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26ª BIENAL DE SÃO PAULO
Crítico francês diz que idéia central da exposição permite várias leituras, mas é contraditória
"Autonomia da arte"
não aparece em
obras selecionadas
DA REPORTAGEM LOCAL
É mesmo possível constatar a
"autonomia da arte" proposta como idéia central em "Território
Livre", o tema da 26ª Bienal de
São Paulo, a partir das obras em
exposição?
"Creio que há uma contradição
entre o tema e as obras selecionadas. A autonomia da arte é um
projeto desesperado, fadado ao
fracasso. Não estamos mais no
período moderno. Mesmo nas
pinturas de Beatriz Milhazes, que
são abstratas, a artista lida com a
cultura vernacular [própria de
seu país], o que aponta que ela está preocupada com suas raízes e,
portanto, lidando com seu tempo,
o que é uma questão política. A
arte não é uma categoria à parte
da sociedade", diz o crítico francês Olivier Michelon.
A própria existência da Bienal
na capital paulista é vista, por Michelon, como um dos fatores que
fazem a questão política contaminar o evento: "São Paulo não é um
cubo branco, há um contexto político, ao contrário da Bienal de
Veneza que é um enclave. São
Paulo exacerba o que ocorre no
mundo, hoje. Não posso entender
a idéia da autonomia da arte, especialmente porque existe, por
trás, o mercado da arte".
Entretanto, ressalta Michelon,
"o tema é abrangente o suficiente,
o que possibilita várias leituras. O
problema é que esta Bienal foi feita por um única pessoa, quando a
tendência é constituir comitês curatoriais. Estamos num mundo
de conexão, que preza parcerias".
Já a curadora Lisette Lagnado
aponta uma aproximação das
obras escolhidas nesta Bienal com
o tema da edição anterior, "Metrópoles", também a cargo de Alfons Hug. "Creio que desta vez ele
faz a Bienal da Metrópole mais
bem sucedida. Migração e conflito estão presentes de modo mais
livre do que na última Bienal".
Como exemplo, Lagnado aponta o trabalho do cubano Carlos
Garaicoa, que cria pequenas maquetes e as une, por fios, à desenhos nas paredes. "Um trabalho
altamente poético que discute a
arquitetura, urbanismo e deslocamento", comenta a curadora.
Para Lagnado, outra vantagem
desta Bienal em relação à anterior
é a forma de disposição dos artistas brasileiros.
"É bom que eles estejam misturados em meio à exposição e não
agrupados, como aconteceu da
outra vez. A arte não tem nacionalidade mesmo". A partir de
amanhã, é a vez do público dar
sua opinião.
(FABIO CYPRIANO)
26ª BIENAL DE SÃO PAULO. Mostra
com obras de 135 artistas de 62 países.
Curadoria: Alfons Hug. Quando:
abertura, hoje, 19h30 (para convidados);
de seg. a qui., das 9h às 22h; sex. a dom.,
das 9h às 23h. Até 19/12. Onde: Pavilhão
da Bienal (parque Ibirapuera, portão 3,
tel. 0/xx/11/5574-5922). Quanto:
entrada franca. Patrocínio: Petrobras,
Banco do Brasil, BM&F, Bovespa, Nestlé e
Votorantin, entre outros.
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