São Paulo, sábado, 25 de setembro de 2004

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ENTRELINHAS

Plano B

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Vai ganhando corpo no Planalto Central uma inédita política para o universo do livro brasileiro. O Plano Nacional do Livro e Leitura acaba de delinear os que devem ser seus quatro braços.
Aí vão: 1) democratização ao acesso ao livro e leitura (o que inclui abertura e distribuição de bibliotecas por todo o país); 2) investimento na formação (seja de professores, bibliotecários ou mediadores da leitura); 3) valorização do livro no imaginário coletivo (com campanhas em TV, rádio etc.); 4) apoio às cadeias produtivas e criativas do livro (política de fomento aos editores, linhas de créditos para aberturas de livrarias e prêmios para escritores).
O comandante do projeto, Galeno Amorim, diz que o plano deve entrar em prática em dezembro, em decreto de mr. Lula. Além dos ministérios da Cultura e da Educação (cujos titulares devem dividir ineditamente o timão), estão envolvidos no projeto mais dez ministérios, além de estatais e outras Funartes. Para centralizar as contas dessa Babel, está sendo desenvolvido um Fundo Nacional do Desenvolvimento do Livro e Leitura.
Essas e outras milongas devem ser debatidas hoje, em Belém, na Feira Pan-Amazônica do Livro. O encontro é mais um aquecimento para Fórum Nacional de Leitura (dezembro).
Resta esperar para ver se tantos fóruns, fundos e planos saem do (ou entram no) papel.

CHUCRUTE
Anda bom o tráfego literário na ponte Brasil-Alemanha. A prestigiada editora Suhrkamp acaba de lançar "Das Brot des Patriarchen", o "Lavoura Arcaica", de Raduan Nassar, tradução de mestre Berthold Zilly. O jornal "Die Zeit" cravou: "O livro de Raduan Nassar é uma obra-prima". Os brasileiros também dão as caras em eventos importantes na terra da Volkswagen. Hoje Alberto Mussa (resenha ao lado) fala no Festival Internacional de Berlim. No próximo dia 5, a Feira de Frankfurt começa com a presença de Milton Hatoun.

CHEIO DE DEDOS
O dedão demorou, mas deu o ar da graça. Um ano depois de seu último lançamento, a coleção Cinco Dedos de Prosa, da Objetiva, está prestes a ganhar mais um buraco da luva. Luis Fernando Verissimo acaba de entregar para a editora seu romance, inspirado no polegar. Agora só falta o anular (Moacyr Scliar vai pôr o dedo na ferida).

CASA CAIU
Raridade. Gilberto Freyre ficou de fora da lista de mais de 2.000 títulos escolhidos para o programa governamental Fome de Livro, que vai montar mil bibliotecas pelo país afora.

JOGO DA AMARELINHA
Julio Cortázar acaba de ganhar sua página "oficial" na internet: www.juliocortazar.com. A coluna "Entrelinhas" recomenda.

DOUTOR ESQUINDÔ
Um dos principais escritores infantis do país, Ricardo Azevedo defende na terça-feira uma tese de doutorado na USP sobre o samba: "Abençoado e Danado do Samba".

GAUDÍ
Lya Luft já tinha sido exportada há pouco para a Coréia. Anteontem, a agência literária BMSR vendeu seu "Perdas e Ganhos" para a língua catalã.

@ - elek@folhasp.com.br

FORA DA ESTANTE

Se você acompanha com algum ardor o esporte da literatura, já deve ter lido, ou ao menos ouvido falar, de "Confissões de um Comedor de Ópio Inglês". Com alguma sorte, é possível encontrar a única versão disponível no país desse clássico, em edição de bolso da L&PM. Mas pára por aí a presença de seu autor, Thomas de Quincey (1785-1859), nas estantes nacionais. Enquanto na terra de Borges -admirador do homem- recém publicou-se caprichada nova edição do suculento "Do Assassinato Como uma das Belas Artes" (com muita sorte encontrável aqui em edição portuguesa de 1971), com prefácio de André Breton, enquanto na Inglaterra natal de De Quincey terminaram de lançar os 21 volumes de suas obras completas, por aqui o escritor continua só comendo ópio (e "malemal" -já o título ganharia se virasse um inglês comedor de ópio, e não um comedor de ópio inglês). Autor queridinho de Poe e Baudelaire, entre outros, De Quincey merecia banquete mais variado.


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