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ERIKA PALOMINO
Geração Gates festeja em seu mundo windows
Tentando conhecer o novo
jovem paulistano, seus hábitos
e preferências, uma pesquisa
encomendada pela Unilever
mapeia um consumidor "diferenciado", ou seja: "Influente
em seu grupo, sintonizado
com as últimas tendências
(moda, música, cinema), bem-informado, com acesso à internet, à programação variada da
TV e que costuma viajar". Se
identificou? Então acompanhe
os resultados do material, publicados nesta coluna com exclusividade.
É a geração Gates, com dinheiro para gastar e para quem
"em princípio, tudo é permitido". O grupo foi acostumado a
ver o mundo como um grande
playground e deseja prolongar
a adolescência tanto quanto for
possível.
Filhos da globalização, cresceram sob o domínio da "cibernética" e do audiovisual,
um "mundo Windows". O hedonismo é uma ideologia de vida, completa com valores como "não viver como nossos
pais, não compactuar com o
mundo "adulto" e só confiar em
pares".
Como filhos também do divórcio, vivem um conceito de
família fragmentado, "mais
elástico, ambivalente e contraditório", em que a figura paterna é valorizada, mas que faz da
mãe a grande figura de referência. Parece confirmar.
Ao contrário de gerações anteriores ou ao contrário (hipótese) das classes mais baixas,
em que pertencer a um ou outro grupo ("tribos") faz parte
de um projeto em relação ao
mundo, para os jovens de classe média de São Paulo entre 15
e 22 anos, a tribalização nada
mais é do que uma grande
brincadeira, sem juízo de valor
ou significado existencial. Trata-se de um exercício temporário, o da tribalização por 15 minutos (punk, clubber etc...).
A idéia é fazer tudo ao mesmo tempo, e a relação com as
várias mídias é marcada pela
"intensa mobilidade e volatibilidade". Trata-se de uma "geração elétrica" (o conceito é ótimo), rápida, que consome e assiste à TV ao mesmo em que
faz outras coisas, o que inclui o
uso do computador, por garotas e rapazes. "O zapear é uma
coisa maluca, porque dá para
pensar como as narrativas estão sendo construídas. Ninguém mais assiste a uma coisa
inteira e ninguém mais sabe
contar um filme do começo ao
fim", surpreende-se a antropóloga Silvia Borelli, que participou da pesquisa.
Entenda quem quiser e ousar. Essa é uma geração que
veio mais para confundir do
que para explicar. E nem
adianta reclamar. Estamos aí.
QUEM É ESSE TAL DE VAVÁ RIBEIRO?
Você certamente vai ouvir falar
bastante dele. O rapaz tem talento. E não precisou se encostar em ninguém famoso para
aparecer. Vavá Ribeiro é um
dos mais talentosos fotógrafos
da nova geração. Mora em Nova York há uns dez anos e começou a trabalhar como assistente de fotógrafo para pagar
suas viagens de surfe (prática
que não abandonou: mês que
vem vai aprimorar a técnica de
tube riding na Indonésia). De lá
para cá, ganhou menção especial do júri do Hyers (festival de
fotografia do sul da França) e,
no momento, desenvolve um
projeto para a boutique francesa Colette, um livro "pessoal" e
ensaios para as revistas "Big",
"i-D" e "Mixte". Como chegou
"lá"? Fugindo da "foto de tendência", ele diz. "Fotografo as
coisas que são emotivas para
mim. Gosto de pessoas. As pessoas são sempre mais interessantes do que suas roupas. Pessoas, ondas e sorvete de manga." Agora Vavá acaba de entrar
para o time de fotógrafos da
The Photographers Gallery, em
Londres, de que fazem parte
Nan Goldin e Cartier Bresson.
As fotos arquivadas pela galeria
devem virar exposição ano que
vem. Sabe um trabalho dele recente? As fotos da Ira na "Trip"
(não concordo muito com a do
dedão do pé, mas tudo bem...).
