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POLÊMICA
Mudanças feitas pelo secretário de Cultura desagradam alunos e aulas são suspensas
Demissões geram crise no Dragão do Mar
KAMILA FERNANDES
da Agência Folha
Considerado o mais importante
centro de ensino de cinema e dramaturgia no Nordeste brasileiro,
o Instituto Dragão do Mar de Cultura, em Fortaleza (CE), está parcialmente sem aulas.
O motivo é a falta de professores
provocada pela demissão da diretoria do instituto há duas semanas.
Entre os demitidos está o cineasta Maurice Capovilla, que dirigia o instituto desde sua fundação, há três anos. Além dele, o
atual secretário estadual da Cultura, Nilton Almeida, demitiu outros quatro diretores, entre eles o
também cineasta Orlando Senna,
que ocupava a direção do Centro
de Dramaturgia. Capovilla e Senna ministravam aulas.
Os 230 alunos do instituto decidiram protestar logo que souberam das demissões, fazendo um
abaixo-assinado e decidindo paralisar os cursos até que a Secretaria da Cultura recontratasse os
demitidos.
Até o final da semana passada,
pelo menos 60 alunos dos cursos
de dramaturgia e cinema estavam
sem aulas.
"De qualquer forma, não seria
possível ter aula, já que não temos
alguns professores", disse Luciana Cavalcanti, estudante de dramaturgia. "Muitos se recusam a
continuar um trabalho iniciado
por Capovilla. Não seria ético."
Nomes importantes da arte brasileira, como Paulo Autran, Plínio
Marcos e Mário Carneiro, foram
alguns dos professores que passaram pelo Instituto Dragão do
Mar.
Cancelamento
Luciana disse que os alunos ficaram ainda mais revoltados porque um evento programado para
acontecer entre os dias 23 e 26 de
agosto, em que seriam apresentados os trabalhos dos estudantes,
foi cancelado.
"Agora eles estão ameaçando
reprovar os alunos que não forem
às aulas em protesto. Isso é censura."
De acordo com o secretário Nilton Almeida, as demissões ocorreram apenas por uma "decisão
administrativa".
"Era hora de ter sangue novo."
Ele afirmou que o projeto do
instituto é "irreversível", não havendo possibilidade de mudanças
em sua estrutura.
"Nós temos 30 pessoas trabalhando no instituto e apenas cinco saíram. Será que todo o instituto resumia-se a apenas essas pessoas?", disse o secretário.
Criado há três anos, o instituto
oferece cursos em cinco áreas
-dramaturgia, cinema e vídeo,
dança, design e teatro- que são
ministrados gratuitamente no
centro cultural e em cidades do
interior do Ceará.
"Projeto maravilhoso"
O paulista Capovilla, 63 -que
dirigiu, entre outros filmes, "O
Profeta da Fome" (1969) e "Meninos do Tietê" (1963)-, mudou-se para Fortaleza há três anos para
comandar o projeto, idealizado
pelo então secretário da Cultura
Paulo Linhares.
"Fui envolvido em um projeto
maravilhoso, mas é difícil viver na
fronteira entre a arte e a política.
Eu sou um profissional do cinema, não sou político", disse Capovilla.
Linhares, que atualmente é deputado estadual pelo PSDB, afirmou que ficou chocado com as
demissões. "O novo secretário
tem todo direito de fazer isso, mas
a forma como tudo aconteceu foi
traumática demais", declarou.
Para o secretário Nilton Almeida, não há outra forma de fazer
mudanças. "O que existe é muito
mais um clima emocional. O que
estamos fazendo são correções."
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