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BIA ABRAMO
Novelas remexem caldeirão requentado
Onde estão as histórias
brasileiras a serem
contadas? Os autores
deveriam responder
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A TV quer, de fato, contar histórias? Ou apenas criar intervalos de entretenimento que
passem mais ou menos rapidamente
para poder vender publicidade? Um
pouco de ingenuidade, de vez em
quando, pode nos conduzir a algumas provocações interessantes.
Uma maneira de olhar o grosso da
produção ficcional da TV pode derivar dessa segunda hipótese: as emissoras produzem telenovelas pensando exclusivamente nas estratégias para atrair audiência -e não por
alguma intenção de constituir algum
tipo de narrativa que seja atraente e,
portanto, seja capaz de manter os televisores ligados. Pode-se argumentar que essa narrativa hipotética deva conter as estratégias, em menor
ou maior grau ou que as estratégias
venham encapsuladas em ambientes narrativos interessantes. Já foi
assim, parece que não é mais.
Vejamos "Bicho do Mato", que terminou, e "Luz do Sol", que começou,
ambas no horário das 20h30 da Record. A emissora vive uma euforia de
bons índices e, portanto, qualquer
análise de suas produções tem que
passar por isso. Então, temos que a
idéia para o horário é oferecer uma
espécie de novela das sete justamente no horário em que na concorrência começa o telejornal e, em seguida, novela das oito.
A aposta, clara, prevê que uma
parte razoável da audiência não quer
ver o jornal e ainda tem fôlego para
uma atração mais leve e descompromissada. A este caldo básico a Record adicionou mais de ação e um
tantinho de violência, acreditando
(acertadamente, ao que parece) que
um certo grau de pancadaria também se inscreve na categoria do entretenimento leve e está pronto.
Se a Record está empenhada em
algo além do que "alcançar a Globo
em três anos", como criar narrativas
que sejam novas, arejadas, mais próximas do Brasil contemporâneo
real, não vai fazê-lo com "Bicho do
Mato" e nem com "Luz do Sol".
A que acabou e a que começa não
procuram histórias onde elas existem, mas num caldeirão que requenta clichês, equívocos e caricaturas.
Onde estão as histórias brasileiras a
serem contadas? Responder a essa
pergunta seria a tarefa número um
dos autores, caso o projeto de contá-las estivesse valendo.
Até agora, Camila Pitanga é o destaque absoluto de "Paraíso Tropical".
Sua Bebel ao mesmo tempo venal e
frágil, provinciana, deslumbrada e
esperta, é dos melhores papéis femininos dos últimos tempos. Chico
Diaz, o calhorda a soldo do milionário, também ajuda -e muito. As cenas dos dois têm sido explosivas.
biaabramo.tv@uol.com.br
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