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DISCO/CRÍTICA
Geração X chora chagas
do enviado ao Rio
Entre os artistas da geração X
do pop brasileiro -a dos anos
80-, há os que hoje se refugiam no quentinho das FMs e
os que não fogem de encarar a
sina de irregularidade que os
tarja. A esses, cabe hoje chorar
as chagas em público.
Marina Lima é a ponta-de-lança do grupo dois. Como tal, é dos que mais têm sabido driblar a crueldade da história diante de sua relativa impotência; como tal, chora em
público e cresce em público.
"Pierrot do Brasil" é, em sua
carreira, o produto mais importante desse despudor em se
expor. Chega o momento em
que os impasses de geração X
-carência de identidade, "camaleonismo"- curvam-se
ante a evidência: honestidade
consuma-se em identidade.
Marina não é mais aquela
mutante que adotava todos os
rostos por não possuir um. Já o
possui, e disso a faixa "Pierrot" é prova contumaz. É tão
poderosa quanto as mais poderosas canções que Marina já
cantou -"Mesmo Que Seja
Eu" (84), "Não Sei Dançar"
(91). E, à diferença delas, é
composta por... Marina.
Tal vai se repetir em outras
das melhores faixas do CD
-"Uma Antiga Manhã",
"Portos e Vinhos". O que isso
quer dizer? Que ela é, enfim,
uma autora. Há pouquíssimas
no Brasil -Dolores Duran,
Maysa, Rita Lee, você pode
tentar e não lembrará muitas
mais. Marina está entre elas.
Fosse só isso... Ela ainda se
completa com a intérprete,
com a instrumentista. Filha de
uma crise nacional de identidade, ela já cristaliza também
uma nacionalidade.
Ecoam pelo CD os fantasmas
de Dolores Duran, Nora Ney,
Sílvia Telles (citada quase literalmente em "Pra Ver Meu
Bem Corar"). Trata-se de
pré-bossa nova, influência primordial para Marina.
Mas tal não significa que Marina esteja a revisitar. Ao evocar Sílvia Telles, ela o faz evidenciando a putrefação em
que a bossa nova se encontra.
Não há vez para saudosismos. Por isso é tão insistente a
intervenção de programações
por computador. Suba e seus
sintetizadores são obsessivos,
são Marina tentando provar-se
moderna por demais.
Por fim, a autora também
vem se mostrar generosa. Nos
encontros com sua "cria" Alvin L. -na tensa "Na Minha
Mão", em "Arquivo 2" e em
vinheta cantada por ele na faixa 8-, exibe fragmentos de
uma parceria azeitada.
Com o irmão Antonio Cícero, os resultados (exceto em
"Deixa Estar") já não são tão
certeiros; com o titã Sérgio
Britto (em "Leva"), estabelece
curioso inventário de citações
frasais a Paulo Vanzolini, Tom
Jobim. O grito, afinal, é de se
proclamar brasileira. "Pierrot
do Brasil" cumpre a meta de
forma admirável.
(PAS)
Disco: Pierrot do Brasil
Artista: Marina Lima
Lançamento: PolyGram
Quanto: R$ 18, em média
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