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CINEMA
"Juventude Perdida" também será exibido hoje no evento
9ª MostraRio destaca produção
da Documenta de Kassel X
AMIR LABAKI
enviado especial ao Rio
"Mãe e Filho", destaque de hoje
da 9ª MostraRio, foi um dos raros
filmes encomendados pela Documenta de Kassel, que termina na
próxima segunda.
Bastam dois minutos para perceber que as referências do novo filme do russo Aleksandr Sokurov
são antes pictóricas que cinematográficas.
Tudo se passa como se os dois
únicos personagens, a mãe agônica (Gudrun Geyer) e seu aplicado
filho-enfermeiro (Alexei Ananishnov), invadissem a tela com um
mínimo movimento.
O filme se concentra nos últimos
instantes dessa relação. Sokurov
quase desacelera o tempo e hiperdimensiona as sensações.
Muito pouco acontece. Encontramos os personagens dentro de
casa, acompanhamo-nos num
longo passeio pelo campo, seguem-se o retorno e a morte.
A passagem de um trem ao longe
é a única intervenção do mundo
externo.
Sua meta é resgatar, ainda que
fugazmente, aquilo que a crítica
russa Marina Koreneva definiu como "conexão física, uma forma
arcaica irredutível que se recria em
todos e em cada um de nós", entre
mãe e filho. Por um átimo, Sokurov busca devolver-nos ao útero e
restaurar o cordão umbilical.
Para entrar em sintonia, deixe
para trás as expectativas de uma
sessão de cinema tradicional.
"Mãe e Filho" não quer contar
uma história, mas sim estabelecer
um clima. Sokurov faz Tarkovski
parecer John Woo. Acalme os
olhos e comemore: eis um raro filme a contemplar.
O programa de hoje apresenta
ainda a última chance para ver
"Juventude Perdida" (Kids Return, 1996), de Takeshi Kitano,
uma das estrelas do momento, depois de sua recente vitória no Festival de Veneza com "Hana-bi"
(Fogos de Artifício). "Juventude
Perdida" é o filme imediatamente
anterior à consagração.
Não se trata de um Kitano típico.
O estudo da violência é aqui marginal. A máfia japonesa cumpre
papel secundário na trama. A encenação parece bastante convencional, com menos elipses e imagens menos estudadas do que as
que se vê, por exemplo, em "Sonatine", em cartaz em São Paulo.
Mas "Juventude" é obrigatório
como o Kitano mais autobiográfico. Muito de sua vida está dispersa
na história dos dois pequenos deliquentes que tentam queimar etapas, um entrando na máfia, o outro treinando boxe. Não é à toa que
Kitano abre o filme com uma dupla de jovens comediantes: foi assim que para ele também tudo começou.
Filme: Mãe e Filho
Diretor: Aleksandr Sokurov
Quando: hoje, às 14h30 e às 19h30
Onde: Espaço Unibanco 2
Filme: Juventude Perdida
Diretor: Takeshi Kitano
Quando: hoje, às 17h e às 21h
Onde: Estação Museu
O crítico Amir Labaki viajou a convite da organização do festival.
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