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CRÍTICA
Boa história sobrevive a maneirismos de câmera
da Reportagem Local
"Olhos de Serpente" é um intrincado filme policial, cheio de reviravoltas na trama e acrobacias cinematográficas. Afinal, é um filme de
Brian DePalma, com tudo o que isso tem de bom e de ruim.
Dessa vez o cineasta teve uma
boa história nas mãos, um avanço
em relação a seus filmes mais recentes. "Missão Impossível", por
exemplo, tinha roteiro desastroso.
Nicolas Cage ganhou um personagem bem a seu gosto: extrovertido, grosseiro, meio burro e cheio
de pretensão. Rick Santoro é um
policial corrupto, que tira dinheiro
de bandidos pés-de-chinelo para
sustentar a família e a amante.
Numa noite de chuva torrencial
em Atlantic City, Santoro está excitadíssimo. Apostou US$ 5.000
num campeão mundial de boxe
dos pesados, que defenderá seu título no ringue montado num dos
hotéis da cidade. Além disso, o policial garantiu um lugar na primeira fila para ver a luta de perto.
Quem arrumou ingresso tão privilegiado para Santoro foi seu melhor amigo, Kevin Dunne, um oficial da Marinha que está encarregado da segurança do local. E o lugar está coalhado de seguranças, já
que o ministro da Defesa resolveu
acompanhar o combate ao vivo.
Ali, no meio de uma multidão
enlouquecida que aplaude uma
surpreendente derrota do campeão, o ministro leva um tiro. A
confusão é geral, e Santoro assume
a investigação para ajudar o amigo. Com o pânico controlado, o
público fica retido no hotel, enquanto o policial vai atrás de duas
mulheres misteriosas que estavam
próximas ao ministro e também
investiga os teipes das câmaras do
circuito interno de TV.
A cada passo das investigações,
Santoro encontra mais gente envolvida na trama -até o próprio
ex-campeão. Cada novo testemunho mostra as mesmas sequências
que o espectador já viu, mas carregadas de sutis diferenças, dependendo de quem conta a história.
Os ecos de "Rashomon", de Akira Kurosawa, são evidentes, mas é
só mais uma referência cinéfila do
caldeirão habitual de DePalma.
Nos primeiros 20 minutos do filme, a câmera acompanha Santoro
em suas andanças pelo hotel, sem
um único corte de imagem. O longo plano-sequência lembra os de
"Festim Diabólico", de Hitchcock,
outra obsessão de DePalma.
O diretor parece ter encontrado
um bom ponto entre a fanfarrice
de Cage e o estilo contido de Gary
Sinise, que interpreta Dunne. A
boa química dos atores e o roteiro
inteligente salvam o filme, que correu grande risco de afundar nos intermináveis maneirismos de câmera. Seu domínio completo da
imagem na tela acaba sendo uma
armadilha para DePalma.
Louvado pela crítica que vê genialidade em seus enquadramentos esquisitões, DePalma é um cineasta tão fanfarrão quanto o tira
Rick Santoro.
(THALES DE MENEZES)
²
Filmes: Olhos de Serpente
Produção: EUA, 1997, 96 min.
Direção: Brian DePalma
Com: Nicolas Cage, Gary Sinise
Quando: a partir de hoje, no cine
Aricanduva 2 e circuito
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