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TEATRO
"Vestir o Pai", de Mário Viana, ganha leitura hoje no auditório da Folha
Peça desata falsos laços familiares
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Velório é matéria corrente na
dramaturgia tragicômica. Ao redor de um caixão, viúvas ou filhos
rendem frases lapidares -que o
diga Nelson Rodrigues.
Em "Vestir o Pai", cartaz de hoje
no ciclo "Leituras de Teatro", no
auditório da Folha, o paulistano
Mário Viana não elege o defunto,
mas um velho moribundo, personagem oculto da peça sobre a assepsia sentimental de uma família
de classe média.
Paulo Autran dirige a leitura do
texto que flagra dona Alzira (Karin Rodrigues) às voltas com a
roupa que melhor assentará no
marido quando este morrer.
Os filhos também opinam com
naturalidade sobre a combinação
de terno, camisa, gravata e meia
no ataúde. O gerente de bar Júnior
(Dan Stulbach) e a bancária Regina (Leona Cavalli) não se condoem pela morte iminente.
Diálogos que seguem versam
sobre a barganha para a venda da
casa, o que propiciaria sonhado
pé-de-meia da filha (para viajar
para a Europa) e do caçula (tornar-se sócio de um bar).
Em meio ao revezamento para
os cuidados do pai, que agoniza
no quartinho, preso ao tubo de
soro e dependente de limpeza
constante, mãe e filho desfiam
lembranças que dão a medida da
qualidade das relações.
Não bastasse as traições do pai,
vem à tona um filho bastardo. Súbito, a mãe ameaça rebelar-se
contra os 40 anos da farsa do casamento, ela que fez tudo pelos filhos, pela casa, a ladainha de praxe, e agora está ali, velando o definhamento daquele com quem dividiu a cama -não só ela, descobre depois.
Os filhos igualmente lamentam
a vida que levam. Regina é frustrada por amar um homem casado, reprodução do modelo paterno. A baixa estima domina Júnior, que não se dá bem nos negócios e tampouco nos namoros.
"É a história de uma gente que
não veio fazer nada na vida, passa
em branco por causa dos grandes
"desfeitos" e ainda alimenta uma
perversa aparência de laços de carinho", afirma Viana.
Escrita há quatro anos, burilada
vez ou outra, premiada em concursos de São Paulo e Porto Alegre, "Vestir o Pai" traz certo tom
escatológico que Viana aprofundaria em "Pantagruel" (2001).
A leitura acontece às 20h, no auditório da Folha (al. Barão de Limeira, 425, 9º andar, SP, entrada
franca). Os interessados devem
fazer reserva, das 14h às 17h, pelo
tel. 0/xx/11/3224-3473.
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