São Paulo, sexta-feira, 25 de agosto de 2006

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Crítica/"Santos-Dumont - O Homem Pode Voar"

Aviador ganha cinebiografia correta

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Três anos atrás o mundo comemorou o centenário do primeiro vôo de avião, com exceção de um país da América do Sul, onde se preferiu adiar a comemoração.
Para o resto do mundo, foram os irmãos americanos Orville e Wilbur Wright que voaram uma aeronave mais pesada que o ar, nos EUA, em 1903. Para a maioria dos brasileiros, foi o brasileiro Alberto Santos-Dumont, em Paris, em 1906.
O documentário "Santos-Dumont - O Homem Pode Voar" não esconde o feito dos Wright, mas procura minimizá-lo e até tenta sutilmente ridicularizá-lo, ao mostrar cenas da tentativa fracassada em 2003 de fazer voar uma réplica do avião da dupla.
É realmente uma pena que essa obsessão patrioteira brasileira continue sendo difundida. Mesmo concedendo que os americanos teriam voado antes, se diz que "o vôo do 14-Bis foi o primeiro a ser homologado". Ou seja, chancelado por uma autoridade, como se isso servisse de prova.
O fato é que o vôo dos irmãos americanos hoje é considerado o primeiro pela Federação Aeronáutica Internacional (FAI) de um avião mais pesado que o ar, controlado e tendo decolado sem ajuda externa. A FAI foi fundada em 1905.
O documentário mostra como os europeus ficaram espantados com as máquinas voadoras dos Wright quando estes fizeram demonstrações em 1908. Eram de longe mais avançados e estavam bem à frente dos europeus e do brasileiro no modo de controlar o vôo.
Felizmente a polêmica sobre o primeiro vôo não é o ponto principal do documentário, que procura mostrar toda a vida de Santos-Dumont. Não resta a menor dúvida de que ele merece ser chamado de pai da aviação -ressaltando-se o óbvio, que ela teve vários genitores.
Dumont era um inventor brilhante, como vários que trabalhavam naquele começo de século. Não precisava se preocupar com dinheiro e fazia seu trabalho à vista de todos, ao contrário dos americanos, que trabalhavam em segredo.
O documentário inclui cenas e imagens inéditas. Foi feito um trabalho de pesquisa competente. Um dos entrevistados comenta que a configuração do 14-Bis estava adiantada para a época. É uma maneira de ver a coisa. A configuração foi abandonada depois em troca de outra mais prática. Levantar vôo e pousar é importante, mas se você não consegue controlar bem o avião, ele não vai levá-lo até onde você quiser ir.


O HOMEM PODE VOAR    
Direção: Nelson Hoineff
Produção: Brasil, 2006
Quando: em cartaz no Reserva Cultural e Frei Caneca Unibanco Arteplex


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