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Crítica
"Kika" sintetiza liberdade de Almodóvar
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
O que mais impressiona em
Almodóvar é o gosto pela liberdade. Talvez seja esse o maior
atrativo de seus filmes, e "Kika" (TC Cult, 22h; não recomendado para menores de 14
anos) é um dos exemplos mais
claros dessa escolha.
Estamos numa época em que
a ficção parece insuficiente. Os
leitores preferem as biografias.
Os espectadores, os filmes baseados "em uma história real".
Pois bem: Almodóvar não se
dobra às modas, não cede ao infantilismo do cinema e, na contracorrente, trabalha ficções
absolutamente alucinadas.
Existe ali uma maquiadora
chamada para exercer suas artes sobre um cadáver, um jovem que ressuscita, escritores,
apresentadoras de TV -e, no
meio, amores que ficaram pelo
caminho ou não.
Almodóvar acumula elementos e atira seus espectadores
numa espécie de labirinto em
que imagens e sentimentos
desgastados ressurgem -ressuscitados como o personagem
Ramón da história- nos gêneros que reencontra, para seu
prazer e para o nosso.
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