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CINEMA
Caso real inspirou ator a criar enredo de "Estrela Solitária"
"Éramos muito sérios na época de "Paris, Texas'", afirma Sam Shepard
ALCINO LEITE NETO
EDITOR DE MODA
"Estrela Solitária" é a história de
um ator de faroestes que, num belo dia, resolve desaparecer do set
de filmagens e dar outro rumo à
sua existência sem graça. Ele parte, então, em busca do filho e da
vida que deixou para trás, ao mesmo tempo em que mergulha nas
Províncias do Meio-Oeste.
Há três motivos, ao menos, para
assistir ao filme de Wim Wenders, 60, ainda que, ao final, ele
não satisfaça tanto assim a nostalgia de cinéfilos que adoram alguns trabalhos antigos do diretor.
O primeiro motivo é a fotografia de Franz Lustig, que materializou de maneira excepcional todo
o gosto de Wenders pela paisagem norte-americana. O segundo
é o roteiro deste melodrama ligeiro e mirabolante, escrito por Sam
Shepard, 62 -um dos principais
dramaturgos americanos em atividade. O terceiro é a atuação um
pouco canhestra, mas sempre sedutora, do próprio Shepard no
papel central -ao lado de sua
mulher, Jessica Lange.
É a primeira vez que Shepard
atua para a câmera de Wenders.
Mas não é a primeira vez que os
dois trabalham juntos. O dramaturgo fez o roteiro de "Paris, Texas", filme de Wenders que ganhou a Palma de Ouro do Festival
de Cannes de 1984.
Em 2005, "Estrela Solitária"
concorreu também em Cannes,
mas saiu sem nenhum troféu. A
exibição contou, porém, com a
presença bastante rara de Shepard, que tem horror a viagens de
avião. Foi durante o festival que o
dramaturgo conversou com um
grupo de sete jornalistas, incluindo a Folha. "Diretores deveriam
ser tão independentes como escritores e pintores, mas não são.
Eles estão presos ao dinheiro de
Wall Street", disse Shepard, no
jardim de seu hotel em Cannes.
Pergunta - Por que o sr. quis contar a história de "Estrela Solitária"?
Sam Shepard - A primeira idéia
para o personagem não me interessou muito. Ele seria uma espécie de Howard Hughes, alguém
que fazia grandes negócios e que
não se lembrava de ter um filho
que nunca havia encontrado. Eu,
então, quis transformá-lo num
homem mais provinciano, mais
rude. Chegamos assim a esse ator
que escapa do que estava vivendo
e dá outro rumo à sua existência.
Isso me ocorreu uma vez, mas
não gostaria de contar...
Pergunta - Por favor, conte...
Shepard - Eles procuraram por
mim durante um dia inteiro, inclusive com um helicóptero, mas
não me encontraram. Eu estava
tendo um caso com Jessica Lange
na época [os dois são casados hoje]. O importante, quando você
escapa, é não ser encontrado nunca [risos]. No dia seguinte, reaparecemos. Foi em 1982.
Pergunta - O seu filme tem muitas referências ao faroeste, o que
ocorre também em outro filme,
"Três Enterros", de Tommy Lee Jones. Por que o faroeste já não interessa tanto aos espectadores?
Shepard - Quando eu era criança, a maior parte dos programas
eram faroestes. É um gênero adorável: tem belos cavalos, mulheres
bonitas e paisagens esplêndidas.
Não entendo por que deixou de
interessar às pessoas.
Pergunta - O sr. diria que este novo filme é mais leve, menos ambicioso, que "Paris Texas"?
Shepard - Certamente é mais engraçado. Nós tínhamos muito
medo de perder o humor. Penso
que "Paris, Texas" é sombrio e angustiante -éramos muito sérios
naquela época. Eu tentei agora
produzir alguns aspectos cômicos
no filme. Então, quando o choque
da dor dos personagens chega,
você tem um equilíbrio.
Pergunta - Para o sr., que tem
uma importante obra no teatro,
qual é o significado do cinema?
Shepard - Acho que é extremamente importante, mas são poucas as oportunidades de fazer filmes poderosos. Wim tem um
modo particular de fazer o seu filme -não o dos outros, dos produtores, mas o seu próprio. Esse é
o verdadeiro sentido de filme independente para mim: o diretor
faz o filme, segundo aquela velha
idéia do "cinema de autor" de Godard -idéia que talvez não exista
mais. Diretores deveriam ser tão
independentes quanto escritores
e pintores, mas não são. Eles estão
presos ao dinheiro de Wall Street.
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