São Paulo, quinta-feira, 25 de março de 2004

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Disco inferno

Dupla britânica Basement Jaxx vem ao Brasil para apresentar suas misturas eletrônicas

LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA

Se a música eletrônica padece no purgatório das idéias, não culpe a dupla inglesa Basement Jaxx. Apontados como o grande farol hoje da dance music, para onde quer que a dance music esteja indo, os Jaxx ganham destaque por promover um pandemônio na cena musical ao explorar as possibilidades infinitas da eletrônica.
A importância do que sai dos pick-ups do duo Simon Ratcliffe e Felix Burton para a música jovem hoje pode ser medida por fatos e palavras.
A dupla é a atração principal do Skol Beats, abastado festival eletrônico que acontece no dia 24 de abril em São Paulo. Encerrou na semana passada uma badalada turnê inglesa com duas noites no Brixton Academy, clube-teatro de Londres. Tocou no Big Day Out, o maior festival australiano, e foi o primeiro nome anunciado para o próximo Glastonbury, megaevento musical do verão britânico. E, de São Paulo, no final de abril, cai direto no Coachella 2004, o maior festival americano desde o Lollapalooza.
Em conversa com a Folha, quando esteve recentemente no Brasil, o DJ superstar Norman Cook (Fatboy Slim) disse que a música eletrônica está parada, esperando alguma coisa acontecer. "E, se é que algo vai acontecer logo", continuou Cook, "desconfio que isso vai ter alguma coisa a ver com o Basement Jaxx. A cena precisa pôr os olhos neles".

Crítica x público
O Basement Jaxx lançou seu terceiro disco, "Kish Kash", no final do ano passado. A ovação crítica ao CD e a presença obrigatória nos principais eventos de música do planeta não garantiram ao sucessor do explosivo "Rooty" (2001) um resultado bom nas vendagens. Lançado em outubro na Inglaterra, o disco atravessou o Natal sem vender nem 70 mil cópias. Número irrisório para uma dupla com o portfólio de hits para pistas que carrega o Basement Jaxx.
"É o preço que pagamos por experimentar tanto", afirmou, em entrevista por telefone, de Londres, o DJ Simon Ratcliffe, a metade menos convencional dos Jaxx (ele é um DJ que toca guitarra nos shows!). No entanto, Ratcliffe lembra que houve um certo gás nas vendas recentemente, depois de a dupla vencer o Brit Awards (o Grammy inglês) deste ano como "Best British Dance Act".
Se experimentar e explorar as tais possibilidades infinitas da música eletrônica são sinais de vanguarda, o Basement Jaxx puxa o lema do "misturar é o que importa", cartilha moderna seguida ainda pelos (atenção para as nomenclaturas) rappers-eletrônicos The Streets e Dizzee Rascal e pela dupla electropunk Audio Bullys.
Na era dos superstars DJs, em 1999, quando Fatboy Slim (lembra "Rockafeller Skank"?) e Chemical Brothers (lembra "Hey Boy Hey Girl"?) eram os reis das pistas, o Basement Jaxx fazia sua estréia com o álbum "Remedy". A área de atuação da dupla era a house, atualização envenenada da disco music deste século, mas o coquetel era o diferencial. Tinha uma mistura ácida de hip hop, funk, punk, garage, reggae e barulhos orientais.
Foi assim com o segundo disco, "Rooty" (2001), que despejou nos clubes um caminhão de hits como "Where's Your Head at", "Romeo", "Get me Off".
E é assim com este último, "Kish Kash", que inclui soul, tem vocal convidado de uma boy-band (JC Chasez, do N'Sync) e desencava das trevas punk a veterana Siouxsie Sioux. Nessa, a house já está totalmente rasgada, dizimada.
"Nossa idéia é puxarmos a house até seu limite, ver o quanto ela agüenta. Somos experimentalistas, sim. Nosso laboratório é o computador. O som que fazemos já pode ser catalogado com um novo nome. Estão todos confusos, até nós mesmos. Chamam a gente de punk garage. Sou um DJ punk, imagine", acha graça Ratcliffe, mas que nos shows do Basement Jaxx divide sua performance nos pick-ups e na guitarra. É o próprio DJ punk, imagine.


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