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CINEMA ESTRÉIAS
Collins usou `violência inevitável', diz Jordan
ELAINE GUERINI
da Reportagem Local
Neil Jordan, 47, esperou 14 anos
para levar às telas a trajetória de
Michael Collins, o fundador do
Exército Republicano Irlandês
(IRA). Quando o filme finalmente
estreou na Europa, em novembro,
o cineasta foi acusado de distorcer
fatos históricos e de transformar
um assassino em herói.
``Michael Collins - O Preço da
Liberdade'', que chega hoje às salas
brasileiras, apresenta um retrato
romântico do líder revolucionário
que morreu assassinado aos 31
anos, em 1922.
``Naquela época, um pouco de
violência era inevitável'', disse o
diretor, em entrevista concedida à
Folha, por telefone, de Dublin.
A face polêmica do protagonista
fez com que o próprio estúdio que
produziu o filme deixasse de
apoiá-lo. ``A Warner ficou preocupada com a sua imagem'', contou Jordan, que dirigiu filmes como ``Traídos pelo Desejo'' e ``Entrevista com o Vampiro''.
``Michael Collins'' só se destacou
no último Festival de Veneza -levando o prêmio principal e o de
melhor ator para Liam Neeson. A
Academia de Hollywood deu-lhe
apenas duas indicações ao Oscar
(fotografia e trilha sonora).
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.
Folha - ``Michael Collins'' lança
um olhar humano sobre o homem
que fundou o IRA. Terá sido esse o
motivo de tanta polêmica em torno do filme -a ponto de os ingleses terem tentado proibi-lo?
Neil Jordan - Talvez. Sempre
soube que o filme seria polêmico,
já que Collins levou uma vida controversa. Nunca houve um filme
sobre terrorismo na Irlanda que
não causasse polêmica. O problema é que até hoje nenhum filme
tinha retratado a vida de quem começou tudo isso.
Folha - Os ingleses o acusaram
de transformar um assassino em
herói. Qual foi sua reação?
Jordan - O filme não faz dele
um herói. Simplesmente mostro
como ele era. Morreu com 31 anos,
depois de ter destruído a administração britânica na Irlanda.
Folha - Por que o filme demorou
14 anos para sair?
Jordan - De um lado, os estúdios não gostam de fazer filmes
pouco comerciais. De outro, sempre houve resistência a qualquer
retrato do início da luta pela independência da Irlanda. Acho que
até hoje muitos ingleses ainda pensam que a Irlanda deveria fazer
parte do Reino Unido.
Folha - Como você convenceu a
Warner a financiar o filme?
Jordan - Depois de ``Entrevista
com o Vampiro'', que fiz com o estúdio, eles disseram que eu poderia escolher o próximo filme.
Folha - Um filme para o estúdio e
outro para o diretor...
Jordan - Fiz ``Entrevista'' para
mim também. A diferença é que
``Michael Collins'' é menos comercial.
Folha - O filme passa longe do
glamour hollywoodiano que costumar marcar os épicos. Você sofreu pressão do estúdio para torná-lo mais comercial?
Jordan - Não. Fiz do jeito que
queria. Sempre pensei em Liam
Neeson para o papel e Julia Roberts me pediu para fazer a Kitty. A
única restrição foi o orçamento. A
Warner me disse ``você tem US$
28 milhões, não peça mais''.
Folha - Outra acusação que o filme recebeu foi a de distorcer fatos. É possível ser fiel à história ao
adaptá-la para o cinema?
Jordan - Você só pode saber até
que ponto um filme é fiel à história
quando o compara com outros.
Produções como ``Gandhi'' ou
``JFK'' também retrataram figuras
históricas e todas tomaram certas
liberdades, pelo fato de reduzirem
a vida de alguém em duas ou três
horas. Comparado com esses filmes, ``Michael Collins'' é fiel.
Folha - Esperava que o filme tivesse melhor aceitação nos EUA?
Jordan - O problema foi a falta
de apoio. Mas, na Europa, ele foi
bem e, na Irlanda, é o maior sucesso comercial de todos os tempos.
Filme: Michael Collins - O Preço da
Liberdade
Produção: Irlanda, 1996
Direção: Neil Jordan
Com: Liam Neeson, Julia Roberts
Quando: a partir de hoje nos cines Olido 2,
Butantã 3, Eldorado 5 e circuito
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