São Paulo, Quinta-feira, 25 de Março de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CINEMA
Poucos longas-metragens da nova safra aproximam-se do perfil ideal para postular um prêmio da Academia
Oscar 2000 é sonho distante para o país

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

O público e a mídia movidos a Oscar podem tirar o cavalinho da chuva: dificilmente o Brasil terá na próxima temporada um novo candidato com tantas chances quanto "Central do Brasil" tinha nesta.
A produtora Sara Silveira resume bem a situação: "Não vai ser fácil repetir a alquimia de "Central': um filme bom, com uma história de interesse universal, uma atriz extraordinária, um produtor internacional de peso e uma grande distribuidora americana".
O filme mais competitivo da nova safra talvez seja "Orfeu", de Cacá Diegues, que estréia nacionalmente dia 23 de abril.
Além trazer um tema de grande apelo -o mito de Orfeu transposto para a favela carioca, no Carnaval-, conta com um diretor de prestígio internacional, uma grande produtora (a Globo) e uma grande distribuidora (a Warner).
É a segunda adaptação cinematográfica da peça "Orfeu da Conceição", de Vinícius de Moraes. A primeira, "Orfeu do Carnaval", dirigida pelo francês Marcel Camus, ganhou o Oscar de filme estrangeiro em 1959.
Outras grandes produções em fase de finalização certamente vão postular um lugar entre os concorrentes: "Chatô", de Guilherme Fontes e Murilo Salles, "Mauá", de Sérgio Rezende, "Villa-Lobos", de Zelito Vianna, "O Xangô de Baker Street", de Miguel Faria.
Os três primeiros são cinebiografias de grandes figuras da vida brasileira que talvez digam pouco ao público norte-americano.
Já "Xangô" (a julgar pelo livro de Jô Soares em que se baseou) é uma farsa demasiado ligeira para agradar a Academia.
Uma incógnita, em termos de potencial internacional, é o novo filme de Ruy Guerra, "Estorvo", rodado em Cuba e baseado no livro homônimo de Chico Buarque.
Há ainda "Memórias Póstumas", a adaptação do romance "Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis, por André Klotzel, que pode se beneficiar do crescente interesse pela obra do escritor brasileiro nos Estados Unidos e na Europa.
Por enquanto, o Oscar 2000 é uma miragem. Cabe lembrar que entre 1963, quando concorreu a melhor filme estrangeiro com "O Pagador de Promessas", e 1985, quando disputou melhor filme, diretor, ator e roteiro com a co-produção "O Beijo da Mulher Aranha", o cinema brasileiro viveu sua melhor fase, longe do Oscar.


Texto Anterior: Relâmpagos - João Gilberto Noll: Avenida Farrapos
Próximo Texto: A estética inexiste; é por isso que acredito no Oscar
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.