São Paulo, sábado, 25 de abril de 1998 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice FARSA Estopim foi uma exposição em que o comprador dos quadros faria sexo com a artista; foi capa do "The Independent' Dupla de 'artistas' engana imprensa inglesa
ISABEL VERSIANI de Londres Na semana passada, o cenário artístico londrino foi chacoalhado com a notícia de uma exposição pouco ortodoxa. A canadense Angela Marshall, de 25 anos, autodenominada artista plástica, anunciou que estaria trocando as suas pinturas por sexo. Uma tela pequena de Marshall, segundo notícias veiculadas, custaria US$ 42,50, mais uma sessão de sexo oral. Uma pintura de tamanho médio valeria uma sessão de sexo completa. Para adquirir uma tela grande, o cliente, além de pagar US$ 127,50, teria que estar disposto a fazer "qualquer coisa esquisita" com Angela. As obras seriam produzidas durante o ato sexual. Os jornais britânicos chamados "de qualidade" (sem ser os tablóides) deram ampla cobertura à exposição. O jornal "The Independent" chegou a publicar a notícia sobre Marshall na capa. Na quinta-feira, estréia do evento, a galeria Decima, que promovia a exibição, estava repleta de jornalistas para acompanhar a produção da artista. A exposição acabou se revelando um embuste. O nome verdadeiro da jovem que fingia ser a tal artista plástica era Joolz, e ela não fez sexo com ninguém na galeria. Todo o evento foi inventado por um dos donos da Decima Alex Chappel, 24, que quis testar a reação da imprensa à história bizarra. "Os jornalistas acreditam em tudo o que pode dar notícia, sem se dar ao trabalho de checar as informações, por mais absurdas que elas pareçam", disse Chappel. Não foi a primeira vez que Chappel promoveu eventos "de mentira" para provocar a imprensa. Há dois anos, ele anunciou a promoção de visitas guiadas a lugares onde houve matanças em massa. Ele chamou a "agência" de Dennis Nilsen Tour, em referência ao mais conhecido assassino em série britânico. O projeto também ganhou projeção na imprensa na época, tendo sido criticado pelo mau gosto. Um dos jornais chamou Chappel de "o homem mais doente do Reino Unido". Antes disso, Chappel e o amigo David C. West, 26, haviam anunciado a inauguração de uma clínica para "viciados" em telenovelas. Os dois prometiam tratar com caminhadas diárias no parque e terapias de grupo os telespectadores que não conseguissem sair da frente da TV. Chappel chegou a dar entrevistas, fingindo ser um paciente da clínica e que teria sido obrigado a largar o emprego e a família por causa do seu vício. "Foi patético", disse Chappel, que, além de sócio da galeria, também está tentando produzir filmes. Segundo ele, sua intenção é continuar a promover esses embustes "enquanto os jornais estiverem caindo neles". Em agosto, os dois amigos vão organizar uma exposição -desta vez de verdade- com todas as notícias publicadas sobre suas armações. Segundo Chappel, eles já têm uma coleção de 70 artigos de jornais e seis vídeos de matérias veiculadas na TV. Eles querem estrear o evento no dia 31 de agosto, aniversário de um ano da morte da princesa Diana, uma referência à "histeria" com a qual a imprensa teria coberto a vida e a morte de Diana, segundo Chappel. A exposição chama-se "ART", sigla em inglês para Um Pensamento Razoável. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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