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Palma para Angelopoulos
France Press
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Theo Angelopoulos vencedor da Palma de Ouro do 51º Festival Internacional de Cannes com 'Mia Eoniotita Ke Mia Mera'
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O diretor grego recebe
a Palma de Ouro por
"A Eternidade e um
Dia"; Grande Prêmio
vai para o italiano
Roberto Benigni, por
"A Vida É Bela"
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AMIR LABAKI
enviado especial a Cannes
Afinal chegou a hora de Theo
Angelopoulos: em sua quinta tentativa, o cineasta grego conquistou
ontem com "Mia Eoniotita Ke
Mia Mera" (A Eternidade e um
Dia) a Palma de Ouro do 51º Festival Internacional de Cannes.
Sisuso, lembrou a reclamação
que fez há três anos ao perdê-la
com "Um Olhar a Cada Dia" para
"Underground", de Emir Kusturica. Foi sintético: "Meu Deus,
não tenho palavras", começou dizendo. Deu o puxão de orelhas no
festival e encerrou com um "obrigado".
O contraste não poderia ser
maior com o show protagonizado
minutos antes pelo cineasta italiano Roberto Benigni. Vencedor do
Grande Prêmio com "La Vita È
Bella" (A Vida É Bela), Benigni
subiu ao palco eufórico, confundiu-se todo agradecendo ("Obrigado pela Palma de Ouro"), atirou-se aos pés do presidente do júri, Martin Scorsese, e fez questão
de beijar os jurados um a um.
Eram prêmios esperados, assim
como a maioria dos que os precederam. "Mia Eoniotita Ke Mia
Mera" é um sensível drama sobre
o encontro de um escritor à beira
da morte (Bruno Ganz) e um garoto de rua exilado da Albânia
(Achileas Skevis).
Não renova a filmografia de Angelopoulos, tradicionalmente dedicada ao resgate da memória,
mas deve expandir seu público,
devido à maior fluência narrativa.
"La Vita È Bella" nem precisaria do prêmio para conquistar espectadores do mundo todo. Benigni dirigiu e protagonizou o que
define como "um filme de um comediante sobre o Shoah
(Holocausto)". Esse legítimo herdeiro de
"O Grande Ditador", de Chaplin, é
um fenômeno de bilheteria na Itália. Cannes apenas lhe adiciona
agora um carimbo de autoridade
estética.
As jovens francesas Elodie Bouchez e Natasha Regnier eram as favoritas como a dupla de jovens solitárias de temperamento oposto
em "La Vie Rêvée des Anges" (A
Vida Onírica dos Anjos), do estreante Erick Zonca. De saia escocesa, Peter Mullan só poderia mesmo dividir com o diretor Ken
Loach o prêmio de melhor ator por
"My Name is Joe" (Meu Nome é
Joe).
A polêmica instaura-se daí para
baixo. "The General" (O General),
sobre o principal ladrão irlandês
dos anos 90, é o melhor filme recente de John Boorman. Há um
exagero e tanto em atribuir-lhe o
prêmio de direção, repetindo o que
já acontecera com ele há 28 anos
por "Príncipe sem Palácio".
"Henry Fool" é o mais fraco dos
filmes de Hal Hartley e parte do
problema é a ambição desmesurada da segunda parte do roteiro.
Não há justificativa para premiá-lo.
O Prêmio do Júri foi concedido a
dois filmes que tratam da violência sexual contra crianças: "La
Classe de Neige" (A Aula de Esqui), de Claude Miller, e "Festen"
(Festa de Família), de Thomas
Vinterberg. Um é clássico, o outro,
inquieto e ousado. Parece mais um
reconhecimento à coragem de
abordar o tema do que um julgamento apenas cinematográfico.
A maior ousadia foi a concessão
"extra" de um prêmio de melhor
contribuição artística a "Velvet
Goldmine", de Todd Haynes. Foi o
justo reconhecimento ao mais experimental dos títulos da competição, sem embargo da irregularidade.
Por sua vez, o júri de curtas não
resistiu a uma patriotada. O francês "L'Interview", de Xavier Giannoli, é uma reconstituição não
mais que simpática de uma entrevista de um repórter com Ava
Gardner, pouco antes da morte da
atriz de "A Condessa Descalça".
Os dois curtas mais criativos
acabaram dividindo o Prêmio do
Júri: "Horseshoe", de David Lodge,
e "Gasman", de Lynne Ramsay.
Três dos cinco jurados de curtas
eram franceses, incluindo o presidente, Jean-Pierre Jeunet ("Delicatessen"). Dá nisso.
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