável em qualquer enciclopédia que pretenda contar a história do pop pela ótica feminista- sai agora do território da memória com o relançamento, no mercado europeu, de cinco de seus trabalhos.
Do primeiro álbum ``Bad Reputation'' (80) a ``Notorious'' (91), passando por ``I Love Rock-n-Roll'' (81), ``Glorious Results of a Misspent Youth'' (84) ou ``The Hit List'' (90), um disco de covers, todos os trabalhos passaram por tratamento digital, ganharam canções-bônus e uma ``porção multimídia''.
O último item significa que os discos contém clipes que podem ser vistos em computador, à maneira de um CD-ROM.
Isso, para os fãs de Joan, é um apelo quase irresistível. Ainda que ela mesma detestasse a idéia, foi em sua beleza -próxima da violência, e não da ternura- que seu marketing se apoiou.
Uma das sobreviventes da banda Runaways, uma impressiva banda de garotas que conseguiu mais admiradores do que propriamente um público, no final dos anos 70, Joan foi apadrinhada pelos restos do punk britânico.
O guitarrista Steve Jones e o baterista Paul Cook, dos Sex Pistols, foram convencidos a entrar nos estúdios como produtores de seu primeiro disco. ``Bad Reputation'' cumpriu o papel de carta de intenções. O mundo saberia agora do desejo de Joan de transformar revolta em melodias assimiláveis.
Em ``Bad'' já há tudo de Joan: objetos e temas que arrastaria pelos anos seguintes. Há a oscilação entre a canção fácil, consumível, e a vontade de fazer para a década de 80 o mesmo que os punks realizaram na anterior: causar comoção.
Conseguiu com ``I Love Rock-n-Roll'', que vendeu 10 milhões de cópias. Adolescentes a amavam e a crítica não se convencia. Mas Joan, como moda, durou pouco. Rapidamente a magia se extinguiu.
Depois do sucesso repentino, passou todo o tempo tentando repetir o mesmo acontecimento fantástico. Jamais conseguiu. Joan Jett é hoje -e os relançamentos provam isso- apenas mais uma musa da adolescência solitária.

Discos: Bad Reputation, Notorious, I Love Rock-n-Roll, Glorious Results of a Misspent Youth e The Hit List Artista: Joan Jett Lançamento: Sony (importados) Quanto: R$ 30, cada CD Onde encontrar: London Calling (tel. 011/223-5300)
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