São Paulo, sábado, 25 de julho de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TEATRO
O ator, que está completando 35 anos de carreira, estréia no dia 29 a peça "O Martelo", no teatro Ruth Escobar
Ney Latorraca volta a mostrar suas caras

Leonardo Colosso/Folha Imagem
Ney Latorraca, que completa 35 anos de carreira e estrela "O Martelo"


PATRICIA DECIA
da Reportagem Local

Ele já encarnou papéis múltiplos pelo menos cinco vezes: em "Quartett", "O Médico e o Monstro" e "Irma Vap", no teatro; em "Rabo de Saia" e "Um Sonho a Mais", na televisão.
Agora, ao comemorar 35 anos de carreira, Ney Latorraca volta ao palco mais uma vez trocando papéis com "O Martelo", que estréia no dia 29, no Ruth Escobar.
"Eu não sei se é uma coincidência, mas isso sempre acontece comigo. E acho bom. Geralmente, por mais rico que seja o personagem, ele não tem essa possibilidade de mudar de caráter em todos os níveis", diz Latorraca.
Depois de ter sido dirigido três vezes consecutivas por Gerald Thomas ("Don Juan", "Unglauber" e "Quartett"), Latorraca trabalha agora com o diretor Aderbal Freire Filho numa tragicomédia policial.
O texto de Renato Modesto envolve três personagens -o casal Maria e Pedro e o investigador João- num caso de assassinatos em série, cometidos por um maníaco. Suas vítimas são mulheres, e a arma dos crimes é o martelo do título. Nos papéis estão Latorraca, Edi Botelho e Bárbara Bruno.
Mais do que pelo suspense, o texto chama a atenção pela troca de papéis entre os atores. Assim, depois de ser declarado suspeito, Pedro acorda e se vê no espelho com a cara do investigador João. Ao confundir sua própria imagem, Pedro mistura a de todos os outros que o cercam e passa a duvidar da própria sanidade.
"Não é apenas uma coisa de truque literário. São sentimentos mesmo, que as pessoas carregam com elas. A gente brinca: "Eu sou muito calmo, mas tem um leão adormecido dentro de mim'", afirma o ator.
A peça, no entanto, não tem preocupações filosóficas, segundo declarações do autor. "Sei que pode haver reações diferentes. Alguns vão mais pelo suspense, outros pelo humor. Mas, acima de tudo, quero fazer com que o público se divirta", diz Modesto.
Se não chega a ser paradigmática, a escolha de Latorraca de protagonizar "O Martelo" depois de 35 anos como ator exemplifica suas opções. "É uma proposta minha de ator. Não para dizer que sou versátil, que isso é muito chato. Agora, com "O Martelo', esse ciclo fica mais nítido, porque nele você invade as almas. Essa peça obriga você a se repensar, mexe com seus fantasmas."
Latorraca afirma estar numa terceira etapa de sua carreira. A primeira vai até 1974, de ator iniciante que fazia outros bicos para sobreviver. Naquele ano, ele estoura nas novelas da Rede Globo e começa a explorar sua marca.
"De repente o Latorraca vira uma logomarca. Tem até a brincadeira do Chico Anysio, "Te cuida Latorraca'. Falei, vou aproveitar esse filão também, usar coisas pessoais nos personagens. Se o autor tem, se o diretor tem, por que eu também não teria esse direito?".
A personalidade Latorraca impera então por exatos 20 anos, segundo suas contas. Depois do sucesso comercial de "Irma Vap", que ficou uma década em cartaz, as coisas mudam. "Foi também quando minha mãe morreu. Eu até falo que o palhaço trincou."
O que se segue então, sem a necessidade premente de dinheiro, é uma tentativa de volta às origens. "Vi que estava na hora de voltar àquele caminho que nunca foi deixado. Estou sendo generoso o bastante para deixar eu ser filtro dos personagens."
"O Latorraca fica na entrevista, no oba-oba, de smoking com uma coisa jogada no ombro, fazendo uma entrada, dizendo uma frase de efeito. Mas com o Ney ator, mesmo, o buraco é mais embaixo. Quero vir aqui como um animal de teatro, com mutação, eu quero mudar as cabeças."



Peça: O Martelo Autor: Renato Modesto Direção: Aderbal Freire Filho Com: Ney Latorraca, Edi Botelho e Bárbara Bruno Quando: a partir de 29/07, qui. a sáb., às 21h; dom., às 20h; até novembro Onde: teatro Ruth Escobar - sala Dina Sfat (r. dos Ingleses, 209, Bela Vista, tel. 289-2358) Quanto: R$ 20 (quintas) R$ 25 (sextas e domingos) e R$ 30 (sábados) Patrocinador: Bradesco Previdência




Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.