São Paulo, sexta, 25 de setembro de 1998

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CRÍTICA
Boa história sobrevive a maneirismos de câmera

da Reportagem Local

"Olhos de Serpente" é um intrincado filme policial, cheio de reviravoltas na trama e acrobacias cinematográficas. Afinal, é um filme de Brian DePalma, com tudo o que isso tem de bom e de ruim.
Dessa vez o cineasta teve uma boa história nas mãos, um avanço em relação a seus filmes mais recentes. "Missão Impossível", por exemplo, tinha roteiro desastroso.
Nicolas Cage ganhou um personagem bem a seu gosto: extrovertido, grosseiro, meio burro e cheio de pretensão. Rick Santoro é um policial corrupto, que tira dinheiro de bandidos pés-de-chinelo para sustentar a família e a amante.
Numa noite de chuva torrencial em Atlantic City, Santoro está excitadíssimo. Apostou US$ 5.000 num campeão mundial de boxe dos pesados, que defenderá seu título no ringue montado num dos hotéis da cidade. Além disso, o policial garantiu um lugar na primeira fila para ver a luta de perto.
Quem arrumou ingresso tão privilegiado para Santoro foi seu melhor amigo, Kevin Dunne, um oficial da Marinha que está encarregado da segurança do local. E o lugar está coalhado de seguranças, já que o ministro da Defesa resolveu acompanhar o combate ao vivo.
Ali, no meio de uma multidão enlouquecida que aplaude uma surpreendente derrota do campeão, o ministro leva um tiro. A confusão é geral, e Santoro assume a investigação para ajudar o amigo. Com o pânico controlado, o público fica retido no hotel, enquanto o policial vai atrás de duas mulheres misteriosas que estavam próximas ao ministro e também investiga os teipes das câmaras do circuito interno de TV.
A cada passo das investigações, Santoro encontra mais gente envolvida na trama -até o próprio ex-campeão. Cada novo testemunho mostra as mesmas sequências que o espectador já viu, mas carregadas de sutis diferenças, dependendo de quem conta a história.
Os ecos de "Rashomon", de Akira Kurosawa, são evidentes, mas é só mais uma referência cinéfila do caldeirão habitual de DePalma. Nos primeiros 20 minutos do filme, a câmera acompanha Santoro em suas andanças pelo hotel, sem um único corte de imagem. O longo plano-sequência lembra os de "Festim Diabólico", de Hitchcock, outra obsessão de DePalma.
O diretor parece ter encontrado um bom ponto entre a fanfarrice de Cage e o estilo contido de Gary Sinise, que interpreta Dunne. A boa química dos atores e o roteiro inteligente salvam o filme, que correu grande risco de afundar nos intermináveis maneirismos de câmera. Seu domínio completo da imagem na tela acaba sendo uma armadilha para DePalma.
Louvado pela crítica que vê genialidade em seus enquadramentos esquisitões, DePalma é um cineasta tão fanfarrão quanto o tira Rick Santoro. (THALES DE MENEZES) ²
Filmes: Olhos de Serpente Produção: EUA, 1997, 96 min. Direção: Brian DePalma Com: Nicolas Cage, Gary Sinise Quando: a partir de hoje, no cine Aricanduva 2 e circuito


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