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MÚSICA
Bossa nova perde piano fiel de Luiz Carlos Vinhas
CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA
A bossa nova acaba de perder
um de seus instrumentistas
mais dedicados. Morto na última
quarta-feira, aos 61 anos, o pianista e compositor carioca Luiz Carlos Vinhas manteve-se fiel ao gênero musical que o conquistou,
no final dos anos 50. Sua trajetória
confunde-se com o nascimento e
a evolução da bossa nova.
Após as primeiras exibições em
festinhas e shows ocasionais, na
então fervilhante zona sul carioca,
Vinhas começou a acompanhar
cantores, como Maysa e a atriz
Norma Bengell. Sua primeira (e
definitiva) contribuição musical
nasceu em 1961: junto com o contrabaixista Tião Netto e o baterista
Edison Machado fundou o Bossa
Três, um dos primeiros conjuntos
instrumentais do gênero.
Assim como outros grupos similares, que também se apresentavam no lendário Beco das Garrafas, o Bossa Três trazia uma
marcante influência do jazz (especialmente do estilo bebop).
Praticava um estilo de bossa nova
mais pesado do que o lançado por
João Gilberto. Por isso, chegaram
a rotulá-lo de "hard bossa".
Essa bossa instrumental, que
não dispensava improvisos jazzísticos, levou o Bossa Três aos EUA,
onde fez apresentações na TV e
gravou três álbuns para o selo Audio Fidelity, lançados em 1962.
Mas o trio se desfez, e Vinhas retornou sozinho ao Brasil, quando
gravou com Jorge Ben (o pioneiro
álbum "Samba Esquema Novo",
de 1963) e Wilson Simonal, artistas que já buscavam novos caminhos para a bossa.
Ao rearticular o Bossa Três
(com Otávio Bailly no baixo e
Ronnie Mesquita na bateria), encontrou o caminho do sucesso.
Em 1965, no palco da boate carioca Porão 73, o trio uniu-se aos
cantores Pery Ribeiro e Leny Andrade, no show "Gemini V", que
obteve grande repercussão.
Já como solista, gravou em 1968
"O Som Psicodélico de Luiz Carlos Vinhas" (CBS), seguido pelo
álbum "Luiz Carlos Vinhas no
Flag" (Odeon), dois anos depois.
Nessa época já tinha se estabelecido como atração constante do circuito noturno do Rio. Como pianista, não era um virtuose. Moldado pelas boates e pianos-bares
em que tocava, seu estilo tornou-se funcional, privilegiando as atmosferas.
Entre seus trabalhos mais recentes, o CD "Piano na Mangueira" (CID, 1996) é uma homenagem à escola de samba pela qual
desfilava. Nele, Vinhas reuniu
sambas clássicos de Cartola e Nelson Cavaquinho, recriando-os
com tempero de bossa nova.
Já em 1999, rearticulou outra
vez o Bossa Três, ao lado de Tião
Netto (morto em junho último).
Com a cantora Wanda Sá, no ano
passado, o trio gravou um CD dirigido ao mercado japonês, recheado de pérolas da bossa nova.
Como solista, Vinhas também
lançou "Um Piano com Bossa"
(CID), outra coleção de releituras
de clássicos dos anos 60. Até sua
morte prematura, esse batalhador
da bossa dedicou-se somente à
música que mais gostava.
Carlos Calado é crítico de música, autor
de "Tropicália - A História de uma Revolução Musical" e "O Jazz Como Espetáculo".
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