São Paulo, quinta, 25 de setembro de 1997.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CINEMA
"Juventude Perdida" também será exibido hoje no evento
9ª MostraRio destaca produção da Documenta de Kassel X

AMIR LABAKI
enviado especial ao Rio

"Mãe e Filho", destaque de hoje da 9ª MostraRio, foi um dos raros filmes encomendados pela Documenta de Kassel, que termina na próxima segunda.
Bastam dois minutos para perceber que as referências do novo filme do russo Aleksandr Sokurov são antes pictóricas que cinematográficas.
Tudo se passa como se os dois únicos personagens, a mãe agônica (Gudrun Geyer) e seu aplicado filho-enfermeiro (Alexei Ananishnov), invadissem a tela com um mínimo movimento.
O filme se concentra nos últimos instantes dessa relação. Sokurov quase desacelera o tempo e hiperdimensiona as sensações.
Muito pouco acontece. Encontramos os personagens dentro de casa, acompanhamo-nos num longo passeio pelo campo, seguem-se o retorno e a morte.
A passagem de um trem ao longe é a única intervenção do mundo externo.
Sua meta é resgatar, ainda que fugazmente, aquilo que a crítica russa Marina Koreneva definiu como "conexão física, uma forma arcaica irredutível que se recria em todos e em cada um de nós", entre mãe e filho. Por um átimo, Sokurov busca devolver-nos ao útero e restaurar o cordão umbilical.
Para entrar em sintonia, deixe para trás as expectativas de uma sessão de cinema tradicional. "Mãe e Filho" não quer contar uma história, mas sim estabelecer um clima. Sokurov faz Tarkovski parecer John Woo. Acalme os olhos e comemore: eis um raro filme a contemplar.
O programa de hoje apresenta ainda a última chance para ver "Juventude Perdida" (Kids Return, 1996), de Takeshi Kitano, uma das estrelas do momento, depois de sua recente vitória no Festival de Veneza com "Hana-bi" (Fogos de Artifício). "Juventude Perdida" é o filme imediatamente anterior à consagração.
Não se trata de um Kitano típico. O estudo da violência é aqui marginal. A máfia japonesa cumpre papel secundário na trama. A encenação parece bastante convencional, com menos elipses e imagens menos estudadas do que as que se vê, por exemplo, em "Sonatine", em cartaz em São Paulo.
Mas "Juventude" é obrigatório como o Kitano mais autobiográfico. Muito de sua vida está dispersa na história dos dois pequenos deliquentes que tentam queimar etapas, um entrando na máfia, o outro treinando boxe. Não é à toa que Kitano abre o filme com uma dupla de jovens comediantes: foi assim que para ele também tudo começou.

Filme: Mãe e Filho
Diretor: Aleksandr Sokurov
Quando: hoje, às 14h30 e às 19h30
Onde: Espaço Unibanco 2

Filme: Juventude Perdida
Diretor: Takeshi Kitano
Quando: hoje, às 17h e às 21h
Onde: Estação Museu


O crítico Amir Labaki viajou a convite da organização do festival.




Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.