São Paulo, sexta, 25 de abril de 1997.

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Sueco estreou na 2¦ edição

da Equipe de Articulistas

A relação Bergman/Cannes é quase tão antiga quanto o festival. O cineasta sueco estreou em Cannes já na segunda edição, em setembro de 1947 (a edição inaugural ocorrera um ano antes). Concorreu com seu terceiro filme, ``Barco para as Índias'', em que pai e filho disputam num navio o amor de uma cantora de cabaré. André Bazin metralhou ``a falta de habilidade desastrosa'' da direção de Bergman, mas o filme conquistou uma nota de destaque do júri.
Apenas nove anos depois Bergman voltava com ``Sorrisos de Uma Noite de Verão''. Ficou com um esquisito ``prêmio de humor poético''. O vitorioso do ano foi o documentário ``O Mundo do Silêncio'', de Jacques Cousteau e Louis Malle, o único filme do gênero a ganhar o festival.
Bergman voltou a insistir, no ano seguinte, com munição pesada: ``O Sétimo Selo'', seu estudo definitivo sobre a morte. Mais uma vez foi passado para trás, agora por ``Sublime Tentação'', de William Wyler. ``O Sétimo Selo'' divide com ``Canal'', de Andrzej Wajda, o Prêmio Especial do Júri. Até hoje, foi a premiação máxima de Bergman no festival.
Em 1958, um escândalo. ``Quando Voam as Cegonhas'', do soviético Michel Kalatozov, arrebatou a Palma de Ouro, batendo ``No Limiar da Vida'', o admirável drama bergmaniano sobre a maternidade. O filme acumularia o prêmio de direção e um coletivo de interpretação feminina para o infernal quarteto formado por Bibi Anderson, Ingrid Thulin, Eva Dahlbeck e Barbro Hiort-af-Ornas.
Nova tentativa em 1960 com o trágico ``A Fonte da Donzela'', sobre a violação e morte de uma jovem na Idade Média. Anselmo Duarte disse à Folha ter testemunhado reações violentas, com ``cuspes e vaias'', ao fim de uma sessão. O júri, presidido por Georges Simenon, abriu sua nota de deliberação ``renunciando unanimamente a coroar obras magistrais'' como ``A Fonte da Donzela'' e ``A Adolescente'' de Bu¤uel. A Palma de Ouro foi concedida a ``A Doce Vida'', de Fellini.
Foi o bastante. A partir de então, Bergman recusou-se a competir. Passaram-se 13 anos até que voltasse com um filme à Croisette: ``Gritos e Sussuros''. Em sua última década de atividade como cineasta, exibiu no festival três dos sete filmes que realizou: ``A Flauta Mágica'' (1975), ``Face a Face'' (1976), ``Depois do Ensaio'' (1984).
Em 1991, Cannes começava a ``mea culpa''. ``As Melhores Intenções'' valeu a Bille August sua segunda Palma de Ouro, mas o que se tinha em mente era celebrar sobretudo o roteiro autobiográfico escrito por Bergman. Dois erros, porém, não fazem um acerto. (AL)

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