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São Paulo, quinta-feira, 25 de setembro de 2003

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TEATRO

FESTIVAL

Evento internacional da capital argentina abre espaço para os grupos nacionais que investigam a dramaturgia

Buenos Aires acolhe pesquisa cênica

Divulgação
Cena do espetáculo "Mendiolaza", peça do 4º Festival Internacional de Buenos Aires, que ocorre até domingo


VALMIR SANTOS
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

Nas noites de sábado, na avenida Corrientes, principal corredor teatral de Buenos Aires, despontam filas gigantes para musicais e comédias, gêneros diletos do público argentino. Mas, como São Paulo, há espaço aqui para as artes cênicas experimentais que se arriscam para fazer vanguarda.
O 4º Festival Internacional de Buenos Aires, evento bienal voltado para teatro, dança, música e artes plásticas, dedica um programa especial aos espetáculos nacionais. São projetos que dividem a atenção do público (que costuma comparecer em peso) com atrações internacionais, como uma montagem do inglês Peter Brook e outra da companhia alemã Berliner Ensenble.
"A cena portenha é eclética, não se caracteriza como movimento, mas há muita necessidade de produzir teatro desde o nada, sem nada, ancorado somente na crença de fazê-lo", diz Sergio Boris, 36, diretor do grupo La Bohemia, criado há quatro anos.
O Instituto Nacional de Teatro (INT) apóia algumas produções. Idem para fundações como a Antorchas e a Teatro del Sur. O próprio Festival de Buenos Aires realiza co-produções. Mas não há uma lei que subsidie diretamente os grupos, como o Programa de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo.
"Há muita gente preocupada em explorar novas linguagens, tanto na dramaturgia como na encenação. Isso, quem sabe, propicia um meio teatral em parte bastante inquieto e necessitado de questionar-se permanentemente", afirma o diretor Ciro Zorzoli, 36, da La Fronda Compañia de Teatro, formada em 1998.
"É um momento em que se conjugam modos interessantes de liberdade e de rigor", completa a diretora e dramaturga Mariana Obersztern, 42, que não é vinculada propriamente a um grupo.
A inquietação vai além das divisas de Buenos Aires. De Córdoba, há o trabalho do grupo Krapp, que empresta o nome de um dos personagens de Samuel Beckett ("A Última Gravação de Krapp") e investiga a dramaturgia a partir do teatro-dança. Curadores do festival Rio Cena Contemporânea assistiram ao espetáculo "Mendiolaza", do Krapp, e entraram em contato com o grupo para incluí-lo na edição de novembro.
Também de Córdoba, Buenos Aires assistiu, sempre com casa cheia, a "Intimatum - Cambalache de la Rebelión", do grupo Los Delincuentes. É um autodefinido espetáculo-manifesto que faz uma ocupação anárquica do espaço cênico em nome de "rebeldes da dramaturgia", como Strindberg, Tchecov e Genet.
A recente crise econômica na Argentina desencadeou uma urgência pela sobrevivência que se refletiu no teatro. Um dos textos atuais mais emblemáticos é "El Pánico" (O Pânico), de Rafael Spregelburd, que faz uso de metáforas sociais e transita os personagens pelo caos da realidade cotidiana.
Entre os espetáculos nacionais do festival, abriu-se também um segmento à parte para o projeto "Yo Manifiesto" (Eu Manifesto), reunião de três monólogos que se assumem de dramaturgia política: "Definitivamente, Adiós" (Definitivamente, Adeus), de Roberto Cossa; "Imperceptible" (Imperceptível), de Eduardo Pavlovsky; e "Apocalipsis Mañana" (Apocalipse Amanhã), de Ricardo Monti. O pensamento contemporâneo é instigado e acolhido ainda por meio de publicações como a revista "Funámbulos", que existe há seis anos.

O jornalista Valmir Santos viajou a convite da organização do festival

4º FESTIVAL INTERNACIONAL DE BUENOS AIRES. Onde: vários teatros da capital argentina. Quando: até domingo (28/9). Quanto: de 8 a 18 pesos (alguns espetáculos têm entrada franca). Informações: site www.festivaldeteatroba.com.ar.


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