São Paulo, quarta, 25 de março de 1998

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"Maligno Baal" leva Brecht para a rua

LEONARDO CRUZ
da Redação

Algumas das principais avenidas de São Paulo têm, durante a noite, iluminação especial sobre a faixa de pedestres, para que os motoristas vejam claramente quem atravessa a rua.
É sobre uma faixa de pedestres, adaptada para o palco curitibano do teatro da Reitoria, que a Companhia Razões Inversas apresenta hoje o seu "Maligno Baal, o Associal", espetáculo baseado em 27 fragmentos do dramaturgo alemão Bertolt Brecht.
Para o diretor Marcio Aurelio, "o texto de Brecht faz uma análise das relações sociais, e a rua é o espaço mais complexo que existe para mostrar essas relações".
Os fragmentos deste "Maligno Baal", traduzidos para o português por Ingrid Koudela, foram escritos por Brecht entre 1930 e 1954, período em que o dramaturgo decidiu retomar o personagem por ele criado para "Baal", sua primeira peça, escrita entre 1918 e 1919.
Nas 27 cenas que compõem o espetáculo, Baal é interpretado alternadamente por sete atores. O elenco caminha pela faixa de segurança sendo observado pelo público, que fica posicionado dos dois lados do palco.
"A platéia está tanto à esquerda quanto à direita da passarela, o palco vira quase um teatro de arena", diz o diretor.
Segundo Marcio Aurelio, essa estrutura, montada originalmente para suportar 80 pessoas, tenta criar uma relação de proximidade e cumplicidade entre atores e espectadores.
Questionado se o espetáculo não ficaria melhor se fosse encenado em uma rua de verdade, ele diz que, para que isso fosse possível, a peça precisaria ter uma outra dimensão.
"Fiz "Maligno Baal' para um local fechado. Na rua, tudo teria de ser diferente, desde a preparação dos atores até a escolha da trilha sonora."
A montagem é dividida em dois grandes blocos, que para o diretor, representam duas fases distintas da carreira de Brecht. "Na primeira parte, Baal vê o mundo sob a ótica capitalista. Na segunda, seu mundo já gira em torno da visão socialista de Estado", diz Aurelio.
"Maligno Baal, o Associal" deve entrar em cartaz em São Paulo no começo do segundo semestre. O local da temporada paulistana ainda não está definido. "Estamos procurando um local em que seja possível fazer a adaptação", afirma o diretor.



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