São Paulo, sábado, 25 de março de 2000


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PALESTRAS
Seminário debate imagem como violência

da Redação

Fugindo da análise da origem da violência como decorrente de um quadro socieconômico inevitável, o seminário internacional Imagem e Violência, que acontece de 28 a 31 de março no Sesc Vila Mariana, procura abordar o assunto de forma diferente.
"Diferente e corajosa", como diz Norval Baitello Junior, professor da PUC-SP e curador do evento. A hipótese de que se parte é a de que a violência existe em nossa sociedade graças à "pressão por visibilidade", isto é, devido à imagem. Qualquer tipo de imagem. Uma idéia que, segundo Baitello, não há ninguém estudando.
Para discutir essa idéia, o seminário contará com conferencistas internacionais como Jean Baudrillard, Jacques Poulain, Dietmar Kamper, Gerburg Treusch-Dieter e Valerji Savchuk, entre os europeus, e o japonês Ryuta Imafuku. Entre os brasileiros estão Norval Baitello, Drauzio Varella, Edgard de Assis Carvalho e Ciro Marcondes. Expoentes das ciências da comunicação, filosofia e da mídia.
Além das palestras, o assunto será abordado em exposições de artes plásticas e apresentações de dança (veja quadro nesta página).
A idéia do seminário nasceu em São Paulo em 1997, quando Dietmer Kamper esteve na PUC-SP como professor visitante. Daí, em 1999, um miniseminário foi realizado em Berlim, uma primeira rodada de discussões que alcançam seu clímax agora em São Paulo, cidade que é considerada um verdadeiro balão-de-ensaio para novas formas de entender o urbano.

Civilização
O conceito de civilização sempre esteve acompanhado da idéia de diminuição da violência, no entanto o que se observa é o contrário.
Nesse contexto, as imagens ganham uma importância fundamental na construção mesmo da violência.
Norval Baitello, que discorrerá sobre o tema "As Imagens Que nos Devoram", enxerga três situações: as imagens que devoram as imagens, as imagens que devoram as pessoas e as pessoas que devoram as imagens.
O primeiro caso, mais comum na sociedade urbana pós-moderna, envolve mesmo a forma de comunicação publicitária. Quando uma imagem bíblica, por exemplo, é utilizada em um anúncio de eletrodoméstico, assistimos à devoração da imagem pela imagem. E que serve para qualquer manifestação artística que se utiliza desse artifício.
No entanto a ousadia do raciocínio está mesmo nas duas últimas situações.
Como explica Baitello, as pessoas hoje vão contra suas próprias características fisiológicas quando pretendem ser uma imagem. Em outras palavras, transformam o corpo em uma imagem. Nesse grupo, está até a transexualidade.
Mas as pessoas podem devorar as imagens. É o que ocorre quando deixam de se alimentar com estímulos importantes ao seu desenvolvimento e acabam se alimentando de símbolos.
Esse tipo de projeção de imagens no imaginário pode resultar em quadros clínicos, como a anorexia, por exemplo.
Segundo o professor, a única explicação para que o assunto violência não tenha sido abordado desse ângulo ainda foi a rapidez com que apareceu.
"A última metade do século viu um crescimento inflacionário das imagens que só foi notado agora", diz.
A própria mídia, produtora de imagens, acaba, nesse contexto, tonando-se vítima de seus produtos. A "pressão por visibilidade" obriga a mídia a veicular a violência a qualquer custo, uma vez que há um mercado e, logo, gera receita para as empresas.
Nesse caso, a imagem acaba se transformando em violência ela própria, ao contrário do que se pensava: que com a veiculação da violência ela diminuiria.
Muitas dessas idéias e muitas outras que serão defendidas ao longo do seminário ainda não foram publicadas.

Outras artes
Além da palavra, que será utilizada nas conferências, a discussão ganha forma plástica nas obras de artistas contemporâneos como Caíto, Christiane Liu, Coca Rodrigues Coelho, Maria Villares, Midori Hatanaka, Neuza Petti e Rubens Matuck.
E tem forma performática em três espetáculos de dança, de Helena Bastos, Vera Sala e Gaby Imparato.
Para Baitello, "o pensamento precisa ser materializado em três dimensões".


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