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MÚSICA ERUDITA
Leech canta em SP
Tenor critica falta de opções para a ópera
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os Patronos do Teatro Municipal apresentam nos próximos
dias 29 e 31 duas récitas de árias
interpretadas pela soprano ucraniana Maria Guleghina e pelo tenor norte-americano Richard
Leech.
Os astros são recitalistas e intérpretes frequentes do Met de Nova
York e de cenas de prestígio na
Europa, como a Ópera Estatal de
Viena.
O tenor Richard Leech, 44, comenta, em entrevista exclusiva
dada à Folha, o crescimento do
público em espetáculos líricos nos
Estados Unidos e os efeitos, entre
os cantores, da crise no mercado
discográfico.
Folha - O sr. tem cantado em casas de ópera européias, geralmente financiadas com verbas públicas, e também em casas norte-americanas, que vivem de doações
privadas. Qual seria hoje o melhor
modelo?
Richard Leech - Historicamente,
os norte-americanos invejam os
europeus pelo apoio financeiro
que seus teatros líricos recebem
do Estado.
Uma montagem operística é
sempre deficitária. Mas recentemente percebemos o quanto nosso modelo era mais cômodo.
Com a diversidade de doadores,
empresas e pessoas físicas, estamos hoje sofrendo bem menos os
efeitos dos cortes nos orçamentos
oficiais. Somos menos vulneráveis.
Folha - O público de ópera nos
EUA aumentou em 37% entre 1980
e 1997. Como conciliar essa informação com a queda na venda de
CDs líricos?
Leech - Eu gostaria muito de conhecer a resposta para esse paradoxo. A crise no mercado discográfico levou à edição de um número muito pequeno das produções que estão sendo gravadas.
Isso nos empobrece a todos. Há
um contraste entre as facilidades
tecnológicas que permitem gravar qualquer bom espetáculo e a
impossibilidade de levá-los ao público.
Folha - Mas como explicar o crescimento desse público?
Leech - É um público basicamente de jovens, o que nos encoraja bastante. Acredito que uma
das causas está na generalização
dos supertítulos (legendas do que
se está cantando).
O público não vem apenas por
causa da música bonita ou de
uma boa interpretação. Vem também em razão do enredo, do espetáculo teatral que estará sendo
encenado. A ópera passa a "falar o
nosso idioma".
Folha - Não há com a crise o empobrecimento do repertório, não
se gravando uma grande ópera de
um autor menos conhecido ou uma
ópera menor de um autor muito conhecido?
Leech - Isso é verdade. Os cantores acabam ficando com opções
mais reduzidas.
Há duas décadas, o departamento de clássicos de uma grande
gravadora não temia manter determinada gravação por 20 anos
no catálogo antes de começar a ter
lucro.
Mas estamos todos diante de
padrões mais imediatistas, a
exemplo de "Os Três Tenores".
Folha - Isso dificulta a carreira de
um cantor iniciante?
Leech - Sem dúvida. Quando comecei a gravar, no início dos anos
80, vivíamos uma excitação generalizada pela quantidade de títulos e versões. O mercado é hoje
bem mais conservador.
Folha - Acredita que ainda tem
muito a aprender com os regentes
com os quais tem trabalhado, como Ozawa, Previn ou Haiting?
Leech - A vantagem de se tornar
um cantor conhecido está no fato
de nos darem sempre grandes
maestros. E eles são capazes de
nos apontar caminhos mais adequados. Há um crescimento profissional importante.
Concerto: Orquestra Sinfônica Municipal e Coral Lírico, dir. Isaac
Karabtchevsky
Solistas: Richard Leech (tenor) e Maria Guleghina (soprano)
Programa: Verdi, Puccini, Massenet, Carlos Gomes e Cilea
Quando: dias 29 e 31, às 21h
Onde: Teatro Municipal, pça. Ramos de Azevedo, s/nº, tel. 0/xx/11/222-8698
Ingressos: de R$ 10 a R$ 80
Patrocinador: Banco de Santos
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