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ANÁLISE
DePalma tem lugar entre os consagrados
NELSON ASCHER
da Equipe de Articulistas
Brian DePalma, cujo "Olhos de
Serpente", com Nicolas Cage e
Gary Sinise, estréia hoje em São
Paulo, dirigiu alguns dos melhores
filmes de suspense das três últimas
décadas e, se não chegou a se tornar um mestre consumado do gênero como Alfred Hitchcock, pode-se pelo menos dizer que é seu
discípulo mais aplicado.
Muitas de suas tramas são variações, combinações ou paródias de
temas hitchcockianos. Por exemplo, o ponto de partida de "Trágica
Obsessão" é "Um Corpo Que Cai"
e o de "Dublê de Corpo", "Janela
Indiscreta". Citações e homenagens ao seu inspirador aparecem
não só nas tramas, mas também
nas menores dobras do celulóide
depalmiano.
Não é só disso, porém, que se
compõem seus filmes. Ao contrário do diretor de "Psicose", DePalma deixou frequentemente o âmbito mais ou menos realista daquele para se aventurar no horror puro e simples, como em "Carrie, a
Estranha".
Ele amalgamou gêneros aparentemente imiscíveis até então (a espionagem e o sobrenatural, em "A
Fúria") ou histórias distintas
("Fausto" e "O Fantasma da Ópera", em "O Fantasma do Paraíso",
que é, além disso, um musical de
terror). E realizou também remakes bem-sucedidos: "Scarface",
"Os Intocáveis".
Sua marca registrada, no entanto, é divertir-se com o que o cinema tem de ficcional, de ilusório, de
truque, de "trompe l'oeil", em uma
palavra, de cinematográfico. Se há
um recurso que ele elegeu como favorito é o de primeiro mostrar
quase didaticamente como é que
um filme pode assustar a platéia e,
a despeito disso, assustá-la logo
em seguida.
Mais do que metacinema (ou seja, cinema sobre o cinema), o que
Brian DePalma pratica é um tipo
de humor que, além de atenção do
grande público, traz-lhe também a
dos cinéfilos.
²
Fases
Sua carreira se divide em três fases: os filmes barrocos e grotescos
dos anos 70 ("Carrie", "O Fantasma" etc.); sua trilogia da primeira
metade dos anos 80 ("Vestida para
Matar", "Blow Out" e "Dublê de
Corpo"), filmes de orçamento relativamente baixo que, usando os
recursos de modo intricado, preciso e lacônico, talvez sejam sua
principal contribuição ao cinema;
e finalmente as superproduções
("Os Intocáveis", "Missão Impossível" etc.).
Pouca gente diria que o cinema
americano se encontra em sua fase
mais robusta ou saudável. E seu lamentável estado atual se deve, paradoxalmente, a um excesso de
verbas. Quando, ultrapassando orçamentos de US$ 100 milhões, um
filme não é mais feito por uma
grande empresa, mas é ele mesmo
uma megaempresa, a necessidade
de minimizar riscos leva os produtores a investirem no previsível
hardware tecnológico, sobretudo
efeitos especiais, em detrimento de
qualquer espécie imprevisível de
software humano.
Embora sua melhor fase seja coisa do passado, DePalma, mesmo
recorrendo aos efeitos especiais
(por exemplo, a grande cena do
helicóptero "perseguindo" o trem
no túnel em "Missão Impossível"),
tem seu lugar garantido entre os
bons cineastas de hoje, porque não
abriu mão daquilo que realmente
assegura a qualidade cinematográfica: boas idéias, bons roteiros e
bons atores.
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