São Paulo, Quinta-feira, 25 de Março de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RELÂMPAGOS
Avenida Farrapos

JOÃO GILBERTO NOLL

Chegava ao descascado edifício Minuano, no fim do dia, como um lavrador em sua tapera. Sentia cócegas na mente ao se imaginar numa gravura do reino infantil, no interior de um livro bem seguro, capa dura, bom papel. Vinha-lhe a sensação de que não adiantava mais se opor. "É mesmo?", uma voz reclusa lhe acena sempre. Ouvia a mandíbula avariada no afã de engolir o éter do sono. Os parcos elementos do leito germinavam um catre. Agora enfia, com precisão, o dedo no nariz, à procura do ponto mais ermo de sua identidade. Depois afasta com esforço a lápide. E põe-se como que a lamber o rutilante odor de Lázaro.


Texto Anterior: Joyce Pascowitch
Próximo Texto: Cinema: Oscar 2000 é sonho distante para o país
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.