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DISCOS LANÇAMENTOS
Disco solo de Karen Carpenter é exumado 18 anos depois
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Redação
Mais um episódio da série "tesouros da juventude": 18 anos
atrasada, a PolyGram tira do baú
um disco que Karen Carpenter
(1950-1983), uma das metades do
duo Carpenters, gravou sozinha e
-por razões até hoje não explicadas- desistiu de lançar.
Com um montante de cerca de 90
milhões de discos vendidos desde
seu surgimento, em 1968, a dupla
norte-americana foi, nos anos 70,
um dos pilares pop do mercado fonográfico -mais em termos de
popularidade que de prestígio.
Praticando música francamente
cafona, de inflexões às vezes grandiloquentes, quase sempre tristonhas e sempre melosas, Karen e
seu irmão Richard ganharam o
mundo nos anos 70, tendo rivais
de peso apenas em Elton John,
Paul McCartney e Bee Gees.
Fizeram dezenas de top hits, entre criações próprias ("Only Yesterday", "Top of the World") e
reinterpretações pessoais -cafonas, portanto- de Beatles
("Help", "Ticket to Ride"), Tim
Hardin ("Reason to Believe"),
Carole King ("It's Going to Take
Some Time"), Neil Sedaka ("Solitaire", "Breaking Up Is Hard to
Do"), Henry Mancini ("Sometimes") e Burt Bacharach ("Close
to You", "I'll Never Fall in Love
Again"). A crítica odiava.
Qual seria então o interesse de
exumar "Karen Carpenter", disco solo solitário na carreira da cantora e baterista que morreu aos 32,
de ataque cardíaco decorrente de
anorexia nervosa (doença que
provoca rejeição de alimentos)?
Há várias explicações possíveis
-e complementares. Nos 90, em
pique de revalorização do relicário
kitsch do pop, os Carpenters viraram sensação.
Gente talentosa como Sonic
Youth, Beck, Cibo Matto, Pizzicato Five, Shonen Knife, Cardigans,
Luna, Yo La Tengo, Stereolab,
Pulp, Johnette Napolitano, Grant
Lee Buffalo e outros tantos rendem
tributo -direto ou indireto- aos
fazedores de melô que infestaram
as rádios de duas décadas atrás.
Sonic Youth, por exemplo, compôs, para o disco "Goo" (90),
"Tunic (Song for Karen)", um
tributo emocionado, grave e depressivo a Carpenter.
Transformou, também, "Superstar" (71) numa das mais belas
e intensas baladas dos 90, no tributo "If I Were a Carpenter" (PolyGram, 94, lançado no Brasil), de
que participam, também, Cracker,
Bettie Serveert, Sheryl Crow e os
Cranberries da neo-anoréxica Dolores O'Riordan, entre outros.
Tais evidências dão a pista para
outra constatação: a cafonália de
sucessos como "Rainy Days and
Mondays" e "Sing" são, nestes
90, muito contemporâneas. Não
deixa de ser como imaginar que
em 20 anos Fábio Jr. venha a ser
considerado genial, mas o cimento
dos anos revelou o viço escondido
das canções dos Carpenters.
Enfim, há a justificativa em si para a existência, em 97, de "Karen
Carpenter": o CD promete a revelação de outra faceta da cantora.
As 12 canções -algumas das quais
o irmão espertinho já lançara no
álbum póstumo "Lovelines"
(89), como se fossem da dupla-
oscilam entre soul,
rhythm'n'blues e a
mais deslavada
discotèque, sempre em clave de
black music.
É um belo paradoxo: a magrela/branquela, em
voz mais Tina
Charles que Donna
Summer, comete
peças de puro
rhythm'n'blues
("Lovelines" e "If I Had You") e
baladas emocionantes ("Making
Love in the Afternoon").
E há, mesmo, os momentos disco music, com ápice em "My
Body Keeps Changing My Mind"
(Meu Corpo Continua Modificando Minha Mente), que traz a esquisitice meio macabra de fazer a moça recatada pregar a mudança da
mente pelo movimento do corpo.
No mais, o disco escondido é
Carpenters tradicional, em jazzinhos de elevador ("Guess I Just
Lost My Head"), melancolia
("Make Believe It's Your First Time") e cover de Paul Simon
("Still Crazy After All These
Years"); ou seja, cafonice. A PolyGram -que no Brasil não conserva nenhum outro título da dupla
em catálogo- só podia ter economizado a medonhice da capa.
Disco: Karen Carpenter
Lançamento: PolyGram
Quanto: R$ 18, em média
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