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CRÍTICA
Medo une homens e cães
DA REPORTAGEM LOCAL
O desastre é iminente. Cada
um dos três episódios que
compõem "Amores Perros" é um
barril de pólvora no qual um fósforo está prestes a cair. Quando,
inevitavelmente, ele cai, há tiros,
carros se estraçalham, pessoas são
perseguidas, feridas, mutiladas.
Isso porque este é um filme de
amor, um amor que se vê pela
perspectiva da perda, também ela
um desastre iminente.
Temos três pequenas histórias.
Na primeira, Octavio, um jovem
da periferia, vive uma paixão alucinada e infantil pela cunhada, casada com o irmão machista e
grosseiro. Para arrancá-la do marido, Octavio põe seu cão para
brigar. Com o dinheiro das apostas, sonha levá-la para longe.
No segundo, Valeria, uma belíssima modelo, que vive agarrada a
um cãozinho de raça, vira a cabeça de um editor de revista. Por ela,
ele abandona mulher e filhas.
O carro de Valeria choca-se com
o de Octavio. A cena, digna de
"Crash" (David Cronenberg,
1996), traz o inferno para a vida
dos personagens. Assiste a tudo o
mendigo El Chivo -protagonista
da terceira história-, um assassino de aluguel, que vive rodeado
de cães e chora a filha distante.
A câmera parece gravar o documentário de uma tragédia em
tempo real. É sufocante, claustrofóbica, mas também melodramática. Corta das cenas de brutalidade para os rostos atormentados.
A mesma cena é exibida mais de
uma vez, sob pontos de vista diferentes. Não basta exibir a dor, é
preciso mostrá-la em detalhes.
Os personagens vivem o confronto do desastre com o medo do
desastre. Emblemática é a cena
que precede o acidente: o amigo
de Octavio tenta, apenas com o
dedo, deter o jorro de sangue que
sai de uma ferida de bala no cão
agonizante. Nessa história de
amores e cães, toda a tentativa de
deter a tragédia é débil e ineficaz.
(SYLVIA COLOMBO)
Amores Brutos
Amores Perros
Direção: Alejandro González Iñárritu
Produção: México, 2000
Com: Gael Garcia Bernal, Vanessa
Bauche, Emilio Echevarria
Quando: a partir de hoje, nos cines Belas
Artes, Cinearte, Lumière e Sala UOL
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