São Paulo, sábado, 25 de abril de 1998 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice MODA Desfile é exercício para novos estilistas
ERIKA PALOMINO Colunista da Folha Durante três dias, em São Paulo, nove jovens estilistas desfilaram suas coleções no evento Semana de Moda, destinado a fazer escoar a criatividade de nomes de talento que precisam ainda de suporte operacional e patrocínio. Todos eles têm loja e, mesmo com alguma experiência, pode-se dizer que estão ainda em início de carreira. Numa seara em que a comparação se apresenta inevitável, suas diferenças e realidades devem ser ressaltadas. Se a maior surpresa fica por conta da marca Slam, de Giuliano Menegazzo, a excelência de sua moda já é velha conhecida dos habitantes da cena underground/clubber de São Paulo. Trabalhando sobre o náilon em atitude esportiva e urbana, Giuliano aciona referências de motocross, esqui e uniformes e conquista pela ausência de pretensão. Seu índigo também caminha a bons passos e, uma semana após o desfile, todas as peças já foram vendidas. Também pronta para vender está a bem coordenada coleção de Carla Fincato para a Carlota Joaquina, segunda marca da G. Com modernas informações de moda, Carla parte das peças de mergulho, natação e surf, acertando sobretudo na entrada da cor no look de Luciana Curtis. Outros bons momentos são as saias plissadas e o kilt sobre a calça. Mas dá vontade ainda de ver uma coleção de Carla com menos cara de G, mais solta. Jeziel Moraes vem consistente em seu japonismo com pitadas s&m. Se não acerta na beleza das formas em todos os looks, pesando nas mangas postiças, apresenta-se como um criador mais maduro diante da figura feminina. Inverte, portanto, sua fama de estilista dos ternos extravagantes. Para seu homem, uma imbatível malharia geométrica garante personalidade e conforto a quem a usa, mas da próxima vez nada de bodies transparentes inteiriços. Ainda para Moraes, o mais elaborado styling de um evento que tem ainda o mérito de trazer oportunidade de trabalho a novos e talentosos profissionais da produção de moda. Cesar Fassina (Jeziel) e Marquinhos Marla (Slam), mais os beauty artists Carlos Carrasco, Kiko Moreno e Diego Américo já são alternativas consistentes ao mercado. Se algum estilista reflete seu universo pessoal é Elisa Stecca. Sua moda é ela: dos cabelos às cores, quentes e vivas, das formas alongadas dos corretos vestidos do começo à extravagância discreta de suas modelos em saias e boás de cabelo artificial. Acompanhamos a evolução da estilista e suas tentativas diante da tecnologia têxtil, com mais acertos que erros. Estela Alcântara é que poderia avançar mais. Apresentou uma mulher urbana e contemporânea, mas sem personalidade. Faltou mão de estilista e mais coragem de sair da realidade comercial de sua loja Zazá. Sua jovem alfaiataria traz uma silhueta limpa, em corsários e calças, com corretos paletós cinturados. Sim, já existe um estilo Lorenzo Merlino. Nesta coleção, o estilista estabelece de uma vez as características de seu trabalho e mostra-se à vontade em seu imaginário de referências (Margiela, McQueen) sem maiores problemas. Parece um pouco pesado, entretanto, um pouco velho. São boas as calças com plissados, as camisas bordadas e os vestidos com encaixes, mas falta a jovialidade que se espera dele. Por sua vez, Caio Gobbi deixa a moda clubber para entrar em seu mais ambicioso momento fashion. Aciona o minimalismo internacional para interpretar heroínas de gelo, princesas Léias e patinadoras. Desvencilha-se com criatividade das limitações de materiais e de dinheiro, obtendo bons resultados nas imagens femininas e nas calças masculinas. Enquanto não pode aprimorar o acabamento, capricha no bom humor e em hypes como botas, meias e cintos. Mario Queiroz traz correção comercial e formas enxutas. Acerta na cartela de cores em marrom e na malharia pólo (a melhor idéia da coleção), apontando o caminho das vendas. Só falta alguma coisa para conquistar. Um it, um charme. Ao contrário, perde-se em conceitos a moda de Martielo Toledo. Suas melhores peças são regatas, saias e calças com silk branco sobre o couro negro -coincidentemente, as mais usáveis. Moda pede beleza, acima de tudo, mesmo dentro do alternativo, marginal ou estranho. Hora de parar e pensar. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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