São Paulo, quinta-feira, 25 de maio de 2000


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MÚSICA ERUDITA
Leech canta em SP
Tenor critica falta de opções para a ópera

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os Patronos do Teatro Municipal apresentam nos próximos dias 29 e 31 duas récitas de árias interpretadas pela soprano ucraniana Maria Guleghina e pelo tenor norte-americano Richard Leech.
Os astros são recitalistas e intérpretes frequentes do Met de Nova York e de cenas de prestígio na Europa, como a Ópera Estatal de Viena.
O tenor Richard Leech, 44, comenta, em entrevista exclusiva dada à Folha, o crescimento do público em espetáculos líricos nos Estados Unidos e os efeitos, entre os cantores, da crise no mercado discográfico.

Folha - O sr. tem cantado em casas de ópera européias, geralmente financiadas com verbas públicas, e também em casas norte-americanas, que vivem de doações privadas. Qual seria hoje o melhor modelo?
Richard Leech -
Historicamente, os norte-americanos invejam os europeus pelo apoio financeiro que seus teatros líricos recebem do Estado.
Uma montagem operística é sempre deficitária. Mas recentemente percebemos o quanto nosso modelo era mais cômodo. Com a diversidade de doadores, empresas e pessoas físicas, estamos hoje sofrendo bem menos os efeitos dos cortes nos orçamentos oficiais. Somos menos vulneráveis.

Folha - O público de ópera nos EUA aumentou em 37% entre 1980 e 1997. Como conciliar essa informação com a queda na venda de CDs líricos?
Leech -
Eu gostaria muito de conhecer a resposta para esse paradoxo. A crise no mercado discográfico levou à edição de um número muito pequeno das produções que estão sendo gravadas.
Isso nos empobrece a todos. Há um contraste entre as facilidades tecnológicas que permitem gravar qualquer bom espetáculo e a impossibilidade de levá-los ao público.

Folha - Mas como explicar o crescimento desse público?
Leech -
É um público basicamente de jovens, o que nos encoraja bastante. Acredito que uma das causas está na generalização dos supertítulos (legendas do que se está cantando).
O público não vem apenas por causa da música bonita ou de uma boa interpretação. Vem também em razão do enredo, do espetáculo teatral que estará sendo encenado. A ópera passa a "falar o nosso idioma".

Folha - Não há com a crise o empobrecimento do repertório, não se gravando uma grande ópera de um autor menos conhecido ou uma ópera menor de um autor muito conhecido?
Leech -
Isso é verdade. Os cantores acabam ficando com opções mais reduzidas.
Há duas décadas, o departamento de clássicos de uma grande gravadora não temia manter determinada gravação por 20 anos no catálogo antes de começar a ter lucro.
Mas estamos todos diante de padrões mais imediatistas, a exemplo de "Os Três Tenores".

Folha - Isso dificulta a carreira de um cantor iniciante?
Leech -
Sem dúvida. Quando comecei a gravar, no início dos anos 80, vivíamos uma excitação generalizada pela quantidade de títulos e versões. O mercado é hoje bem mais conservador.

Folha - Acredita que ainda tem muito a aprender com os regentes com os quais tem trabalhado, como Ozawa, Previn ou Haiting?
Leech -
A vantagem de se tornar um cantor conhecido está no fato de nos darem sempre grandes maestros. E eles são capazes de nos apontar caminhos mais adequados. Há um crescimento profissional importante.


Concerto: Orquestra Sinfônica Municipal e Coral Lírico, dir. Isaac Karabtchevsky
Solistas: Richard Leech (tenor) e Maria Guleghina (soprano)
Programa: Verdi, Puccini, Massenet, Carlos Gomes e Cilea
Quando: dias 29 e 31, às 21h
Onde: Teatro Municipal, pça. Ramos de Azevedo, s/nº, tel. 0/xx/11/222-8698
Ingressos: de R$ 10 a R$ 80
Patrocinador: Banco de Santos


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