São Paulo, sexta-feira, 25 de maio de 2001

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ERIKA PALOMINO

Geração Gates festeja em seu mundo windows

Tentando conhecer o novo jovem paulistano, seus hábitos e preferências, uma pesquisa encomendada pela Unilever mapeia um consumidor "diferenciado", ou seja: "Influente em seu grupo, sintonizado com as últimas tendências (moda, música, cinema), bem-informado, com acesso à internet, à programação variada da TV e que costuma viajar". Se identificou? Então acompanhe os resultados do material, publicados nesta coluna com exclusividade.
É a geração Gates, com dinheiro para gastar e para quem "em princípio, tudo é permitido". O grupo foi acostumado a ver o mundo como um grande playground e deseja prolongar a adolescência tanto quanto for possível.
Filhos da globalização, cresceram sob o domínio da "cibernética" e do audiovisual, um "mundo Windows". O hedonismo é uma ideologia de vida, completa com valores como "não viver como nossos pais, não compactuar com o mundo "adulto" e só confiar em pares".
Como filhos também do divórcio, vivem um conceito de família fragmentado, "mais elástico, ambivalente e contraditório", em que a figura paterna é valorizada, mas que faz da mãe a grande figura de referência. Parece confirmar.
Ao contrário de gerações anteriores ou ao contrário (hipótese) das classes mais baixas, em que pertencer a um ou outro grupo ("tribos") faz parte de um projeto em relação ao mundo, para os jovens de classe média de São Paulo entre 15 e 22 anos, a tribalização nada mais é do que uma grande brincadeira, sem juízo de valor ou significado existencial. Trata-se de um exercício temporário, o da tribalização por 15 minutos (punk, clubber etc...).
A idéia é fazer tudo ao mesmo tempo, e a relação com as várias mídias é marcada pela "intensa mobilidade e volatibilidade". Trata-se de uma "geração elétrica" (o conceito é ótimo), rápida, que consome e assiste à TV ao mesmo em que faz outras coisas, o que inclui o uso do computador, por garotas e rapazes. "O zapear é uma coisa maluca, porque dá para pensar como as narrativas estão sendo construídas. Ninguém mais assiste a uma coisa inteira e ninguém mais sabe contar um filme do começo ao fim", surpreende-se a antropóloga Silvia Borelli, que participou da pesquisa.
Entenda quem quiser e ousar. Essa é uma geração que veio mais para confundir do que para explicar. E nem adianta reclamar. Estamos aí.

QUEM É ESSE TAL DE VAVÁ RIBEIRO?
Você certamente vai ouvir falar bastante dele. O rapaz tem talento. E não precisou se encostar em ninguém famoso para aparecer. Vavá Ribeiro é um dos mais talentosos fotógrafos da nova geração. Mora em Nova York há uns dez anos e começou a trabalhar como assistente de fotógrafo para pagar suas viagens de surfe (prática que não abandonou: mês que vem vai aprimorar a técnica de tube riding na Indonésia). De lá para cá, ganhou menção especial do júri do Hyers (festival de fotografia do sul da França) e, no momento, desenvolve um projeto para a boutique francesa Colette, um livro "pessoal" e ensaios para as revistas "Big", "i-D" e "Mixte". Como chegou "lá"? Fugindo da "foto de tendência", ele diz. "Fotografo as coisas que são emotivas para mim. Gosto de pessoas. As pessoas são sempre mais interessantes do que suas roupas. Pessoas, ondas e sorvete de manga." Agora Vavá acaba de entrar para o time de fotógrafos da The Photographers Gallery, em Londres, de que fazem parte Nan Goldin e Cartier Bresson. As fotos arquivadas pela galeria devem virar exposição ano que vem. Sabe um trabalho dele recente? As fotos da Ira na "Trip" (não concordo muito com a do dedão do pé, mas tudo bem...).

