|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Disco inferno
Dupla britânica Basement Jaxx vem ao Brasil para apresentar suas misturas eletrônicas
LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA
Se a música eletrônica padece
no purgatório das idéias, não culpe a dupla inglesa Basement Jaxx.
Apontados como o grande farol
hoje da dance music, para onde
quer que a dance music esteja indo, os Jaxx ganham destaque por
promover um pandemônio na cena musical ao explorar as possibilidades infinitas da eletrônica.
A importância do que sai dos
pick-ups do duo Simon Ratcliffe e
Felix Burton para a música jovem
hoje pode ser medida por fatos e
palavras.
A dupla é a atração principal do
Skol Beats, abastado festival eletrônico que acontece no dia 24 de
abril em São Paulo. Encerrou na
semana passada uma badalada
turnê inglesa com duas noites no
Brixton Academy, clube-teatro de
Londres. Tocou no Big Day Out, o
maior festival australiano, e foi o
primeiro nome anunciado para o
próximo Glastonbury, megaevento musical do verão britânico.
E, de São Paulo, no final de abril,
cai direto no Coachella 2004, o
maior festival americano desde o
Lollapalooza.
Em conversa com a Folha,
quando esteve recentemente no
Brasil, o DJ superstar Norman
Cook (Fatboy Slim) disse que a
música eletrônica está parada, esperando alguma coisa acontecer.
"E, se é que algo vai acontecer logo", continuou Cook, "desconfio
que isso vai ter alguma coisa a ver
com o Basement Jaxx. A cena precisa pôr os olhos neles".
Crítica x público
O Basement Jaxx lançou seu terceiro disco, "Kish Kash", no final
do ano passado. A ovação crítica
ao CD e a presença obrigatória
nos principais eventos de música
do planeta não garantiram ao sucessor do explosivo "Rooty"
(2001) um resultado bom nas vendagens. Lançado em outubro na
Inglaterra, o disco atravessou o
Natal sem vender nem 70 mil cópias. Número irrisório para uma
dupla com o portfólio de hits para
pistas que carrega o Basement
Jaxx.
"É o preço que pagamos por experimentar tanto", afirmou, em
entrevista por telefone, de Londres, o DJ Simon Ratcliffe, a metade menos convencional dos Jaxx
(ele é um DJ que toca guitarra nos
shows!). No entanto, Ratcliffe
lembra que houve um certo gás
nas vendas recentemente, depois
de a dupla vencer o Brit Awards (o
Grammy inglês) deste ano como
"Best British Dance Act".
Se experimentar e explorar as
tais possibilidades infinitas da
música eletrônica são sinais de
vanguarda, o Basement Jaxx puxa
o lema do "misturar é o que importa", cartilha moderna seguida
ainda pelos (atenção para as nomenclaturas) rappers-eletrônicos
The Streets e Dizzee Rascal e pela
dupla electropunk Audio Bullys.
Na era dos superstars DJs, em
1999, quando Fatboy Slim (lembra "Rockafeller Skank"?) e Chemical Brothers (lembra "Hey Boy
Hey Girl"?) eram os reis das pistas, o Basement Jaxx fazia sua estréia com o álbum "Remedy". A
área de atuação da dupla era a
house, atualização envenenada da
disco music deste século, mas o
coquetel era o diferencial. Tinha
uma mistura ácida de hip hop,
funk, punk, garage, reggae e barulhos orientais.
Foi assim com o segundo disco,
"Rooty" (2001), que despejou nos
clubes um caminhão de hits como
"Where's Your Head at", "Romeo", "Get me Off".
E é assim com este último, "Kish
Kash", que inclui soul, tem vocal
convidado de uma boy-band (JC
Chasez, do N'Sync) e desencava
das trevas punk a veterana Siouxsie Sioux. Nessa, a house já está totalmente rasgada, dizimada.
"Nossa idéia é puxarmos a house até seu limite, ver o quanto ela
agüenta. Somos experimentalistas, sim. Nosso laboratório é o
computador. O som que fazemos
já pode ser catalogado com um
novo nome. Estão todos confusos, até nós mesmos. Chamam a
gente de punk garage. Sou um DJ
punk, imagine", acha graça Ratcliffe, mas que nos shows do Basement Jaxx divide sua performance nos pick-ups e na guitarra. É o
próprio DJ punk, imagine.
Texto Anterior: Contardo Calligaris: Admiráveis mulheres Próximo Texto: "O desafio é encontrar a mistura perfeita" Índice
|