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Festival trouxe Godzila gótico e novata de 18 anos
LEON CAKOFF
enviado especial a Cannes
A safra cinematográfica é das
boas. O 51º Festival de Cannes ofereceu imagens animadoras. Muitos filmes trabalham o pessimismo
do fim do milênio.
Mas é a mesma virada de século
que faz as imagens serem possíveis
através de qualquer registro, da
mais ordinária câmera de vídeo
Hi-8 -"Festen" (Festa de Família), do dinamarquês Thomas Vinterberg, Prêmio do Júri- aos
mais sofisticados equipamentos e
estúdios, como em "Tango", do
espanhol Carlos Saura.
Mas o melhor, por unanimidade
do júri, é mesmo o já clássico
"Mia Eoniotita Ke Mia Mera" (A
Eternidade e um Dia), do grego
Theo Angelopoulos.
O cineasta é o grande mestre do
impacto visual e do refinamento
técnico entre todos os filmes vistos
neste ano.
Com poucos elementos e um elegante passeio de câmera em ritmo
lento, segue-se um escritor (Bruno
Ganz, magistral), em fim de vida,
remoendo o passado e suas melhores lembranças.
Diz-se que todos os cineastas se
repetem. Mas há quem se repita
melhor do que os outros. Angelopoulos, com este "Mia Eoniotita
Ke Mia Mera", volta a incomodar
com o seu eterno tema das fronteiras balcânicas e a busca de uma
paternidade perdida.
O escritor interrompe sua viagem para ajudar um menino refugiado da Albânia. Atônitos, como
espectadores, entendemos que a
crise do escritor tem a ver com as
monstruosidades que a história
recente nos oferece.
A dança do tango
"Tango", de Carlos Saura, tem
a habitual colaboração do diretor
de fotografia italiano Vittorio Storaro (Grande Prêmio Técnico).
O filme é cheio de recortes e cores quentes. Saura faz ver a política
do infame passado militar argentino com ótimos tangos compostos
por Lalo Schifrin. O samba está
nos planos futuros do cineasta.
Mascote do festival
Ela tem 18 anos, deixou os estudos aos 16 e foi a miss simpatia do
festival, com o seu impressionante
filme "A Maçã". Samira Makhmalbaf, filha do famoso cineasta
iraniano Mohsen Makhmalbaf
("Gabbeh", "Salve o Cinema",
"Um Instante de Inocência"), segue a escola rebelde do pai.
Deixou a escola por não aguentar a discriminação contra mulheres no Irã. Em compensação, a
França a adotou. Foi declarada
mascote do festival pela imprensa
francesa e ganhou uma bolsa para
aprender francês na universidade
de Sorbonne.
Samira já estava no cinema desde os cinco anos, quando apareceu no filme "O Ciclista", que
deu notoriedade internacional ao
seu pai.
Para conseguir rodar "A Maçã", enganou o pai no começo,
pedindo-lhe negativos do seu estoque. Para não assustá-lo, disse
que iria rodar um curta. Assim, foi
lhe subtraindo aos poucos o material de que precisava.
O notável nesta escola primitiva
de cinema é a simplicidade de recursos e de temática que resulta
em diretas e emocionantes parábolas sobre tirania e liberdade.
Glam Rock
Foi a fervura máxima do festival,
com o rock dos anos 70, overdose
de androgenia e uma indisfarçável
inspiração em David Bowie.
É "Velvet Goldmine" (prêmio
de melhor contribuição artística),
do americano Todd Haynes. A sexualidade (gay) está no subtexto
de todo o filme musical. Felizmente não a droga.
Godzila
O inevitável monstro japonês
volta gótico. É tanto efeito sonoro
e tensão que a dor de cabeça ataca
logo na primeira metade do filme.
Entende-se porque foi escolhido
para fechar o festival. Há muita referência à França, além de ter Jean
Reno num dos papéis principais.
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