São Paulo, Quinta-feira, 25 de Março de 1999
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ANÁLISE
A estética inexiste; é por isso que acredito no Oscar

FERNANDO ZARIF
especial para a Folha

A cerimônia de entrega do Oscar é uma festa. Se quase toda festa com mais de cem convidados é chata, imagine uma com 1 bilhão deles! Não fosse a possibilidade de meter dois no bolso, continuaríamos vendo essa besteira como "trumans" que somos, ano após ano desde o advento da transmissão ao vivo, via satélite.
Esperando acordados, madrugada adentro e bravamente sentados no sofá da sala, pelo melhor filme do mundo "made in USA" no ano passado. Injustiças à parte, o último Oscar antes do ano 2000 até que foi simpático.
Estética é uma categoria que inexiste, tal qual o prêmio para melhor cenário, e é por essas e por outras que acredito no Oscar, na sua honestidade folheada a ouro, nomeado em homenagem ao tio de uma secretária, provavelmente executiva.
Quanto à idoneidade da firma inglesa que faz a auditoria dos votos, não tenho dúvida, portanto me resta a certeza da Academia, que de burra não tem nada, quando fez o jogo e criou as regras, optou pelo voto não secreto como forma de pressão, diplomática como um acordo de cavalheiros e maquiavélica como uma versão hollywoodiana da tirania dos fracos.
A tal festa começou muito bem com um clipe magistralmente editado, Whoopi Goldberg negra como Michael Jackson e judia como Al Jolson fantasiada de rainha Elizabeth. Em seguida, um dos raros prêmios justos, desta vez para James Coburn, como ator coadjuvante, categoria que vem sendo muito bem aproveitada desde o tempo de "A Malvada" -que não era Bette Davis e, sim, Anne Baxter-, que levou seis Oscar e cujo único ator laureado foi o coadjuvante George Sanders.
O norte-americano é um povo "para inglês ver". Talvez tenha sido essa a razão de o genial roteiro de "Truman Show" ter perdido para "Shakespeare Apaixonado". Ou da minissaia justa desses politicamente corretos e artisticamente nulos que ousaram não se levantar para aplaudir Elia Kazan por serem contra a delação, prática tão comum nos Estados Unidos que deveria ser patenteada por eles como fizeram com o termo América. E para esses anti-anticomunistas que ovacionaram Colin Powell (o milico) devo lembrar que caiu o muro de Berlin, que eles votaram em Nixon e depois em Reagan e que nos estados unidos da américa do norte tudo que começa em Griffith acaba em Academia.


Fernando Zarif é artista plástico.

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