"QUEER AS FOLK" ESTRÉIA NO BRASIL
Finalmente vai estrear no Brasil o polêmico e adorado "Queer as Folk", um seriado gay sem meias palavras. Aqui, a estréia é com a versão americana da série inglesa e acontece dia primeiro de junho, à meia-noite, no canal Cinemax, da TVA e DirecTV. O nome por aqui virou "Os Assumidos", que é meio uó, não? Quem quiser conhecer os personagens pode entrar no site www.sho.com/ queer. Na mesma noite da estréia, o canal Cinemax exibe o famoso "O Outro Lado de Hollywood" ("Celluloid Closet"). E junho é tempo de cultura gay mesmo: está confirmada para o dia 17 a Parada Gay, que promete detonar. Se joga, bi!

VAMOS NA LENHA SEM PRECONCEITO
Waaal! E a história da lenha da semana passada deu samba, né? O assunto movimentou as sempre animadas listas de discussão de música eletrônica no Brasil todo, e tem muita gente advogando a autoria da gíria. No Br-raves, me contam, diz que surgiu no Rio, na pista do José Roberto Mahr, em 92. Já o povo de Santa Catarina escreveu para cá dizendo que, como bons lenheiros, a palavra apareceu numa brincadeira clubber de lá e pegou. E houve quem dissesse ainda que o hard techno parece um "serrilhar de madeira". Bom, como filha bonita, apareceu um monte de pais e mães da gíria. Mas nem é isso que vem ao caso, né? E gostar de lenha não elimina o gosto por outras coisas, não é excludente! Por falta de espaço, faltou dizer também semana passada que o que eu acho muito legal é quando um DJ conduz o povo na pista por momentos mais pesados e outros mais suaves, fazendo o que quer com o corpo da gente. E confirmou. Dessas coincidências incríveis da vida clubber, para fazer o povo bater o pé de verdade, toca amanhã na Lôca o inglês Inigo Kennedy, lenheiro de primeira. Pesa, Inigo, pesa!

FINLANDÊS HYPE TOCA HOJE NO LOV.E
O simpático projeto Technova traz hoje ao Lov.e o DJ e produtor finlandês Jori Hulkkonen, que lança pelo selo FCommunications, do Laurent Garnier. Influenciado pelo tecno de Detroit e Chicago, Jori deve animar o povo. E já viu como está renovada esta noite do clube? Tem muita gente nova, é uma outra geração do gênero, muito boa. Quem estiver sem grana mesmo, mas quiser conhecer o trabalho do finlandês voador pode se jogar para a galeria Ouro Fino, onde ele toca no SmartBiz café das 17h às 20h, com outro gringo, o francês Colt. Ambiente eletrônico total. Na faixa.

EU QUERO DE VOLTA A MINHA MTV!
Viu o clipe novo da Janet Jackson? Viu? Na MTV? Não. Pois é. Muita gente tem comentado que está difícil ver clipes na MTV. Eu quero dizer esses que acabaram de sair, esses que sempre fizeram quem se interessa pelo que está saindo colar na emissora. Eu mesma não tenho conseguido ver. Toda vez que ligo (praticamente) tem um dos VJs engraçadinhos e ansiosos da nova leva da MTV. Bom, vai ver que como não sou adolescente não sou mais target, vai ver ligo na hora errada, sei lá. Tentando prestar um serviço ao leitor (e a mim mesma), falei com a assessoria de imprensa para tentar descobrir a que horas afinal passam clipes tipo o da Janet, o da Madonna, algum clipe "famoso". Eles me informam que a programação da emissora foi mudada em março justamente para passar mais clipes e que eles estão exibindo 19h30 minutos de clipes!!! Mas no domingo, por exemplo, para as criaturas que trabalham feito umas loucas durante a semana (como eu), eles só passam programas SEM CLIPES, como o "Em Busca da Fama" e o "Todomundo TV". No sábado, a programação traz o "Top 20 Brasil", às 13h30, e depois é uma sequência de programas "segmentados" ("Riff", "Yo" etc.). Entendo que há pesquisas, entendo um monte de coisa. Mas a que horas a gente vai ver a Janet?

