|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LIVROS
POLÍTICA
"Memórias da Segunda Guerra Mundial", uma das obras mais conhecidas do ex-premiê britânico, é reeditado
Biografia é o melhor da literatura de Churchill
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
ESPECIAL PARA FOLHA
Winston Churchill, o líder
britânico durante a Segunda Guerra, foi um dos mais extraordinários estadistas do século
20. Muitos o consideram o principal responsável pela derrota do
nazi-fascismo. Ele também foi um
grande jornalista e escritor, que
produziu 43 livros, a maioria de
história, mas também de poemas,
filosofia, política e diversas biografias. Em 1953, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura.
Apesar de ter sido parlamentar
por cinco décadas, ocupado diversos cargos de primeiro escalão
na administração pública britânica (inclusive os equivalentes aos
de ministros da Fazenda e da Marinha) e chefiado o governo duas
vezes, era um homem que precisava trabalhar para ganhar seu
sustento. E seu trabalho era escrever, o que fazia magnificamente
bem.
Seus melhores momentos como
escritor foram como memorialista. Por exemplo, "Minha Mocidade" (que no Brasil foi inicialmente
traduzido por Carlos Lacerda, outro político de primeira grandeza
que tinha de escrever e traduzir
prolificamente para sobreviver) é
um livro notável, em que, ao relembrar incidentes dos primeiros
25 dos 90 anos que viveu, analisa
com verve e erudição o fim da era
vitoriana nas escolas, na metrópole e nas colônias.
O ponto mais alto de seu trabalho literário, no entanto, talvez tenham sido as "Memórias da Segunda Guerra Mundial", que a
Nova Fronteira reedita agora, por
ocasião do sexagésimo aniversário do fim das hostilidades.
Na edição original inglesa, são
seis volumes. No Brasil, eles foram condensados para apenas
dois. Com certeza, perdeu-se
muito. Mas provavelmente o leitor médio brasileiro será capaz de
se satisfazer com o resumo.
A obra revela o gosto do autor
por detalhes picarescos, raro em
autobiografias de políticos, em
geral exclusivamente preocupados em talhar bem a sua imagem
para a posteridade.
É verdade que, nos anos 1950, o
mundo ainda não estava dominado pelo comportamento politicamente correto. Mas não deixa de
ser curioso, por exemplo, Churchill relatar que, na primeira noite
da guerra, ao se dirigir para o
abrigo antiaéreo de sua vizinhança, ele tivesse feito questão de levar consigo apenas apetrechos
médicos e uma garrafa de brandy.
É impossível comprovar se tudo
o que o autor descreve ocorreu da
exata maneira como aparece no
livro, inclusive diálogos textuais
(como o do convite do rei Jorge 6º
para compor um novo governo,
em 1940, que teria sido curto e
bem-humorado, quase jocoso,
apesar da gravidade da situação).
A dúvida tem pouca relevância,
já que o registro de Churchill, ainda que eventualmente impreciso,
tem por si só indiscutível importância histórica. Além disso, em
não poucos trechos, ele transcreve ou se refere a documentos (cartas, memorandos, atas de reunião), o que dá caráter comprobatório a muitas passagens.
Inevitavelmente, a história da
Segunda Guerra como contada
por Churchill também está contaminada por suas convicções ideológicas, sem dúvida controvertidas. Ele foi um conservador empedernido, capaz de opiniões assustadoras pelos padrões políticos do início do século 21. O sentimento patriótico exacerbado, o
anticomunismo veemente, o etnocentrismo indisfarçável estão
presentes com freqüência.
Tal viés não empobrece a fascinante exposição de fatos absolutamente fundamentais para a
compreensão do mundo contemporâneo, feita com vigor e tensão
por um dos seus principais personagens. Um livro indispensável
para quem quer conhecer os tempos em que vive.
Carlos Eduardo Lins da Silva é jornalista e diretor de relações institucionais da Patri Relações Governamentais & Políticas Públicas
Memórias da Segunda Guerra Mundial - Vol. 1
Autor: Winston Churchill
Tradução: Vera Ribeiro
Editora: Nova Fronteira
Quanto: R$ 49 (560 págs.)
Texto Anterior: Vitrine Brasileira Próximo Texto: Policial: "A Procurada" traz mistérios da "rainha" do crime sueco Índice
|