São Paulo, domingo, 25 de março de 2007

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BIA ABRAMO

Novelas remexem caldeirão requentado


Onde estão as histórias brasileiras a serem contadas? Os autores deveriam responder

A TV quer, de fato, contar histórias? Ou apenas criar intervalos de entretenimento que passem mais ou menos rapidamente para poder vender publicidade? Um pouco de ingenuidade, de vez em quando, pode nos conduzir a algumas provocações interessantes.
Uma maneira de olhar o grosso da produção ficcional da TV pode derivar dessa segunda hipótese: as emissoras produzem telenovelas pensando exclusivamente nas estratégias para atrair audiência -e não por alguma intenção de constituir algum tipo de narrativa que seja atraente e, portanto, seja capaz de manter os televisores ligados. Pode-se argumentar que essa narrativa hipotética deva conter as estratégias, em menor ou maior grau ou que as estratégias venham encapsuladas em ambientes narrativos interessantes. Já foi assim, parece que não é mais.
Vejamos "Bicho do Mato", que terminou, e "Luz do Sol", que começou, ambas no horário das 20h30 da Record. A emissora vive uma euforia de bons índices e, portanto, qualquer análise de suas produções tem que passar por isso. Então, temos que a idéia para o horário é oferecer uma espécie de novela das sete justamente no horário em que na concorrência começa o telejornal e, em seguida, novela das oito.
A aposta, clara, prevê que uma parte razoável da audiência não quer ver o jornal e ainda tem fôlego para uma atração mais leve e descompromissada. A este caldo básico a Record adicionou mais de ação e um tantinho de violência, acreditando (acertadamente, ao que parece) que um certo grau de pancadaria também se inscreve na categoria do entretenimento leve e está pronto.
Se a Record está empenhada em algo além do que "alcançar a Globo em três anos", como criar narrativas que sejam novas, arejadas, mais próximas do Brasil contemporâneo real, não vai fazê-lo com "Bicho do Mato" e nem com "Luz do Sol".
A que acabou e a que começa não procuram histórias onde elas existem, mas num caldeirão que requenta clichês, equívocos e caricaturas. Onde estão as histórias brasileiras a serem contadas? Responder a essa pergunta seria a tarefa número um dos autores, caso o projeto de contá-las estivesse valendo.
 
Até agora, Camila Pitanga é o destaque absoluto de "Paraíso Tropical".
Sua Bebel ao mesmo tempo venal e frágil, provinciana, deslumbrada e esperta, é dos melhores papéis femininos dos últimos tempos. Chico Diaz, o calhorda a soldo do milionário, também ajuda -e muito. As cenas dos dois têm sido explosivas.

biaabramo.tv@uol.com.br


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