Peça do dramaturgo inglês que estreia hoje traz à cena música, política e comportamento entre 68 e 90

JOSÉ ORENSTEIN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

É com acordes de guitarras eletrificadas, de Syd Barret, Dylan, Stones e Guns n" Roses, que a peça "Rock'n'Roll" estreia hoje nos palcos de São Paulo. E é na força da música que o texto -escrito pelo celebrado dramaturgo Tom Stoppard- busca inspiração para contar uma história de liberdade, política e relações humanas.
Entre a Primavera de Praga de 1968 e a cidade de Cambridge, na Inglaterra de Margaret Thatcher de 1990, a peça de Stoppard cobre anos decisivos na conformação política e comportamental da Europa e do resto do mundo, que assistia à vagarosa dissolução e derrocada do comunismo. Sempre no embalo do rock and roll.
Max, interpretado por Otávio Augusto, é, em 1990, um professor universitário em Cambridge, marxista ferrenho, que orienta Jan, vivido por Thiago Fragoso, um aluno vidrado em rock e que vem da República Tcheca. O mesmo país que, em 1968, era esmagado por tanques soviéticos, que temiam o conteúdo reformista das propostas "desestalinizantes" e primaveris feitas por intelectuais tchecos naquele ano. No meio dessa história, Stoppard desencava e traz à cena o rock da banda tcheca "The Plastic People of the Universe", formada também em 1968, e reprimida não pelo teor político da sua música mas por seus acordes livres demais para os padrões soviéticos. "A música é que é a grande libertação, que põe o espírito a nu", comenta o ator Otávio Augusto.
Nessa linha, os diretores da peça, Felipe Vidal e Tato Consorti, seguiram à risca as indicações de trilha sonora feitas por Stoppard. "É o que dá o clima subjetivo", conta Vidal, responsável também pela tradução do texto do inglês.
"O barato da peça é que ela tem um formato fragmentado, mas dentro das cenas tem uma dramaturgia bem trabalhada e, acima de tudo, particular: já virou um adjetivo: "stoppardiano" -uma peça com humor sagaz, filosofia e estrutura própria", resume o diretor Vidal.
Fugindo de rótulos, como teatro político ou musical, "Rock'n'Roll" simplesmente deixa as pedras rolarem.