São Paulo, Quarta-feira, 25 de Agosto de 1999
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POLÊMICA
Mudanças feitas pelo secretário de Cultura desagradam alunos e aulas são suspensas
Demissões geram crise no Dragão do Mar

KAMILA FERNANDES
da Agência Folha

Considerado o mais importante centro de ensino de cinema e dramaturgia no Nordeste brasileiro, o Instituto Dragão do Mar de Cultura, em Fortaleza (CE), está parcialmente sem aulas.
O motivo é a falta de professores provocada pela demissão da diretoria do instituto há duas semanas.
Entre os demitidos está o cineasta Maurice Capovilla, que dirigia o instituto desde sua fundação, há três anos. Além dele, o atual secretário estadual da Cultura, Nilton Almeida, demitiu outros quatro diretores, entre eles o também cineasta Orlando Senna, que ocupava a direção do Centro de Dramaturgia. Capovilla e Senna ministravam aulas.
Os 230 alunos do instituto decidiram protestar logo que souberam das demissões, fazendo um abaixo-assinado e decidindo paralisar os cursos até que a Secretaria da Cultura recontratasse os demitidos.
Até o final da semana passada, pelo menos 60 alunos dos cursos de dramaturgia e cinema estavam sem aulas.
"De qualquer forma, não seria possível ter aula, já que não temos alguns professores", disse Luciana Cavalcanti, estudante de dramaturgia. "Muitos se recusam a continuar um trabalho iniciado por Capovilla. Não seria ético."
Nomes importantes da arte brasileira, como Paulo Autran, Plínio Marcos e Mário Carneiro, foram alguns dos professores que passaram pelo Instituto Dragão do Mar.

Cancelamento
Luciana disse que os alunos ficaram ainda mais revoltados porque um evento programado para acontecer entre os dias 23 e 26 de agosto, em que seriam apresentados os trabalhos dos estudantes, foi cancelado.
"Agora eles estão ameaçando reprovar os alunos que não forem às aulas em protesto. Isso é censura."
De acordo com o secretário Nilton Almeida, as demissões ocorreram apenas por uma "decisão administrativa".
"Era hora de ter sangue novo."
Ele afirmou que o projeto do instituto é "irreversível", não havendo possibilidade de mudanças em sua estrutura.
"Nós temos 30 pessoas trabalhando no instituto e apenas cinco saíram. Será que todo o instituto resumia-se a apenas essas pessoas?", disse o secretário.
Criado há três anos, o instituto oferece cursos em cinco áreas -dramaturgia, cinema e vídeo, dança, design e teatro- que são ministrados gratuitamente no centro cultural e em cidades do interior do Ceará.

"Projeto maravilhoso"
O paulista Capovilla, 63 -que dirigiu, entre outros filmes, "O Profeta da Fome" (1969) e "Meninos do Tietê" (1963)-, mudou-se para Fortaleza há três anos para comandar o projeto, idealizado pelo então secretário da Cultura Paulo Linhares.
"Fui envolvido em um projeto maravilhoso, mas é difícil viver na fronteira entre a arte e a política. Eu sou um profissional do cinema, não sou político", disse Capovilla.
Linhares, que atualmente é deputado estadual pelo PSDB, afirmou que ficou chocado com as demissões. "O novo secretário tem todo direito de fazer isso, mas a forma como tudo aconteceu foi traumática demais", declarou.
Para o secretário Nilton Almeida, não há outra forma de fazer mudanças. "O que existe é muito mais um clima emocional. O que estamos fazendo são correções."


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