São Paulo, Segunda-feira, 25 de Outubro de 1999
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CINEMA FESTIVAL DO JAPÃO

Documentaristas celebram o próprio gênero


AMIR LABAKI
enviado especial a Yamagata

A celebração do documentário como gênero, nesta sexta edição do Festival Internacional de Yamagata, vai muito além dos prêmios que serão revelados na noite de hoje. Produções que homenageiam a própria tradição do documentário estão entre as grandes atrações do evento.
O filme de abertura, "Filmagens e o Caminho para a Cidade", já adiantava a tendência. Rodado há 25 anos por Fukuda Katsuhiko, "Filmagens" foi concebido por um dos mestres do documentário japonês do pós-guerra, Ogawa Shinsuke (1936-1992), como uma visão dos bastidores de uma de suas produções, "Narita: Heta Village". A idéia era registrar o método cooperativo de trabalho desenvolvido pela Ogawa Productions.
Apesar da liderança de Ogawa, os integrantes de sua equipe de filmagem não se limitavam à colaboração técnica. O resultado de cada dia de produção era discutido por todos. Filme pronto, os créditos elencavam indistintamente os nomes dos profissionais envolvidos, Ogawa incluído.
"Filmagens" não resiste como obra autônoma - reporta a discussões que demandam o conhecimento de "Narita"-, mas constitui um valioso documento de um momento áureo do documentário nipônico recente.
Muito mais poderoso é "Cinéma Vérité: Defining the Moment". O canadense Peter Wintonick, o mesmo de "Manufacturing Consent" (1992), faz aqui um balanço sintético da revolucionária escola de documentaristas que deu novo fôlego ao gênero a partir de fins da década de 50.
Todos os expoentes do que ficou conhecido como "Cinema Vérité", na França, e "Cinema Direto", nos EUA, depõem hoje dispersos pelo mundo inteiro. O decano Richard Leacock resume as regras básicas: câmera na mão, nada de tripé, nada de luz artificial, nenhuma entrevista, nenhuma ação posada.
Os resultados são clássicos como "Primary", sobre a campanha presidencial de Kennedy, "Don't Look Back", sobre o jovem Bob Dylan, e "Chronique dún Été", em que Jean Rouch e Edgar Morin devassam a Paris dos anos 60. A discussão sobre os elos entre a história do gênero e a produção atual marca ainda "The Last Documentary", realizado por dois estudantes de cinema de Munique, Daniel D. Sponsel e Jan Sebening. Eles tentam fazer um balanço da atual fase do documentário a partir de uma estrutura fragmentária montada com trechos de clássicos e de filmes e vídeos domésticos, além de depoimentos de documentaristas da dimensão de Johan van der Keuken e Werner Herzog.
Por fim, a competição apresenta ainda "Accelerated Development", do norte-americano Travis Wilkerson. Trata-se de uma homenagem ao maior documentarista cubano, Santiago Alvarez (1919-1998). Para além do debate ideológico, começa-se a fazer justiça à originalidade do cinema de Alvarez. Já não era sem tempo.


O jornalista Amir Labaki viajou a Yamagata a convite da organização do festival


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