|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/"Santos-Dumont - O Homem Pode Voar"
Aviador ganha cinebiografia correta
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Três anos atrás o mundo
comemorou o centenário do primeiro vôo de
avião, com exceção de um país
da América do Sul, onde se preferiu adiar a comemoração.
Para o resto do mundo, foram os irmãos americanos Orville e Wilbur Wright que voaram uma aeronave mais pesada
que o ar, nos EUA, em 1903. Para a maioria dos brasileiros, foi
o brasileiro Alberto Santos-Dumont, em Paris, em 1906.
O documentário "Santos-Dumont - O Homem Pode
Voar" não esconde o feito dos
Wright, mas procura minimizá-lo e até tenta sutilmente ridicularizá-lo, ao mostrar cenas
da tentativa fracassada em
2003 de fazer voar uma réplica
do avião da dupla.
É realmente uma pena que
essa obsessão patrioteira brasileira continue sendo difundida.
Mesmo concedendo que os
americanos teriam voado antes, se diz que "o vôo do 14-Bis
foi o primeiro a ser homologado". Ou seja, chancelado por
uma autoridade, como se isso
servisse de prova.
O fato é que o vôo dos irmãos
americanos hoje é considerado
o primeiro pela Federação Aeronáutica Internacional (FAI)
de um avião mais pesado que o
ar, controlado e tendo decolado
sem ajuda externa. A FAI foi
fundada em 1905.
O documentário mostra como os europeus ficaram espantados com as máquinas voadoras dos Wright quando estes fizeram demonstrações em
1908. Eram de longe mais avançados e estavam bem à frente
dos europeus e do brasileiro no
modo de controlar o vôo.
Felizmente a polêmica sobre
o primeiro vôo não é o ponto
principal do documentário, que
procura mostrar toda a vida de
Santos-Dumont. Não resta a
menor dúvida de que ele merece ser chamado de pai da aviação -ressaltando-se o óbvio,
que ela teve vários genitores.
Dumont era um inventor brilhante, como vários que trabalhavam naquele começo de século. Não precisava se preocupar com dinheiro e fazia seu
trabalho à vista de todos, ao
contrário dos americanos, que
trabalhavam em segredo.
O documentário inclui cenas
e imagens inéditas. Foi feito
um trabalho de pesquisa competente. Um dos entrevistados
comenta que a configuração do
14-Bis estava adiantada para a
época. É uma maneira de ver a
coisa. A configuração foi abandonada depois em troca de outra mais prática. Levantar vôo e
pousar é importante, mas se
você não consegue controlar
bem o avião, ele não vai levá-lo
até onde você quiser ir.
O HOMEM PODE VOAR
Direção: Nelson Hoineff
Produção: Brasil, 2006
Quando: em cartaz no Reserva Cultural e Frei Caneca Unibanco Arteplex
Texto Anterior: Cinema - Crítica/"Miami Vice": Seriado vira filme de dor e angústia Próximo Texto: Crítica/"Trair e Coçar, É Só Começar": Baseada em estereótipos, "Trair e Coçar" não se adapta bem ao cinema Índice
|