São Paulo, sexta, 25 de setembro de 1998

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TELEVISÃO
Madonna expulsa a Mulher Traço da cama

TELMO MARTINO
Colunista da Folha

Na sempre terrível madrugada dos domingos, Marília Gabriela vestiu seu muito particular uniforme de Mulher Traço e, confundindo uma gentileza da Warner Records, se meteu na cama com Madonna. Espantada com o atrevimento brasileiro, Madonna foi radical. Aos chutes de "what?", "what?" e "what?", a superstar expulsou a petulante Lady Dash de seus lençóis.
Em seu provincianismo, a Mulher Traço pensou que estrela da Warner está no mesmo nível de brasileiro que virou presidente da República. Gente que pode ouvir suas perguntas capciosas e dar respostas de muito charme evasivo.
Madonna, todos deduziram, estava ali para vender um disco chamado "Ray of Light" ou coisa parecida. Nunca para desvendar segredos amorosos ou apenas vaginais.
A Mulher Traço em seu fluente inglês latino-saxônico elaborava perguntas no mais íntimo tom de uma confidência feminina. Madonna ouvia atônita e/ou impassível o dialeto verborrágico. Quando sentia que uma interrogação estava no ar, perguntava "qual a pergunta?".
A Mulher Traço, totalmente demolida, tentava o que sempre lhe foi tão difícil, isto é, ser concisa. Com um máximo de cinco palavras eliminadas, voltava a pergunta. Madonna reassumia o tom de quem percebe mais um borzeguim em seu leito e expulsava a curiosa. "Não falo desses assuntos."
Marília Gabriela não queria se desfigurar diante dos carinhosos que ainda preferem chamá-la de Gabi e escondeu a Mulher Traço na exibição de um clipe.
Foi um clipe cá, um clipe lá, e o telespectador, já logrado, se sentia como aquele passarinho no fubá.
Mesmo assim, a Mulher Traço não mudava o tom de suas perguntas. Coitadinha, ela não tem outro. Estava certa de que iria direto ao coração da Madonna e que as duas ainda iriam acabar muito amigas.
Mas Madonna não tem coração. Tem conta no banco. Quem tem coração é a carcamana de nome esquecido ou desconhecido pelos fãs.
Madonna, a entrevistada, é mulher de "yes" ou "no". Deve ter feito o maior esforço, durante a entrevista, para não ser também mulher de "shit, fuck this Lady Dash". Espera-se que a Mulher Traço tenha aprendido que informalidade é um fenômeno apenas tropical.
Portanto, quando for reclamar do André, lembre-se de que agora ele é Mr. Midani. E a culpa não foi dele. Só dela. "Like a prayer".



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