São Paulo, domingo, 25 de julho de 2004

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FESTIVAL DE TEATRO DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

Pat Oleszko atua pela primeira vez no Brasil; evento termina hoje

Americana faz "performance do absurdo"

VALMIR SANTOS
ENVIADO A SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

Em quatro edições internacionais consecutivas, o Festival de Teatro de São José do Rio Preto tornou-se espaço cativo da performance, aquela expressão para a qual convergem as artes cênicas, visuais, musicais, poesia, vídeo e afins. A presença da norte-americana Pat Oleszko no evento, que termina hoje, é mais uma evidência desse quadro.
Oleszko, de ascendência polonesa, começou a carreira solo em 1966. Já atuava quando a arte performática, nos EUA, ainda não havia sido consolidada, o que ocorreria a partir da metade dos anos 70, com a conquista de autonomia, público e crítica.
No Brasil, a performance costuma ganhar visibilidade em eventos de artes cênicas ou galerias do Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, por exemplo.
Num primeiro momento, a mulher com cerca de dois metros de altura não corresponde exatamente à imagem de uma agitadora da cena. Minutos de conversa e sorrisos depois, porém, essa impressão se esvai. Há pistas gestuais, movimentos da palhaça, da atriz, da dançarina e da artista plástica que faz do seu corpo morada e eixo de criação.
"A minha arte da performance discorre basicamente sobre o absurdo. Tento traduzi-lo por meio do corpo", diz ela. É a maneira que encontrou para "exorcizar" realidades ou fantasmas.
A americana costuma utilizar figurinos, objetos e adereços que lhe dão outra dimensão e volume quando interagem com um espaço de preferência não-convencional: um clube, uma festa, uma rua, uma praça, a galeria de um badalado museu. "Sou como um caramujo", ajuda a ilustrar.
Em Rio Preto, ela vai se apresentar num dos barracões da Swift, uma antiga fábrica de extração de óleo e algodão, também o local do Bararena (bar + arena), como foi batizado o segmento de performances e intervenções do festival
Em "Clothes, Calls and Cunning Stunts", Oleszko condensa números anteriores e inéditos que trazem idéias suas ou geradas a partir de recortes da realidade.
"São esquetes que funcionam como um vaudeville, com início, meio e fim. Têm muito a ver com a situação política atual dos EUA. Cada um lê esses quadros de uma maneira, mas imagino que, no Brasil, as pessoas não sejam tão "puras" quanto no meu país", afirma a performer.
O título em inglês revela como Oleszko gosta de usar duplos sentidos, e não só quando está em cena. "Clothes, Calls and Cunning Stunts" pode ser traduzido como algo assim: "Roupas por um Triz e Manobras Astutas". Isso num português mais acanhado, pois o jogo de palavras alude, ainda, a regiões do baixo ventre.
Apesar do trabalho solo, extremamente autoral (ela desenha os próprios balões que utiliza para contracenar), a performer incorpora um ou dois artistas locais para auxiliá-la na manipulação de objetos. A apresentação em São José do Rio Preto terá palavras-chaves traduzidas. O texto também é da americana. Imagens projetadas ao fundo reforçam a narrativa de Oleszko, que visita o Brasil pela primeira vez.
Na sua perspectiva, é difícil separar arte performática do entretenimento no mundo contemporâneo. Mas resquícios ideológicos e políticos estariam preservados desde que o artista os assumam. Para Oleszko, nesse sentido, o trabalho solo permite maior agilidade, porque concebido por uma única cabeça.
"Lembro-me de que na escola de arte eu não conseguia fazer uma armadura ficar de pé", afirma. Foi aí que tudo começou, diz.


O jornalista Valmir Santos viaja a convite da organização do festival


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