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CONTOS MÍNIMOS
Escravidão eterna
HELOISA SEIXAS
Outro dia me perguntaram por que escrevo. Tentei
explicar, titubeante. Mas
que importa? O fato é que
escrevemos e, fazendo-o,
vendemos a alma ao demônio. Só isso é capaz de explicar o delírio recorrente que
nos leva a, mil vezes, sempre e sempre, encher o pote
de fantasia que acabamos de
esvaziar. Somos os escravos
que, depois de libertos, continuarão no eito -porque
não sabem fazer mais nada.
É inútil. Não tem sentido. E
no entanto continuamos,
sem que nos socorram. Foi
por isso que um dia Carlos
Heitor Cony desabafou:
"Eu escrevo e ninguém toma providências".
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