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CRÍTICA
Montagens honram o slogan "intenso como a vida"
SERGIO SALVIA COELHO
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
Intensa e delicada como uma
paixão que já começa trêmula
em pensar que um dia deverá terminar é "Coisas Invisíveis", da
Cia. Clara, de Belo Horizonte.
Em um palco nu, Ana Vida, Henrique Meirelles (que em 2003
já tinham vindo a Curitiba com
um "Vereda da Salvação" marcante), Grace Passô e Gustavo Bones compartilham com a platéia
trama de pequenas epifanias.
Otto, paixão de duas pessoas da
turma, morre atropelado: seus
amigos devem continuar a viver
normalmente, "como uma homenagem", mas revendo suas vidas.
O texto de Gustavo Naves Franco
tem uma poesia de palavras cotidianas, com um tom confessional
que os atores, guiados com suavidade e precisão por Anderson
Aníbal, sabem tingir de silêncio e
intensidade, evitando o piegas.
Na outra ponta desse espectro
solar está o monólogo "Licurgo
- Olhos de Cão", do paulistano
Celso Alves Cruz. É o mesmo despojamento de um cenário mínimo tornado mágico por luz precisa, mas a poesia de Cruz, que ultrapassa o cotidiano com uma
tragédia de excessos que se apropria do trash sem cair no mau
gosto, pede ator mais maduro.
Marcos Suchara faz um professor que encarna a loucura de Licurgo, o legislador grego condenado a matar o filho por ter menosprezado Dioníso. Impressiona ver como Suchara deixa a dor
interna o devorar aos poucos, expondo o fato consumado que se
percebe cada vez mais terrível,
sem perder a verossimilhança.
Da dor cotidiana ao excesso trágico, tendo o teatro por instrumento, e honrando o slogan "intenso como a vida" deste 13º festival, ambas as montagens tornam
visível a luta cotidiana por preencher a solidão do mundo. Dioníso, e o público, agradecem.
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