|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CINEMA FESTIVAL DO JAPÃO
Documentaristas celebram o próprio gênero
AMIR LABAKI
enviado especial a Yamagata
A celebração do documentário
como gênero, nesta sexta edição
do Festival Internacional de Yamagata, vai muito além dos prêmios que serão revelados na noite
de hoje. Produções que homenageiam a própria tradição do documentário estão entre as grandes
atrações do evento.
O filme de abertura, "Filmagens
e o Caminho para a Cidade", já
adiantava a tendência. Rodado há
25 anos por Fukuda Katsuhiko,
"Filmagens" foi concebido por
um dos mestres do documentário
japonês do pós-guerra, Ogawa
Shinsuke (1936-1992), como uma
visão dos bastidores de uma de
suas produções, "Narita: Heta Village". A idéia era registrar o método cooperativo de trabalho desenvolvido pela Ogawa Productions.
Apesar da liderança de Ogawa,
os integrantes de sua equipe de filmagem não se limitavam à colaboração técnica. O resultado de
cada dia de produção era discutido por todos. Filme pronto, os
créditos elencavam indistintamente os nomes dos profissionais
envolvidos, Ogawa incluído.
"Filmagens" não resiste como
obra autônoma - reporta a discussões que demandam o conhecimento de "Narita"-, mas
constitui um valioso documento
de um momento áureo do documentário nipônico recente.
Muito mais poderoso é "Cinéma Vérité: Defining the Moment". O canadense Peter Wintonick, o mesmo de "Manufacturing Consent" (1992), faz aqui um
balanço sintético da revolucionária escola de documentaristas que
deu novo fôlego ao gênero a partir
de fins da década de 50.
Todos os expoentes do que ficou conhecido como "Cinema
Vérité", na França, e "Cinema Direto", nos EUA, depõem hoje dispersos pelo mundo inteiro. O decano Richard Leacock resume as
regras básicas: câmera na mão,
nada de tripé, nada de luz artificial, nenhuma entrevista, nenhuma ação posada.
Os resultados são clássicos como "Primary", sobre a campanha
presidencial de Kennedy, "Don't
Look Back", sobre o jovem Bob
Dylan, e "Chronique dún Été",
em que Jean Rouch e Edgar Morin devassam a Paris dos anos 60.
A discussão sobre os elos entre a
história do gênero e a produção
atual marca ainda "The Last Documentary", realizado por dois
estudantes de cinema de Munique, Daniel D. Sponsel e Jan Sebening. Eles tentam fazer um balanço da atual fase do documentário
a partir de uma estrutura fragmentária montada com trechos
de clássicos e de filmes e vídeos
domésticos, além de depoimentos de documentaristas da dimensão de Johan van der Keuken e
Werner Herzog.
Por fim, a competição apresenta
ainda "Accelerated Development", do norte-americano Travis Wilkerson. Trata-se de uma
homenagem ao maior documentarista cubano, Santiago Alvarez
(1919-1998). Para além do debate
ideológico, começa-se a fazer justiça à originalidade do cinema de
Alvarez. Já não era sem tempo.
O jornalista Amir Labaki viajou a Yamagata
a convite da organização do festival
Texto Anterior: VHS Próximo Texto: Zhang Yuan: Yuan traz subversão às telas da China Índice
|