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Estréia o mexicano "Amores Brutos", filme urbano e violento sobre amores e cães
Mordida de amor dói
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
Três cães. Um participa de brigas sangrentas por dinheiro, outro é tratado como criança mimada e o terceiro é um vira-lata que
faz companhia a um mendigo.
Três amores. Um adolescente
apaixonado pela cunhada, um
homem de meia-idade por uma
modelo deslumbrante, e um pai,
pela filha que não vê há anos.
Em um acidente de carro na
caótica e barulhenta Cidade do
México, cães e amores colidem
numa cena trágica. Nasce "Amores Brutos" (título mal-ajambrado em português para o original
"Amores Perros"), longa-metragem que marca a estréia no cinema do publicitário mexicano Alejandro González Iñárritu, 37.
O filme, que chega hoje às telas
brasileiras, é um dos campeões de
premiações internacionais do último ano. Entre os louros que
amealhou estão a indicação a melhor filme estrangeiro no Oscar,
os prêmios em Cannes, Chicago,
Los Angeles e SP, entre outros.
"Amores Brutos" conta três pequenas histórias de amor, passadas na violenta capital mexicana.
Em cada uma, uma paixão obsessiva e um cão. Apesar das cenas
cheias de sangue, Iñárritu diz que
não gosta que seu cinema seja
comparado ao do norte-americano Quentin Tarantino.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista que o diretor
concedeu à Folha, da Cidade do
México, onde e vive e observa a vida da cidade pela janela: "Tudo o
que está no filme está aqui na minha frente, todos os dias".
Folha - Por que cachorros?
Alejandro González Iñárritu - A
natureza do homem e a do cachorro são muito próximas. Podemos ser fiéis, nobres, humildes
e também muito leais. Ao mesmo
tempo, uma linha muito tênue
nos separa da possibilidade de
matar. É também verdade que todo cachorro se parece com seu
dono e podemos reconhecer um
ser humano ao observar o modo
como trata seu cão. Na Cidade do
México, há 4 milhões de cães.
Acredito que tudo isso teve alguma importância em minha vida.
Folha - As três histórias falam de
obsessões, mas há um romantismo
quase ingênuo. Concorda com isso?
Iñárritu - Sim. "Amores Brutos"
não é nada mais que a reunião de
histórias de amor. A de um rapaz
de 20 anos, a de um homem de 45
e a de um homem de 65. Cada um
de diferentes camadas sociais. Na
primeira, temos o amor passional, na segunda, o carnal, baseado
em uma fantasia ou ilusão, e na
terceira, o utópico e filial. Os três
são obsessivos e acho que são, na
verdade, mais do que amor. O
amor é o sentimento mais subversivo de todos, pode nos dar a razão da existência, mas, ao deformar-se, pode nos matar. Que atire
a primeira pedra quem não tenha
vivido, um dia, um amor de cão.
Folha - Você trata da violência urbana de um ponto de vista mexicano, mas parece ter influências do
cinema de Quentin Tarantino.
"Amores Brutos" nasce de uma
mistura de referências?
Iñárritu - Diferentemente do que
a crítica tem dito, não acredito
que "Amores Brutos" tenha a ver
com o cinema de Quentin Tarantino. Tarantino utiliza a violência
como um instrumento para entreter as pessoas, fazê-las rir. Vivo
em uma cidade violenta, sou vítima disso e não vejo nenhuma graça na violência. Não conheci a violência pelas histórias em quadrinhos ou pelo cinema.
Em "Amores Brutos" tratei de
desbanalizar a violência e tirar dela a frivolidade e a superficialidade, que é a forma como a utilizam,
em grande parte, os filmes norte-americanos. Tratei de explorar a
violência de uma forma mais
complexa e com as dolorosas consequências que ela traz consigo.
Folha - Como seria esse filme se
não fosse rodado no México?
Iñárritu - As histórias que são
contadas em "Amores Brutos"
poderiam acontecer em qualquer
grande cidade do mundo. O
amor, a traição, a vingança, a infidelidade, a deslealdade, a vulnerabilidade, a morte, a redenção, a
esperança, a dor e a perda são temas que não têm a ver com a nacionalidade, e sim com a essência
do nosso espírito. Acho que o cinema deve ser visto e ser feito
com o coração, não com a cabeça.
Deve emocionar e criar catarse.
Deve gerar em quem o assiste
muitas perguntas.
Folha - O que acha da recepção internacional que recebeu o filme?
Iñárritu - Foi um filme que fiz,
mais que com a cabeça ou o coração, com minhas vísceras. Ser recompensado por algo que fiz como um ato de sobrevivência é,
mais que tudo, uma surpresa.
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