São Paulo, domingo, 25 de maio de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Televisão - Crítica

"Mash" mostra que o cinema envelheceu

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

O único desgosto de rever "Mash" (TC Cult, 22h) quase 40 anos depois é constatar o quanto o cinema envelheceu nesse período. O que era, em 1970, ainda uma arte jovem, impetuosa e irresponsável tornou-se nesse meio tempo uma expressão respeitosa, sisuda, que procura, na falta de imaginação de um Indiana Jones, por exemplo, prolongar seu estado agônico.
Ok, talvez não seja bem isso, e talvez quem tenha envelhecido nessas quatro décadas seja o mundo. Em 1970, estávamos perto da sublevação vital de 1968. Em "Mash", por exemplo, estamos em um hospital de campanha em plena Guerra da Coréia e ninguém se vexa de achar que um pastor, quando reza, está doido. Na saudável anarquia que ali vigora, Sally Kellerman é uma caxias que, por marotagem dos médicos, passa a se chamar Lábios Ardentes. Pois a anarquia que ali se instaura não pretende tomar o poder, tirar o lugar de ninguém. A lei marcial é uma piada e o objetivo, voltar para casa.
É possível mesmo que "Mash" hoje mostre melhor suas virtudes de comédia corrosiva. Na época, havia o Vietnã, e o combate ao militarismo pelo riso podia ser assimilado à campanha pelo fim da guerra. Hoje o filme perdeu esse interesse e se mostra melhor como representação de uma época. É a comédia de um mundo menos controlado, em que mesmo nas ditaduras podia-se sonhar com a liberdade. Hoje sonhamos com crachás e câmeras ocultas.


Texto Anterior: Bia Abramo: Dramaturgia estaciona, marketing avança
Próximo Texto: "Coleção Folha" traz Graciliano Ramos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.