"QUEER AS FOLK" ESTRÉIA NO BRASIL
Finalmente vai estrear no Brasil
o polêmico e adorado "Queer as
Folk", um seriado gay sem
meias palavras. Aqui, a estréia é
com a versão americana da série inglesa e acontece dia primeiro de junho, à meia-noite,
no canal Cinemax, da TVA e
DirecTV. O nome por aqui virou "Os Assumidos", que é
meio uó, não? Quem quiser conhecer os personagens pode
entrar no site www.sho.com/
queer. Na mesma noite da estréia, o canal Cinemax exibe o
famoso "O Outro Lado de
Hollywood" ("Celluloid Closet"). E junho é tempo de cultura gay mesmo: está confirmada
para o dia 17 a Parada Gay, que
promete detonar. Se joga, bi!
VAMOS NA LENHA SEM PRECONCEITO
Waaal! E a história da lenha da
semana passada deu samba, né?
O assunto movimentou as sempre animadas listas de discussão de música eletrônica no
Brasil todo, e tem muita gente
advogando a autoria da gíria.
No Br-raves, me contam, diz
que surgiu no Rio, na pista do
José Roberto Mahr, em 92. Já o
povo de Santa Catarina escreveu para cá dizendo que, como
bons lenheiros, a palavra apareceu numa brincadeira clubber
de lá e pegou. E houve quem
dissesse ainda que o hard techno parece um "serrilhar de madeira". Bom, como filha bonita,
apareceu um monte de pais e
mães da gíria. Mas nem é isso
que vem ao caso, né? E gostar de
lenha não elimina o gosto por
outras coisas, não é excludente!
Por falta de espaço, faltou dizer
também semana passada que o
que eu acho muito legal é quando um DJ conduz o povo na pista por momentos mais pesados
e outros mais suaves, fazendo o
que quer com o corpo da gente.
E confirmou. Dessas coincidências incríveis da vida clubber,
para fazer o povo bater o pé de
verdade, toca amanhã na Lôca o
inglês Inigo Kennedy, lenheiro
de primeira. Pesa, Inigo, pesa!
FINLANDÊS HYPE TOCA HOJE NO LOV.E
O simpático projeto Technova
traz hoje ao Lov.e o DJ e produtor finlandês Jori Hulkkonen,
que lança pelo selo FCommunications, do Laurent Garnier. Influenciado pelo tecno de Detroit e Chicago, Jori deve animar o povo. E já viu como está
renovada esta noite do clube?
Tem muita gente nova, é uma
outra geração do gênero, muito
boa. Quem estiver sem grana
mesmo, mas quiser conhecer o
trabalho do finlandês voador
pode se jogar para a galeria Ouro Fino, onde ele toca no SmartBiz café das 17h às 20h, com outro gringo, o francês Colt. Ambiente eletrônico total. Na faixa.
EU QUERO DE VOLTA A MINHA MTV!
Viu o clipe novo da Janet Jackson? Viu? Na MTV?
Não. Pois é. Muita gente
tem comentado que está difícil ver clipes na MTV. Eu
quero dizer esses que acabaram de sair, esses que sempre fizeram quem se interessa pelo que está saindo
colar na emissora. Eu mesma não tenho conseguido
ver. Toda vez que ligo (praticamente) tem um dos VJs
engraçadinhos e ansiosos
da nova leva da MTV. Bom,
vai ver que como não sou
adolescente não sou mais
target, vai ver ligo na hora
errada, sei lá. Tentando
prestar um serviço ao leitor
(e a mim mesma), falei com
a assessoria de imprensa para tentar descobrir a que horas afinal passam clipes tipo
o da Janet, o da Madonna,
algum clipe "famoso". Eles
me informam que a programação da emissora foi mudada em março justamente para passar mais clipes e
que eles estão exibindo
19h30 minutos de clipes!!!
Mas no domingo, por
exemplo, para as criaturas
que trabalham feito umas
loucas durante a semana
(como eu), eles só passam
programas SEM CLIPES,
como o "Em Busca da Fama" e o "Todomundo TV".
No sábado, a programação
traz o "Top 20 Brasil", às
13h30, e depois é uma sequência de programas "segmentados" ("Riff", "Yo"
etc.). Entendo que há pesquisas, entendo um monte
de coisa. Mas a que horas a
gente vai ver a Janet?
