|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
A estética inexiste; é por isso que acredito no Oscar
FERNANDO ZARIF
especial para a Folha
A cerimônia de entrega do Oscar é uma festa. Se quase toda festa com mais de cem convidados é
chata, imagine uma com 1 bilhão
deles! Não fosse a possibilidade
de meter dois no bolso, continuaríamos vendo essa besteira
como "trumans" que somos, ano
após ano desde o advento da
transmissão ao vivo, via satélite.
Esperando acordados, madrugada adentro e bravamente sentados no sofá da sala, pelo melhor filme do mundo "made in
USA" no ano passado. Injustiças
à parte, o último Oscar antes do
ano 2000 até que foi simpático.
Estética é uma categoria que
inexiste, tal qual o prêmio para
melhor cenário, e é por essas e
por outras que acredito no Oscar,
na sua honestidade folheada a
ouro, nomeado em homenagem
ao tio de uma secretária, provavelmente executiva.
Quanto à idoneidade da firma
inglesa que faz a auditoria dos
votos, não tenho dúvida, portanto me resta a certeza da Academia, que de burra não tem nada,
quando fez o jogo e criou as regras, optou pelo voto não secreto
como forma de pressão, diplomática como um acordo de cavalheiros e maquiavélica como
uma versão hollywoodiana da tirania dos fracos.
A tal festa começou muito bem
com um clipe magistralmente
editado, Whoopi Goldberg negra
como Michael Jackson e judia como Al Jolson fantasiada de rainha Elizabeth. Em seguida, um
dos raros prêmios justos, desta
vez para James Coburn, como
ator coadjuvante, categoria que
vem sendo muito bem aproveitada desde o tempo de "A Malvada" -que não era Bette Davis e,
sim, Anne Baxter-, que levou
seis Oscar e cujo único ator laureado foi o coadjuvante George
Sanders.
O norte-americano é um povo
"para inglês ver". Talvez tenha sido essa a razão de o genial roteiro
de "Truman Show" ter perdido
para "Shakespeare Apaixonado". Ou da minissaia justa desses
politicamente corretos e artisticamente nulos que ousaram não
se levantar para aplaudir Elia Kazan por serem contra a delação,
prática tão comum nos Estados
Unidos que deveria ser patenteada por eles como fizeram com o
termo América. E para esses anti-anticomunistas que ovacionaram Colin Powell (o milico) devo
lembrar que caiu o muro de Berlin, que eles votaram em Nixon e
depois em Reagan e que nos estados unidos da américa do norte
tudo que começa em Griffith acaba em Academia.
Fernando Zarif é artista plástico.
Texto Anterior: Cinema: Oscar 2000 é sonho distante para o país Próximo Texto: Televisão - José Simão: Ueba! Sacoleiros enfurecidos impicham o Paraguai! Índice
|