São Paulo, sexta-feira, 25 de maio de 2001

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CRÍTICA

Medo une homens e cães

DA REPORTAGEM LOCAL

O desastre é iminente. Cada um dos três episódios que compõem "Amores Perros" é um barril de pólvora no qual um fósforo está prestes a cair. Quando, inevitavelmente, ele cai, há tiros, carros se estraçalham, pessoas são perseguidas, feridas, mutiladas.
Isso porque este é um filme de amor, um amor que se vê pela perspectiva da perda, também ela um desastre iminente.
Temos três pequenas histórias. Na primeira, Octavio, um jovem da periferia, vive uma paixão alucinada e infantil pela cunhada, casada com o irmão machista e grosseiro. Para arrancá-la do marido, Octavio põe seu cão para brigar. Com o dinheiro das apostas, sonha levá-la para longe.
No segundo, Valeria, uma belíssima modelo, que vive agarrada a um cãozinho de raça, vira a cabeça de um editor de revista. Por ela, ele abandona mulher e filhas.
O carro de Valeria choca-se com o de Octavio. A cena, digna de "Crash" (David Cronenberg, 1996), traz o inferno para a vida dos personagens. Assiste a tudo o mendigo El Chivo -protagonista da terceira história-, um assassino de aluguel, que vive rodeado de cães e chora a filha distante.
A câmera parece gravar o documentário de uma tragédia em tempo real. É sufocante, claustrofóbica, mas também melodramática. Corta das cenas de brutalidade para os rostos atormentados.
A mesma cena é exibida mais de uma vez, sob pontos de vista diferentes. Não basta exibir a dor, é preciso mostrá-la em detalhes.
Os personagens vivem o confronto do desastre com o medo do desastre. Emblemática é a cena que precede o acidente: o amigo de Octavio tenta, apenas com o dedo, deter o jorro de sangue que sai de uma ferida de bala no cão agonizante. Nessa história de amores e cães, toda a tentativa de deter a tragédia é débil e ineficaz.
(SYLVIA COLOMBO)


Amores Brutos
Amores Perros
    
Direção: Alejandro González Iñárritu
Produção: México, 2000
Com: Gael Garcia Bernal, Vanessa Bauche, Emilio Echevarria
Quando: a partir de hoje, nos cines Belas Artes, Cinearte, Lumière e Sala UOL




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