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RELÂMPAGOS
Avenida Farrapos
JOÃO GILBERTO NOLL
Chegava ao descascado
edifício Minuano, no fim do
dia, como um lavrador em
sua tapera. Sentia cócegas
na mente ao se imaginar numa gravura do reino infantil, no interior de um livro
bem seguro, capa dura, bom
papel. Vinha-lhe a sensação
de que não adiantava mais
se opor. "É mesmo?", uma
voz reclusa lhe acena sempre. Ouvia a mandíbula avariada no afã de engolir o éter
do sono. Os parcos elementos do leito germinavam um
catre. Agora enfia, com precisão, o dedo no nariz, à procura do ponto mais ermo de
sua identidade. Depois afasta com esforço a lápide. E
põe-se como que a lamber o
rutilante odor de Lázaro.
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