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CINEMA
Diretor da Warner no Brasil afirma que queda de público é "reacomodação" e que o DVD não ameaça a sala escura
Executivo nega crise e "morte" das salas
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
As bilheterias de cinema estão
em queda aqui e nos EUA. Mas
José Carlos Oliveira, diretor da
Warner no Brasil, está sorrindo
-e não é à toa.
São da Warner o campeão de
bilheteria do ano (até agora),
"Constantine", com 2,5 milhões
de espectadores, e o líder do último fim de semana, "Batman Begins", visto por 475 mil pessoas.
Ao contrário da maioria dos observadores do mercado cinematográfico, que estão assustados
com o comportamento do público neste ano, Oliveira acha que
não há crise.
"Crise, só se for de oferta", diz.
Ele afirma que a análise do quadro não deve se concentrar apenas nos números. Se os títulos forem avaliados, diz o distribuidor,
a conclusão será que os filmes da
temporada atual estão menos
atrativos do que os de anos anteriores -os da Warner incluídos.
Sobre o mais recente debate do
cinema brasileiro, a disputa entre
a concentração e a pulverização
de recursos estatais para a produção, Oliveira é categórico: "A discussão está esquizofrênica".
A seguir, trechos de sua entrevista à Folha.
Folha - O sucesso de "Batman Begins", quando as bilheterias estão
em queda, confirma a tese de que o
público está sendo atraído ao cinema apenas por filmes-evento e
aguardando para ver os demais títulos em DVD?
José Carlos Oliveira - O grande
problema da nossa indústria, em
qualquer parte do mundo, é que
não nos pautamos muito de pesquisas que nos permitam chegar a
essas conclusões. Vivemos da
percepção de algumas coisas. Se
as pessoas fazem pesquisa, elas escondem muito bem os resultados.
Minha teoria sobre a queda [de
bilheteria] é que a indústria está
num momento de parar para
pensar qual é a estratégia dos anos
futuros, principalmente porque
se acena com uma quebra de paradigma tecnológico importante,
que é o cinema digital.
O investimento de produção de
filmes [nos EUA] cresceu muito
nos últimos anos. Como todas as
empresas são de capital aberto,
têm seus acionistas e conselheiros, acho que eles começaram a
fazer a conta: "Será que esses US$
20 milhões a mais que estou gastando vão me dar o resultado esperado lá na frente?".
O que está havendo é uma reacomodação. O que dirige a nossa
indústria são os produtos. Se colocarmos frente a frente os filmes
oferecidos no mesmo período do
ano passado, perceberemos que
neste ano já estamos em déficit
em número e potência de títulos.
Começamos [a Warner] 2004
com "O Senhor dos Anéis" e "O
Último Samurai", tivemos uma
grande surpresa com "Alguém
Tem que Ceder", e a maior de todas com "A Paixão de Cristo", que
fez 6,5 milhões de espectadores
no Brasil.
Folha - O que explica a queda específica do filme nacional?
Oliveira - Falando do caso brasileiro, não gosto de chamar de crise. Mas, se for uma crise, é uma
crise de oferta. Está faltando um
produto nacional potente, que faça a diferença.
Até este período, em 2003, "Carandiru" já havia feito 4,4 milhões
de ingressos e "Deus É Brasileiro"
já havia feito 1,7 milhões. [Ambos
os títulos são da Columbia.]
No ano passado, neste mesmo
período tínhamos dois filmes nacionais no ranking dos dez mais
vistos -"Xuxa e o Tesouro da Cidade Perdida" [Warner] e "Sexo,
Amor e Traição" [Fox].
Neste ano, ainda não tivemos
nenhum [brasileiro entre os dez
mais vistos].
Folha - O DVD vai matar a sala escura?
Oliveira - Fizemos uma pesquisa
com o público de todos os filmes
que lançamos nos cinemas. Constatamos que o grande consumidor de DVD é o grande usuário de
cinema.
Os maiores títulos em bilheteria
da Warner Bros nos últimos anos
são também os maiores itens de
venda de DVD, como "Matrix",
"O Senhor dos Anéis", "Harry
Potter" e "Tróia".
Acreditamos que o Brasil tenha
uma base de 18 milhões de pessoas que vão de seis a sete vezes
por ano ao cinema. Esta base também consome os filmes em DVD.
Desde 97 [ano da introdução do
formato multiplex no Brasil] o hábito de consumo do freqüentador
de cinema está mudando. Ele vai
mais vezes ao cinema.
Folha - Como o sr. avalia o debate
pulverização x concentração, a respeito da distribuição de recursos
estatais para a produção de filmes
no Brasil?
Oliveira -Estamos num ponto
em que não estamos maduros o
suficiente para dar um salto e virar Bollywood [a indústria indiana] ou Hollywood, nem temos coragem e recursos suficientes para
reservar uma parte dos fundos de
desenvolvimento do cinema brasileiro a filmes que sabemos que
não vão ter resultado comercial.
A discussão fica esquizofrênica,
porque colocamos todos esses filmes no mesmo bolo, e todos mamando na mesma teta.
Está no momento de parar e falar: quem quer fazer cinema industrial joga do lado de cá do
campo. Quem quer fazer cinema
autoral, experimental, de temática regional pula para o lado de lá.
E vamos jogar jogos diferentes.
Folha - Quem vai ser o juiz?
Oliveira - Sempre achei que cinema industrial tem que estar debaixo do guarda-chuva do Ministério da Indústria e Comércio, e
cinema de autor conversa com o
Ministério da Cultura.
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