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LIVROS
Crítica/"O Gato Diz Adeus"
Muito cálculo enfraquece boa estrutura
Laub resolve razoavelmente bem livro sobre conflitos de um triângulo amoroso, mas faz leitor reavaliar o que leu ao final
ADRIANO SCHWARTZ
ESPECIAL PARA A FOLHA
Ao final de "O Gato Diz
Adeus", de Michel
Laub, o leitor encontra
uma nota na qual o autor explicita as referências de seu texto:
o conto citado por um personagem é de David Foster Wallace;
uma passagem reproduz exemplos de "O Demônio do Meio-Dia", de Andrew Solomon; do
ponto de vista do tema, da linguagem e da estrutura, seu
romance "deve algo" a "Enquanto Agonizo", de William
Faulkner, "A Caixa-Preta", de
Amós Oz, e "A Chave", de Junichiro Tanizaki...
Ao chegar ali, ao final do livro, estava razoavelmente bem
resolvida a estrutura engenhosa preparada por Laub para
contar os conflitos familiares e
sexuais do triângulo amoroso
entre Sérgio, Márcia e Roberto,
ainda que certa sensação de indiferença acompanhasse o desenrolar da trama (como escreveu Drummond em um verso
do poema de "Claro Enigma"
que nem sempre é verdadeiro,
mas que faz sentido aqui, "a
plástica é vã, se não comove").
O problema é que aquela nota ao final obriga o leitor a reavaliar o que leu. Ele tem duas
opções: interpretá-la como
mais um dado do quebra-cabeça proposto pela narrativa e a
partir daí tentar reenquadrar o
romance (circunstância em
que as apostas subiriam bastante, mas a chance de fracasso
também) ou acreditar que o autor de fato toma a voz ali e informa para quem interessar as
suas principais fontes.
Primeiro plano
Até onde este crítico de percepção às vezes tão limitada pode captar, a segunda alternativa
é a válida. E aí as coisas ficam
bem mais complicadas, porque,
desse jeito, a comparação entre
as obras torna-se quase obrigatória: os textos deixam de ser
ecos em meio a outros ecos (ou
o silêncio em meio ao silêncio)
na cabeça do leitor e assumem
o primeiro plano. Infelizmente,
"O Gato Diz Adeus" não se
mantém em pé diante dos volumes citados de Faulkner, Tanizaki ou Oz.
Escrever um livro ficcional já
é tarefa bastante complicada
sem essa obrigação desnecessária de esclarecer o leitor: neste caso, a omissão, a confusão
e o erro são parte importante
do processo (como diz uma
personagem de "A Chave", "ficaria embaraçada se me pedissem para explicar mais concretamente") e não vale a pena brigar com eles.
O mesmo, aliás, talvez valha
para o próprio autor. Michel
Laub sempre trabalha com a
contenção, lidando com tensões narrativas muito calculadas e uma prosa em busca de
equilíbrio e distância. Talvez
fosse o momento de pensar em
um pouco menos de controle.
ADRIANO SCHWARTZ é professor de literatura
da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da
USP.
O GATO DIZ ADEUS
Autor: Michel Laub
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 28 (80 págs.)
Avaliação: regular
Lançamento: nesta segunda, dia 27, às
19h, na Mercearia São Pedro (r. Rodésia, 34, SP, tel. 0/xx/11/3815-7200)
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