ATÉ QUE ENFIM, UM HOTEL BACANA EM SP
Quem passa pela Oscar Freire
logo vê, do lado direito. É o
Emiliano, o mais novo e sensacional hotel design de São Paulo. O projeto é de Arthur de
Mattos Casas e é de bom gosto
irretocável, acabamento impecável e preço condizente com o
espírito de luxo moderno. É até
clichê falar que o Emiliano é da
família de seus pares em NY,
Londres e Paris. "Vai ser o mais
legal e único até 2003", antecipa
Arthur. São 57 quartos, com um
estilo limpo e ênfase no clássico
-dentro do moderno. Como
SP não é exatamente uma cidade turística, a idéia é que o hóspede não se canse do hotel e
possa ficar lá várias vezes. Por
enquanto, quem ficou no Emiliano foram convidados, como
Caetano Veloso e Nizan Guanaes. Mês que vem abre para o
público. Não perca.
A VOZ DO ELETRÔNICO COOL NO RIO
Bebel Gilberto foi a estrela do
Prêmio Multishow, esta semana
no Rio. Mas, se para seu público
ardoroso, que a viu pela TV, foram momentos de júbilo, nem
todos os artistas e profissionais
da indústria fonográfica entenderam a história muito pessoal
e moderna da cantora, que mora em Nova York e é uma das
sensações internacionais do novo made-in-Brazil. Paula Toller,
por exemplo, saiu no meio. Espontânea como sempre, Bebel
disse, na hora: "Olha, as pessoas
estão saindo...". "Eu nem me
lembrava que eu tinha falado isso. Para mim, foi uma prova de
fogo", disse a cantora por telefone, do Rio, no dia seguinte.
"Fiquei muito assustada, eu via
todo mundo, com aquela luz
acesa." Bebel diz que não pensou "que todos estavam vendo". Perguntada se rolou um
estranhamento pelo fato de que
ela não mora aqui e que aquele
era um prêmio corporativista,
ela diz que "sim". "Fora que essa coisa de prêmio ainda tem
um clima de quem ficou triste e
quem ficou alegre..." Mesmo
assim, a diva cool dançou, sexy
à sua moda, grandiosa e pequenina, brasileira e internacional.
Do show, guarda com carinho a
performance (sensacional) com
Otto e a participação com Caetano Veloso (eles tinham cantado juntos em abril, em NY). Bebel usou um vestido desenhado
por Ana Abdul, da loja nova-iorquina Language, e sandálias
Mahnolo Blahnik que desamarraram ("me derrubou, né?").
Bebel nem aí. "O Brasil está na
moda por vários motivos, me
sinto sortuda. Agora você fala
que é do Brasil e tem carta branca." Ela segue para turnê nos
EUA e na Europa e se apresenta
também em Montreux. "Quero
ser tão brasileira no Brasil
quanto sou lá fora."
A VOZ DO DRUM'N'BASS EM SP
Fernanda Porto, conhecida como "a voz do drum'n'bass brasileiro", canta hoje às 19h30 no
Centro Cultural São Paulo (r.
Vergueiro, 1.000, ingressos a R$
12). Fernanda é legal. É ela a voz
(e a autoria da faixa também)
do hit "Sambassim", que remixada por Patife é trilha da novela "Um Anjo Caiu do Céu" e foi
citada em revistas gringas como
a "DJ Mag", "Jockey Slut" e "Face". Cantora de MPB, Fernanda
se descobriu no eletrônico em
97. De lá para cá, se jogou para
Londres e até se apresentou
com Patife ao vivo na "Radio
One", coisa inédita até para
profissionais internacionais.
Depois do Winter Music Conference com Marky (quando enfrentou problemas de som),
Fernanda chega ao CCSP cheia
de gás para cantar com Xerxes
de Oliveira. Isso é para aqueles
chatos que acham (ainda) que a
cultura eletrônica brasileira é
importada...
Colaborou Carolina Overmeer, free-lance para a Folha.
Internet: www.erikapalomino.com.br
E-mail: palomino@uol.com.br
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