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Montagem da 26ª Bienal contradiz conceito de curador
Para especialistas, reunir obras por suporte vai contra o tema da mostra, "Território Livre"
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Há uma contradição básica entre o tema "Território Livre", da
26ª Bienal de São Paulo, que é
inaugurada hoje, para convidados, e a concepção de montagem.
Esta é uma das conclusões de dois
curadores, a brasileira Lisette Lagnado e o francês Olivier Michelon,
que, a convite da Folha, visitaram
anteontem a mostra.
Durante a visita, nem todas as
obras estavam prontas, especialmente as salas dedicadas aos vídeos, mas já era possível ter uma
visão de conjunto. Em cerca de
três horas, Lagnado e Michelon
percorreram o pavilhão da Bienal
e, após o percurso, avaliaram a segunda mostra organizada pelo
alemão Alfons Hug.
A crítica mais contundente ficou por conta da segmentação da
Bienal por suportes, isto é, áreas
que apresentam, em sua maioria,
pintura, outras, instalação, e o
chamado "Multiplex", um complexo de salas escurecidas dedicadas a projeções. "Se é território livre, por que dividir em categorias?", questiona Lagnado. O desenho da mostra é do arquiteto
Isay Weinfeld.
"Toda a história da arte, no século 20, caminhou contra a separação por categorias. É uma pena
haver essa restauração, e ela representa uma simplificação na
montagem", disse Michelon, que
é crítico da revista francesa "Journal des Arts".
Segundo Michelon, é no "Multiplex" que se induz a uma leitura
mais rasa na exposição: "A área
dedicada ao vídeo é problemática,
pois ela foi organizada segundo a
lógica da televisão e o visitante será induzido a fazer um "zapping"
dos trabalhos".
A ausência do tempo de duração na ficha técnica dos trabalhos,
ao menos até anteontem, reforça
a tese de Michelon.
Já Lagnado considera "problemática" a aproximação dos trabalhos pelo valor simbólico do material. "Criou-se uma "Grande Tela" do precário [no térreo da exposição]. O fato de se dispor trabalhos usados com o mesmo material gera uma homogeneização
que diminui a dignidade de cada
obra. Há uma seção de barcos, de
Artur Barrio, Fabiano Marques e
Simon Starling, que achata os três
artistas no mesmo plano, quando
sabemos que as questões internas
desse trabalhos são muito diferentes", diz a curadora brasileira.
A "Grande Tela" foi um "statement" curatorial apresentado em
dois imensos corredores com pinturas de grande formato, na Bienal de 1985, e que gerou protestos
de artistas.
As Salas Especiais também foram criticadas pelos curadores.
Para Lagnado, Beatriz Milhazes
deveria estar dialogando com outros nomes selecionados pelo curador neste segmento e não exibida próxima à rampa. "Quatro
pinturas não constitui uma sala
especial", conta Lagnado.
"Eu suponho que as salas especiais representem, para o curador,
o foco do que ele considera importante na arte contemporânea,
algo como "meus artistas prediletos". Isso não está claro, pois não
se vê a abrangência do trabalhos
dos artistas escolhidos. A exceção
é a montagem do ateliê de Paulo
Bruscky, aí sim uma oportunidade bem aproveitada", afirma Michelon.
A pedido da Folha, os curadores
elencaram os cinco trabalhos
mais significativos, dentre os que
estavam montados até anteontem. Para Michelon, as obras escolhidas foram os mapas desconstruídos da dupla brasileira
Angela Detânico e Rafael Lain, as
pinturas de Beatriz Milhazes, a
instalação do holandês Aernout
Mik. Duas outras obras foram selecionadas, mesmo não prontas,
já que o crítico conhece o projeto
dos artistas, pois ambos vivem na
França: Melik Ohanian e Bruno
Peinado. Lagnado escolheu o chinês Chen Shaofeng, o cubano
Carlos Garaicoa, os brasileiros
Thiago Bortolozzo e Paulo Brusky
e a etíope Julie Mehretu.
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