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POLICIAL
Thriller é a primeira obra de Karin Alvtegen a ser publicada no Brasil
"A Procurada" traz mistérios da "rainha" do crime sueco
JOAQUIM NOGUEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Nos romances de suspense
em que o personagem principal, geralmente narrador, é detetive particular, ele costuma perguntar a quem o consulta no escritório: "Por que não procurou a
polícia?". O interessado dá uma
desculpa qualquer, não gosto de
polícia, tenho medo de entrar em
cana etc., e com isso o autor joga a
investigação no colo do "private
eye".
Karin Alvtegen, autora de "A
Procurada", resolve o problema
de forma mais radical: a polícia da
Suécia é ruim, simplesmente. Tão
ruim que investigando quatro homicídios violentos não estabelece
nem sequer uma afinidade entre
as vítimas que pudesse servir de
base para a investigação. Tanta
ineficiência acaba criando um
problema sério para Sibylla, mulher de 32 anos, problemática,
confusa, contraditória, com um
passado desconexo e sofrido.
Com efeito, como se dizia antigamente, filha única do casal mais
rico da cidade, aos 16 anos ela repudiou a família, deu para um
mecânico, engravidou, tomou
um chifre escandaloso e pungente, perdeu a criança e baixou num
hospital psiquiátrico. Dali se evadiu passando a viver a esmo em
Estocolmo, dormindo em albergues ou dando chapéu em hotéis,
seduzindo homens maduros (e
abonados) dos quais filava jantares. Com isso a autora (me pareceu bastante jovem, a julgar pela
linguagem, pelas ações e reações
da protagonista) tece uma crítica
aos valores burgueses, da família à
educação, do consumo ao relacionamento social.
Como ela não aprofunda essa
crítica, a melhor parte do livro fica
sendo a investigação, que os leitores hão de acompanhar ávidos
para saber quem diabos matou e
estripou tanta gente. A autora se
sai bem nessa tarefa. Constrói a
trama com habilidade, "escondendo" os crimes, plantando pistas falsas e assim conduz o leitor
até o desfecho. Nesse "iter" surge
Patrik, garoto de 15 anos, meio
desnorteado, como é comum na
idade dele, meio expert em computadores, como é próprio da juventude atual, principalmente
nas grandes cidades, que vai servir de arrimo a Sibylla e à investigação.
"A Procurada" só não é melhor
devido às falhas na concepção e
gramática. Seja por inexperiência
(eu disse que Karin era jovem?
Não. Só imaginei), seja por sofreguidão, o fato é que o livro tem
coisas detestáveis tipo "capô do
motor", "mancava quando andava", "sentiu o sangue correr nas
próprias veias", como tem afirmações de efeito duvidoso: "Contudo, Deus nem sempre é bom".
A tradução brasileira também
ajudou. Volta e meia o pronome
"lhe" é usado no lugar de "a" ou
"o" e toda hora deparamos com o
verbo "haver" conjugado no presente em frases que estão no passado. Um dos erros, não sei se
atribuo à autora ou à tradução:
"Da primeira vez sentou-se no
seu colo. Sentiu a pressão das coxas dele sobre as suas..."
Noves foras essas mancadas, dá
para ler "A Procurada". Principalmente se você curte o suspense
pelo suspense e tem de encarar
um fim de semana frio e chuvoso
como os dias na Suécia que atormentam a piradinha Sibylla.
Joaquim Nogueira é escritor, autor de
"Informações sobre a Vítima" e "Vida
Pregressa", ambos publicados pela Companhia das Letras
A Procurada
Autor: Karin Alvtegen
Tradução: Monica Goldschmidt
Editora: Record
Quanto: R$ 39,90 (352 págs.)
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