ATÉ QUE ENFIM, UM HOTEL BACANA EM SP
Quem passa pela Oscar Freire logo vê, do lado direito. É o Emiliano, o mais novo e sensacional hotel design de São Paulo. O projeto é de Arthur de Mattos Casas e é de bom gosto irretocável, acabamento impecável e preço condizente com o espírito de luxo moderno. É até clichê falar que o Emiliano é da família de seus pares em NY, Londres e Paris. "Vai ser o mais legal e único até 2003", antecipa Arthur. São 57 quartos, com um estilo limpo e ênfase no clássico -dentro do moderno. Como SP não é exatamente uma cidade turística, a idéia é que o hóspede não se canse do hotel e possa ficar lá várias vezes. Por enquanto, quem ficou no Emiliano foram convidados, como Caetano Veloso e Nizan Guanaes. Mês que vem abre para o público. Não perca.

A VOZ DO ELETRÔNICO COOL NO RIO
Bebel Gilberto foi a estrela do Prêmio Multishow, esta semana no Rio. Mas, se para seu público ardoroso, que a viu pela TV, foram momentos de júbilo, nem todos os artistas e profissionais da indústria fonográfica entenderam a história muito pessoal e moderna da cantora, que mora em Nova York e é uma das sensações internacionais do novo made-in-Brazil. Paula Toller, por exemplo, saiu no meio. Espontânea como sempre, Bebel disse, na hora: "Olha, as pessoas estão saindo...". "Eu nem me lembrava que eu tinha falado isso. Para mim, foi uma prova de fogo", disse a cantora por telefone, do Rio, no dia seguinte. "Fiquei muito assustada, eu via todo mundo, com aquela luz acesa." Bebel diz que não pensou "que todos estavam vendo". Perguntada se rolou um estranhamento pelo fato de que ela não mora aqui e que aquele era um prêmio corporativista, ela diz que "sim". "Fora que essa coisa de prêmio ainda tem um clima de quem ficou triste e quem ficou alegre..." Mesmo assim, a diva cool dançou, sexy à sua moda, grandiosa e pequenina, brasileira e internacional. Do show, guarda com carinho a performance (sensacional) com Otto e a participação com Caetano Veloso (eles tinham cantado juntos em abril, em NY). Bebel usou um vestido desenhado por Ana Abdul, da loja nova-iorquina Language, e sandálias Mahnolo Blahnik que desamarraram ("me derrubou, né?"). Bebel nem aí. "O Brasil está na moda por vários motivos, me sinto sortuda. Agora você fala que é do Brasil e tem carta branca." Ela segue para turnê nos EUA e na Europa e se apresenta também em Montreux. "Quero ser tão brasileira no Brasil quanto sou lá fora."

A VOZ DO DRUM'N'BASS EM SP
Fernanda Porto, conhecida como "a voz do drum'n'bass brasileiro", canta hoje às 19h30 no Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1.000, ingressos a R$ 12). Fernanda é legal. É ela a voz (e a autoria da faixa também) do hit "Sambassim", que remixada por Patife é trilha da novela "Um Anjo Caiu do Céu" e foi citada em revistas gringas como a "DJ Mag", "Jockey Slut" e "Face". Cantora de MPB, Fernanda se descobriu no eletrônico em 97. De lá para cá, se jogou para Londres e até se apresentou com Patife ao vivo na "Radio One", coisa inédita até para profissionais internacionais. Depois do Winter Music Conference com Marky (quando enfrentou problemas de som), Fernanda chega ao CCSP cheia de gás para cantar com Xerxes de Oliveira. Isso é para aqueles chatos que acham (ainda) que a cultura eletrônica brasileira é importada...


Colaborou Carolina Overmeer, free-lance para a Folha.


Internet: www.erikapalomino.com.br

E-mail: palomino@uol.com.br




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