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CINEMA
Cinebiografia refaz o percurso do músico, morto em 1990, aos 32 anos; SP sedia hoje sessão que precede a estréia
Filme vai em busca do tempo de Cazuza
DA REPORTAGEM LOCAL
A vida breve de Cazuza (1958-90) seguiu o ritmo que o cantor e
compositor quis dar a ela. "Ele dizia que preferia viver dez anos a
mil. Pagou um preço muito alto,
mas, pelo menos, fez o que queria", diz Lucinha Araújo, mãe do
músico e presidente da sociedade
Viva Cazuza, que ampara crianças com Aids, doença que vitimou
seu filho, aos 32 anos, quando já
havia se inscrito como um dos
grandes nomes do rock nacional.
A análise sobre a relação de Cazuza com o tempo foi feita por Lucinha num encontro, proposto
pela Folha, com a cineasta Sandra
Werneck, no momento em que a
segunda preparava o roteiro de
um filme sobre o músico, a partir
do livro testemunhal da primeira
("Cazuza - Só as Mães São Felizes", editora Globo, 402 págs.).
Era junho de 2001, e Sandra travava consigo um embate para encontrar a "leitura própria" capaz
de afastar seu filme, co-dirigido
pelo fotógrafo Walter Carvalho,
do estigma de livro filmado.
"Eu me apaziguei quando finalmente entendi o que era o tempo
para o Cazuza. O filme assumiu a
levada desse tempo diferente, da
maneira como ele encarava a vida", disse Sandra, no último sábado, com filme e malas prontos para voar para São Paulo.
Hoje, a presidente da Sociedade
Amigos da Cinemateca, Cosette
Alves, recebe cem convidados na
Sala Cinemateca, para assistir à
primeira exibição de "Cazuza - O
Tempo Não Pára". Eis o título definitivo do filme, que teve como
possibilidades anteriores "Cazuza
- Eu Preciso Dizer que te Amo" e
"Cazuza - Ideologia", ambos
exemplos dos cursos narrativos
que o filme poderia ter seguido,
não tivesse Sandra desvendado o
enigma de Cazuza e seu tempo.
Acontecimentos históricos dos
anos 80 -período em que Cazuza despontou como líder da banda Barão Vermelho, para mais
tarde se firmar em carreira solo-
pontuam o filme, que estréia nacionalmente no próximo dia 11.
O atentado a bombas no Riocentro, em 1981, e a morte do presidente eleito Tancredo Neves, em
1985, têm na história a função de
"momentos que situam a década", de acordo com Sandra.
Além das músicas de Cazuza,
que estão quase integralmente incluídas no filme, o espectador ouvirá outros sucessos dos 80, cravados por Angela Ro Ro e Blitz, entre outros.
Mas o objetivo da diretora não
foi produzir uma revisão cinematográfica da cena BRock, momento efervescente do rock brasileiro,
e sim mirar a vida de "um poeta
que ajudou o país a se pensar".
A preocupação com que Lucinha mapeou seus relatos no livro
e que gostaria de ver expressa
também no filme é a de revelar ao
público "um outro Cazuza, não
aquele que tirava a calça e mostrava a bunda no palco, que se drogava e ficava louco".
A mãe do músico define o temperamento do filho como "agridoce" e diz que o público talvez
não tenha tomado conhecimento
desse outro Cazuza, "doce, meigo,
carinhoso, familiar, adorado pelos primos, filho amantíssimo,
neto queridinho dos avós, rei das
empregadas domésticas, defensor
das minorias".
Sandra está convencida de que
conseguiu levar à tela a ambivalência afetiva de um artista que
não deixou de lado nem a doçura
nem o amargor quando comunicou à mãe sua doença mortal:
"Alguma coisa tinha que dar errado. Você era costureira, virou
dondoca. Papai [o empresário
musical João Araújo] era pobre,
ficou rico. Eu era a ovelha negra
da família, virei ídolo nacional.
Bom demais para ser verdade".
(SILVANA ARANTES)
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