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Televisão - Crítica
"Mash" mostra que o cinema envelheceu
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
O único desgosto de rever
"Mash" (TC Cult, 22h) quase
40 anos depois é constatar o
quanto o cinema envelheceu
nesse período. O que era, em
1970, ainda uma arte jovem,
impetuosa e irresponsável tornou-se nesse meio tempo uma
expressão respeitosa, sisuda,
que procura, na falta de imaginação de um Indiana Jones,
por exemplo, prolongar seu estado agônico.
Ok, talvez não seja bem isso,
e talvez quem tenha envelhecido nessas quatro décadas seja o
mundo. Em 1970, estávamos
perto da sublevação vital de
1968. Em "Mash", por exemplo,
estamos em um hospital de
campanha em plena Guerra da
Coréia e ninguém se vexa de
achar que um pastor, quando
reza, está doido. Na saudável
anarquia que ali vigora, Sally
Kellerman é uma caxias que,
por marotagem dos médicos,
passa a se chamar Lábios Ardentes. Pois a anarquia que ali
se instaura não pretende tomar
o poder, tirar o lugar de ninguém. A lei marcial é uma piada
e o objetivo, voltar para casa.
É possível mesmo que
"Mash" hoje mostre melhor
suas virtudes de comédia corrosiva. Na época, havia o Vietnã, e o combate ao militarismo
pelo riso podia ser assimilado à
campanha pelo fim da guerra.
Hoje o filme perdeu esse interesse e se mostra melhor como
representação de uma época. É
a comédia de um mundo menos
controlado, em que mesmo nas
ditaduras podia-se sonhar com
a liberdade. Hoje sonhamos
com crachás e câmeras ocultas.
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